Ser primeiro-ministro de Le Pen não é fácil, mas muitos querem ser o de Macron

A candidata da Frente Nacional anunciou o nome de quem chefiará o governo, se ganhar, enquanto Emmanuel Macron mantém o segredo. O escolhido por Marine está a ser alvo de uma chuva de críticas.

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Dupont-Aignan com Marine Le Pen EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

Desde que Nicolas Dupont-Aignan anunciou que apoiava Marine Le Pen na candidatura à presidência, no sábado, que os munícipes de Yerres, a câmara a que este político nacionalista, que se reivindica da herança gaulista, preside desde 1995 se revoltaram contra o seu maire. Centenas de pessoas desta povoação de cerca de 29 mil habitantes nos arredores de Paris têm-se manifestado diariamente frente à câmara municipal, a gritar palavras de ordem contra Dupont-Aignan, a quem Le Pen prometeu nomear primeiro-ministro, se ganhar a segunda volta das presidenciais, no domingo.

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Desde que Nicolas Dupont-Aignan anunciou que apoiava Marine Le Pen na candidatura à presidência, no sábado, que os munícipes de Yerres, a câmara a que este político nacionalista, que se reivindica da herança gaulista, preside desde 1995 se revoltaram contra o seu maire. Centenas de pessoas desta povoação de cerca de 29 mil habitantes nos arredores de Paris têm-se manifestado diariamente frente à câmara municipal, a gritar palavras de ordem contra Dupont-Aignan, a quem Le Pen prometeu nomear primeiro-ministro, se ganhar a segunda volta das presidenciais, no domingo.

“Dupont, vergonha”, é uma das palavras de ordem do protesto. Há quem tenha feito T-shirts a dizer “Ele vai votar Le Pen, eu não”, relata o Le Monde.

Se Dupont-Aignan foi eleito com uma votação superior a 75% nas municipais em Yerres, e enquanto candidato à presidência obteve 28,62% dos votos expressos dos habitantes do município na primeira volta das presidenciais, a 23 de Abril, Marine Le Pen só teve ali 10,72%. Não houve propriamente uma vaga de apoio à candidata da extrema-direita. “Yerres não é uma cidade da Frente Nacional, vergonha para o presidente da câmara”, grita-se nos protestos, em que muitas pessoas têm a palavra “traição nos lábios”, relata o diário francês,

Mas o presidente da câmara, que lidera um pequeno partido soberanista, Debout la France, tratou os seus munícipes descontentes com a mesma tom de desprezo que tem dedicado aos que criticam a sua aliança com Marine Le Pen: chamou-lhes “idiotas do sistema”.

Exige respeito pela “sua escolha” e contra-ataca. “Todos esses esquerdistas que vêm em autocarros protestar frente à minha câmara fariam melhor em protestar contra o senhor [Emmanuel] Macron, que vai fazer outra lei do trabalho. São os idiotas úteis do sistema”, declarou, em entrevista ao diário Le Parisien.

“Ainda há pouco tempo ele dizia que era incompatível com a Frente Nacional. É um oportunista, um vendido”, queixa-se uma munícipe de Yerres, repetindo as palavras que Dupont-Aignan usou até ao fim da campanha das presidenciais. Este  ex-membro da RPR e da UMP - os grandes partidos do centro-direita alinhados com o ideal do exercício do poder inspirado pelo general De Gaulle, que estão na origem do actual Os Republicanos - tem muitas contas a ajustar com a direita tradicional francesa, e tem disparado em todos os sentidos contra as críticas que lhe fazem por se ter aliado a Marine Le Pen.

Conseguiu até irritar o neto do general herói da II Guerra que foi Presidente da República - Yves de Gaulle enviou um artigo de opinião à AFP, criticando os que abusam da herança histórica do seu avô nesta campanha.

Embora o seu novo aliado tenha introduzido ainda mais ambiguidade na posição de Marine Le Pen relativamente ao euro - Dupont-Aignan não é partidário de uma saída -, a candidata da Frente Nacional fez do anúncio de que ele seria o seu o seu primeiro-ministro, se ganhar as eleições, mais uma arma de arremesso contra Emmanuel Macron. Para Le Pen, é uma questão de “transparência” dizer antecipadamente quem é a sua escolha; se Macron não o diz também, insinua, “o que está a esconder?”

O candidato centrista e independente recusa a parada. “Os franceses não elegem um ticket presidencial, como nos Estados Unidos”, disse em entrevista à televisão BFMTV. “Tenho dois cenários na cabeça, um ou dois perfis, uma escolha entre um homem e uma mulher, mas não vou dizer nada antes”, foi tudo o que avançou Macron.

A possível escolha de uma mulher para o cargo de primeira-ministra é muito falada - até porque Macron insiste muito no cumprimento rigoroso da paridade. Fala-se de vários nomes, alguns dos quais criaram vasta polémica, como a ex-presidente do MEDEF, o órgão de representação dos patrões franceses, Laurence Parisot. Mas a estrela de Parisot empalideceu, dizem vários media, porque ela não se coibiu de comentar a sua própria ambição, dizendo estar “pronta”, se lhe fosse oferecido esse cargo.

Além de Parisot, muitos outros nomes são discutidos como hipotéticas escolhas de Macron, desde Jean-Louis Borloo, o centrista ex-ministro da Ecologia de Nicolas Sarkozy; Gérard Collomb, presidente da Câmara de Lyon, a segunda maior cidade francesa e apoiante de primeira hora do candidato; François Bayrou, líder do partido centrista MODEM ou até a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde. Há vários outros nomes em liça, menos conhecidos internacionalmente mas que, na bolsa de apostas política, até têm mais hipóteses de serem os escolhidos por Macron, pois correspondem melhor à promessa de renovação de rostos e políticas do candidato.