Valls quer ser candidato de Macron e anuncia a “morte do PS”

O antigo primeiro-ministro, que foi percursor da renovação do Partido Socialista, aposta na nova maioria presidencial. Mas vai enfrentar muitos obstáculos para ser reeleito deputado.

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Macron com Valls; o Presidente eleito foi ministro da economia do socialista Reuters

Manuel Valls anunciou nesta terça-feira que será “candidato da maioria presidencial às legislativas”. O antigo primeiro-ministro de François Hollande sentenciou: “O Partido Socialista morreu, ficou para trás, não a sua história e os seus valores, mas deve superar-se.” Disse aos militantes: “Hoje, o essencial é dar uma maioria larga e coerente (...) para que Emmanuel Macron possa governar.” Depois de ter apelado ao voto em Macron na primeira volta das presidenciais, assina agora a certidão de óbito do seu partido.

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Manuel Valls anunciou nesta terça-feira que será “candidato da maioria presidencial às legislativas”. O antigo primeiro-ministro de François Hollande sentenciou: “O Partido Socialista morreu, ficou para trás, não a sua história e os seus valores, mas deve superar-se.” Disse aos militantes: “Hoje, o essencial é dar uma maioria larga e coerente (...) para que Emmanuel Macron possa governar.” Depois de ter apelado ao voto em Macron na primeira volta das presidenciais, assina agora a certidão de óbito do seu partido.

Mas a sua candidatura não é ainda segura. O movimento República em Marcha, de Macron, informou que já havia sido escolhida uma candidata para o círculo de Valls, Evry (Sueste de Paris) e que, como todos os candidatos, ele se deveria inscrever, via Internet, para o movimento tomar uma decisão. A declaração de Valls foi recebida de forma fria por alguns responsáveis do movimento, que apostam na renovação do pessoal político. Mas outros sublinharam o forte significado da adesão de um antigo-primeiro-ministro. A decisão poderá tomada nesta quarta-feira e prevê-se que Macron seja chamado a arbitrar.

Valls, enquanto ministro do Interior e primeiro-ministro, propôs uma revisão radical do programa do PS, uma aliança preferencial com o centro e, inclusive, a mudança de nome do partido. Avisou: “A esquerda pode morrer” se continuar agarrada ao mundo do passado e não responder aos novos desafios. Mas, ao contrário de Macron, não cortou o cordão umbilical com o PS, concorreu às primárias e foi vencido por Benoît Hamon. Hoje, a sua reeleição não é segura.

A sua ruptura tem peso simbólico. Enterra o Partido Socialista fundado por Mitterrand no congresso de Epinay e que assentava na coexistência entre um “socialismo de contestação” e um “socialismo de governo”. François Hollande foi o derradeiro, e fracassado, árbitro desta tensão.

O anúncio de Valls aumentou a confusão na sede do PS, onde se realizava na terça-feira uma reunião do Bureau nacional para aprovar a plataforma eleitoral e os candidatos. Mas Valls foi o centro das atenções. Para lá das acusações, de “carreirismo” a “oportunismo”, houve dirigentes que propuseram uma candidatura única de esquerda em Evry para derrotar Valls a qualquer preço. Evry é um círculo em que a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, é muito forte e pode vencer.

A direcção do PS improvisou um programa eleitoral que afasta algumas das medidas de Hamon e dá prioridade ao combate às principais reformas de Macron. Mas o PS parece irremediavelmente fracturado em facções irreconciliáveis. A sua fraqueza depois das presidenciais torna impossível qualquer negociação com Mélenchon. Este exige que todas as listas de esquerda tenham a marca da França Insubmissa. Apenas aceita uma rendição do PS.

Marion renuncia

Enquanto se aguarda a investidura do novo Presidente, no domingo, e o anúncio do nome do primeiro-ministro, as atenções centram-se na abertura da campanha eleitoral, no dia 22. A sorte do projecto de Macron joga-se nas legislativas de 11 e 18 de Maio. Há muitas especulações sobre nomes. A escolha de Macron não é fácil pois o primeiro-ministro tem de saber executar o seu programa e ganhar as eleições.

Macron quer fazer aprovar rapidamente no actual Parlamento algumas reformas prioritárias, como o projecto de lei de “moralização da vida pública”, que tem a aprovação de mais de 80% dos franceses, e medidas relativas ao combate ao terrorismo. As reformas mais espinhosas, como a do mercado do trabalho, ficam para o Outono.

Ao fim da tarde, rebentou outra pequena “bomba”. Marion Maréchal-Le Pen, deputada da Frente Nacional (FN), informou a sua tia Marine Le Pen de que renuncia à vida política e a todos os cargos que exerce, não se candidatando à legislativas. Vai trabalhar no sector privado. Muito próxima do seu avô, Jean-Marie Le Pen, não escondeu a falta de entusiasmo pelo projecto de renovação da FN que Marine anunciou.

De resto, a FN continua em efervescência na sequência das presidenciais e do falhanço da estratégia de ir buscar votos à direita e à extrema-esquerda. As iniciais expectativas da FN — eleger entre 60 e 100 deputados — terão sido revistas em baixa. O partido tenciona concentrar a campanha em 111 círculos onde espera obter bons resultados, apostando em eleger um mínimo de 45 deputados. Tentará capitalizar a sua recente aliança com Nicolas Dupont-Aignan. E voltará a propor acordos de desistência mútua aos sectores mais radicais da direita para neutralizar a “frente anti-Le Pen”.