Aos 95 anos Filipe retira-se do palco, Isabel II continua
Marido da rainha de Inglaterra deixará de ter uma agenda oficial. Caberá ao príncipe Carlos e à terceira geração assumir cada vez mais as tarefas da monarquia.
Bastou a notícia de que os altos responsáveis da Casa Real britânica tinham sido chamados para uma reunião não agendada no Palácio de Buckingham para desatar os rumores – contidos há anos por respeito à rainha, mas cada vez mais sonoros perante a idade da monarca, de 91 anos. Isabel II continuará as suas funções, como sempre disse que o faria, mas a partir de Setembro deixará de contar com a presença do marido, o príncipe Filipe, prestes a completar 96 anos e que anunciou agora que vai abdicar dos compromissos públicos.
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Bastou a notícia de que os altos responsáveis da Casa Real britânica tinham sido chamados para uma reunião não agendada no Palácio de Buckingham para desatar os rumores – contidos há anos por respeito à rainha, mas cada vez mais sonoros perante a idade da monarca, de 91 anos. Isabel II continuará as suas funções, como sempre disse que o faria, mas a partir de Setembro deixará de contar com a presença do marido, o príncipe Filipe, prestes a completar 96 anos e que anunciou agora que vai abdicar dos compromissos públicos.
O tempo é cada vez mais de mudança geracional, com uma crescente transferência de tarefas tanto para o príncipe Carlos, o herdeiro há 68 anos e à espera de subir ao prometido trono, como para os filhos deste. O príncipe de Gales representa já a mãe em várias cerimónias oficiais, incluindo nas cimeiras da Commonwealth, depois de em 2013 Isabel II e o marido terem decidido abdicar das viagens ao estrangeiro. No Verão, William abandonará o trabalho como piloto de ambulâncias de emergência, para se dedicar a tempo inteiro às tarefas da Casa Real, devendo assumir boa parte do papel até agora desempenhado pelo avô.
“O duque de Edimburgo é patrono, presidente e membro de mais de 780 organizações, às quais vai continuar ligado, embora deixe de desempenhar um papel activo”, sublinha o Palácio de Buckingham, no comunicado em que anuncia que Filipe, “com o total apoio da rainha” decidiu que não aceitará mais convites para participar em visitas e cerimónias a partir de Setembro.
Não será um adeus completo à vida pública – “ele poderá decidir participar em alguns eventos públicos, de tempos a tempos”, adianta a nota – e várias fontes asseguram que a decisão não está relacionada com problemas de saúde, apesar de três internamentos entre 2011 e 2013. Mas para trás ficará a agenda ainda carregada (só no ano passado foram 110 dias com compromissos públicos, muito acima dos netos, William e Harry) e sobretudo a imagem pública do casal real com a qual os britânicos convivem há 65 anos, tantos quanto o já recordista reinado de Isabel II.
A rainha, por seu lado, “vai continuar a desempenhar a totalidade dos seus compromissos oficiais, com o apoio da família real”. Uma afirmação que reafirma o seu desejo de levar o cargo até ao fim – “este é um trabalho para a vida”, disse à BBC em 1992 –, ao mesmo tempo que confia mais tarefas aos herdeiros. Uma gripe, no último Natal, obrigou-a a duas semanas de ausência forçada e desde então a sua agenda foi aligeirada. A Casa Real anunciou também que após as legislativas de Junho, Isabel II irá reabrir o Parlamento sem a pompa habitual – o que acontece pela primeira vez em 40 anos –, mas insiste que as alterações nada tem a ver com a saúde da monarca.
“Descerrador de placas”
Filipe, descendente da Casa Schleswig-Holstein-Sonderburg-Glücksburg, que deu origem a várias dinastias europeias, nasceu na Grécia em 1921, mas deixou o país quando o pai, André da Grécia e da Dinamarca, foi expulso do país, tinha ele 18 meses. No exílio a família dissolveu-se: a mãe, com esquizofrenia, foi internada compulsivamente; o pai entregou-o aos cuidados de familiares. Viveu em França, em Inglaterra e na Alemanha, onde casaram as suas quatro irmãs, mas foi na Marinha britânica que lutou durante a II Guerra Mundial – do outro lado combatiam dois cunhados.
Para casar com a então princesa Isabel, sua prima afastada, Filipe abdicou dos títulos reais grego e dinamarquês, naturalizando-se britânico e o adoptando o apelido Mountbatten, dos seus avôs maternos. Em 1952, a morte prematura de George VI, conduziu Isabel ao trono e Filipe ao lugar de príncipe consorte, embora oficialmente tenha recebido apenas o título de duque de Edimburgo.
“Ele tem sido, muito simplesmente, a minha força e o meu esteio ao longo destes anos”, disse Isabel II num raro elogio ao marido, em 1997, quando celebraram os 50 anos de casados – completam 70 em Novembro. De estilo directo, por vezes brusco, por vezes divertido, Filipe tornou-se também famoso pelas gaffes – tantas que em 2005 dois jornalistas britânicos lhe dedicaram um livro. Conta a Reuters que Buckingham não gostou, mas Filipe mantém o estilo: “Sou o descerrador de placas mais experiente em todo o mundo”, brincou na quarta-feira, ao inaugurar um campo de críquete.