Legalização da Uber entra no segundo round
Comissão parlamentar prepara ronda de audições antes da votação. Justiça dá empurrão aos táxis, cuja maior concentração está no concelho de Lisboa.
Os deputados da Comissão Parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas vão começar a ouvir as personalidades ligadas ao sector dos táxis e seus novos concorrentes, a Uber e a Cabify, para avançar finalmente com a legalização das plataformas electrónicas de transporte.
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Os deputados da Comissão Parlamentar de Economia, Inovação e Obras Públicas vão começar a ouvir as personalidades ligadas ao sector dos táxis e seus novos concorrentes, a Uber e a Cabify, para avançar finalmente com a legalização das plataformas electrónicas de transporte.
Esta etapa tem início cerca de dois meses depois dos diplomas, como destaque para o do Governo PS, terem baixado à comissão sem terem sido votados em plenário, por falta de acordos com os partidos à esquerda quanto às condições de acesso e enquadramento regulatório do Transporte em Veículo Descaracterizado a partir de plataforma electrónica (TVDE) e o regime jurídico das referidas plataformas.
A expectativa de Heitor Sousa, deputado do Bloco de Esquerda, é a de que essa calendarização fique já fechada na próxima quarta-feira, dia 10 de Maio. Uma vez terminada a ronda de audições, onde se incluem os responsáveis das empresas que prestam os serviços via online, as associações de taxistas, autarquias e reguladores, será então a altura de se verificar se o PS consegue, ou não, passar o seu diploma, onde não é contemplada a imposição de contingentes (ou seja, um número máximo por município, como no caso dos táxis), ao contrário do que pretende o Bloco na sua proposta de diploma.
Ao PÚBLICO, Heitor Sousa garantiu que, se não houver mudanças na posição dos socialistas, não será com os votos do Bloco que a iniciativa do partido do Governo passará à prática. Por parte do PCP, este partido já afirmou que irá apresentar propostas de alteração à iniciativa do Governo, e o PSD e o CDS têm-se demarcado do PS.
O certo é que, entretanto, a regularização das plataformas electrónicas de transporte continua por avançar e levou a combates legais, com a justiça a vir agora dar um empurrão aos taxistas. O Tribunal da Relação de Lisboa confirmou uma decisão cautelar contra a Uber, ao não dar razão à multinacional norte-americana, que recorrera para esta instância judicial.
Táxis sofrem "concorrência desleal"
De acordo com a sentença agora conhecida, e divulgada esta quarta-feira pela Associação Nacional dos Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (Antral), que tem litigado com a Uber, o não licenciamento da actividade de transporte rodoviário – algo que a empresa diz não praticar, disponibilizando apenas uma plataforma para esse fim – “gera uma concorrência desleal", com os respectivos "danos financeiros, num mercado que o legislador quis regulado de uma determinada maneira”. Em comunicado, a associação de táxis sublinha que o tribunal da relação “decidiu e confirmou a razão já dada, por duas vezes, à Antral”.
Já fonte oficial da Uber, numa declaração por escrito, afirmou que a decisão “remonta a um caso do início de 2015" quando a Uber introduziu o seu modelo de negócio disruptor em Portugal, e que "evidencia ainda mais a necessidade de uma modernização regulatória”. "Iremos analisar em maior detalhe a sentença para avaliarmos próximos passos”, afirmou a empresa, podendo a Uber recorrer para o Supremo Tribunal de Justiça. “Esperamos que a nova legislação proposta pelo Governo seja aprovada muito em breve pelo Parlamento”, declarou a mesma fonte.
Licença de táxi por atribuir
Ao mesmo tempo que se discute a questão da regulamentação da Uber e da Cabify, o regulador do sector, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), quis conhecer melhor o negócio dos táxis. De acordo com o relatório divulgado esta quarta-feira, a entidade presidida por João Carvalho constatou que existem 13.776 táxis em operação (dos quais 3497 em Lisboa) e que existem 1081 licenças por atribuir. “Independentemente do quadro legislativo e regulatório, uma maior transparência sobre as condições do sector permite decisões mais eficientes por parte de investidores e agentes económicos”, sustenta a AMT.
Afirmando que vai continuar a analisar os dados do sector, o regulador fala em “estabilidade” ao nível da oferta, o que, ligado a outras variáveis que sofreram alterações (o turismo teve um enorme crescimento), poderá “evidenciar riscos de desequilíbrio” face à procura.
A AMT refere ainda que “num cenário de manutenção do regime de contingentação a nível concelhio, importa avaliar se os padrões de mobilidade inter-concelhia, incluindo a utilização de serviços de transporte em táxi, poderá justificar, em algumas regiões, uma redefinição do âmbito geográfico da contingentação”.