Sátira racial travestida de horror movie com pouca sátira e muito travesti
Como filme a fingir que é de “género”, Foge faz o que pode, que não é muito, e acaba por cair em defeitos banais.
Uma sátira racial, travestida de horror movie (ligeirinho) ou ficção científica paranóica à moda dos anos 50 (mas de efeito bem mais controlado e neutralizado), que ganharia se Jordan Peele se tivesse concentrado menos no travesti e mais na sátira: as relações entre pretos e brancos na América (post-Obama, como o filme cuidadosamente sinaliza, aliás se há coisa em que ele não se faz rogado é em oferecer “pistas de leitura”), o medo e o fascínio que uns exercem sobre os outros e reciprocamente.
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Uma sátira racial, travestida de horror movie (ligeirinho) ou ficção científica paranóica à moda dos anos 50 (mas de efeito bem mais controlado e neutralizado), que ganharia se Jordan Peele se tivesse concentrado menos no travesti e mais na sátira: as relações entre pretos e brancos na América (post-Obama, como o filme cuidadosamente sinaliza, aliás se há coisa em que ele não se faz rogado é em oferecer “pistas de leitura”), o medo e o fascínio que uns exercem sobre os outros e reciprocamente.
As melhores cenas — que são quase “comédia” — têm que ver com isso, como a garden party que é como o mundo de E Tudo o Vento Levou subitamente interessado na “experiência afro-americana” (palavras do filme).
Como filme a fingir que é de “género”, Foge faz o que pode, que não é muito, e acaba por cair em defeitos banais, como a desonestidade no tratamento das personagens (no sentido em que por exemplo Hitchcock, no Psico, pode-nos ter ocultado uma parte da verdade sobre Norman Bates mas nunca nos mentiu sobre ele). Sobretudo depois de juntar as peças do puzzle e ter a alegoria completa, Jordan Peele percebe que a história ainda não acabou mas, claro, tem que ser contada até ao fim. E assim acontece, em dez minutos finais mecânicos e sem mistério nenhum.