Temperaturas globais podem subir 1,5 graus em menos de uma década
O pessimismo dos investigadores australianos prende-se com a chamada Oscilação Interdecadal do Pacífico (OIP), uma oscilação da temperatura da superfície do oceano semelhante ao fenómeno "El Niño" mas de muito mais longa duração.
As temperaturas globais podem subir 1,5 graus em menos de uma década, contrariando as aspirações consagradas no Acordo de Paris sobre redução de emissões alcançado em 2015, alertam especialistas australianos num estudo publicado esta segunda-feira.
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As temperaturas globais podem subir 1,5 graus em menos de uma década, contrariando as aspirações consagradas no Acordo de Paris sobre redução de emissões alcançado em 2015, alertam especialistas australianos num estudo publicado esta segunda-feira.
Na "cimeira do clima" realizada na capital francesa em 2015 a comunidade internacional comprometeu-se a tomar medidas para limitar o aumento das temperaturas médias a menos de dois graus, de preferência a menos 1,5 graus, em relação à era industrial, mas essa barreira dos 1,5 graus pode ser quebrada já em 2026, segundo a investigação da Universidade de Melbourne publicada na revista científica Geophysical Research Letters.
O pessimismo dos investigadores prende-se com a chamada Oscilação Interdecadal do Pacífico (OIP), uma oscilação da temperatura da superfície do oceano semelhante ao fenómeno "El Niño" mas de muito mais longa duração.
Diz-se no estudo que esse controlador natural do clima que funciona de forma lenta terá mudado para uma fase positiva e que por isso vai levar a uma aceleração do aquecimento global na próxima década.
Desde 1999 que a OIP está em fase negativa mas os recordes de temperaturas consecutivos dos anos 2014, 2015 e 2016 levaram os especialistas em clima a admitir que houve uma mudança. No passado as fases positivas coincidiram com uma aceleração do aquecimento global.
"Mesmo que a OIP se mantenha na fase negativa, a nossa investigação mostra que provavelmente veremos as temperaturas globais a quebrarem a barreira dos 1,5 graus até 2031", disse o autor principal do trabalho, Ben Henley, acrescentando que a única solução seria os governos reduzirem as emissões de gases com efeito de estufa mas também retirarem carbono da atmosfera.
Diz-se no trabalho agora publicado que a OIP tem um impacto muito grande o clima e que é uma alavanca natural poderosa que muda de forma lenta em períodos de 10 a 30 anos. Na fase positiva as temperaturas do oceano Pacífico são excepcionalmente quentes e a norte e a sul dessa região são excepcionalmente frias. Na fase negativa acontece o contrário.
No passado, assistiu-se a OIP positivas entre 1925 e 1946 e depois entre 1977 e 1988, períodos com aumentos rápidos das temperaturas médias globais. O mundo experimentou o contrário numa fase negativa prolongada entre 1947 e 1976.
Uma característica marcante da fase negativa da OIP deste século é que as temperaturas médias continuaram a aumentar, embora de forma mais lenta. Segundo os especialistas na fase positiva esse abrandamento será corrigido e pode ser de esperar uma aceleração do aquecimento nas próximas décadas.
Delegações de 196 países começaram hoje em Bona a discutir a forma de na prática limitar o aquecimento global, seis meses depois da eleição de Donald Trump para Presidente dos Estados Unidos, que ameaçou retirar o país do acordo assinado em Paris em Dezembro de 2015.
Nessa altura, a comunidade internacional comprometeu-se a limitar o aumento das temperaturas, que pode chegar aos três graus se nada for feito.
Esta segunda-feira, quando começaram as reuniões técnicas sobre as regras de aplicação do acordo, nos corredores do centro de conferências especulava-se sobre a saída ou manutenção dos Estados Unidos.