Governo não interfere nas decisões da CGD sobre fecho de balcão de Almeida

Depois da agência da CGD em Almeida ter sido ocupada duas vezes, a administração da Caixa confirmou o seu encerramento. O Governo dá carta branca.

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Manifestação em Almeida terminou em barricada LUSA/MIGUEL PEREIRA DA SILVA

O Governo não vai interferir nas decisões de Paulo Macedo em questões relacionadas com o encerramento de balcões da CGD. O PÚBLICO tentou obter do ministério de Mário Centeno uma reacção ao caso de Almeida e a resposta foi clara: "Sobre esta questão deverá ser contactada a CGD". Nenhum recuo será, assim, patrocinado pelo executivo.

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O Governo não vai interferir nas decisões de Paulo Macedo em questões relacionadas com o encerramento de balcões da CGD. O PÚBLICO tentou obter do ministério de Mário Centeno uma reacção ao caso de Almeida e a resposta foi clara: "Sobre esta questão deverá ser contactada a CGD". Nenhum recuo será, assim, patrocinado pelo executivo.

Do lado da Caixa, tudo como dantes também. A administração liderada por Paulo Macedo mantém em cima da mesa uma solução (que tem sido recusada localmente) de manter uma caixa automática, com consulta de cadernetas. E tem em curso os planos para levar um meio de transporte com pessoal do banco aos locais mais sensíveis, onde tenham fechado agências; assim como negociações com as juntas de freguesia, para que algumas possam dar apoio aos clientes. Uma coisa parece certa: não haverá aqui um recuo. E o balcão de Almeida é o problema final a resolver este ano - já que não haverá novos encerramentos até Dezembro. A próxima fase será já depois das autárquicas, um factor que a equipa de Paulo Macedo julga ser decisivo para acalmar o clima de contestação local. E já terá, essa "fase dois", todos os planos de apoio no terreno.

Por duas vezes, na última semana, a agência da Caixa Geral de Depósitos de Almeida foi ocupada. Primeiro por cidadãos e autarcas locais, a 26 de Abril. Na terça-feira, 2 de Maio, por dezenas de cidadãos. O objectivo - manter o balcão aberto, obrigando a administração da Caixa a recuar nas intenções - não foi atingido. Num comunicado emitido na terça-feira à noite, a equipa de Paulo Macedo confirmou que a agência de Almeida vai mesmo encerrar.

"Depois de cinco anos consecutivos de prejuízos e diminuição de actividade comercial e com um nível de movimentos de tesouraria muito abaixo da média na agência de Almeida", o banco vai continuar a assegurar "a prestação de serviços aos clientes e continuará presente no concelho de Almeida através da sua agência de Vilar Formoso, assegurando deste modo a presença em todos os concelhos em que vinha actuando", garantiu a CGD.

Este comunicado levou o presidente dos Autarcas Social Democratas a solicitar à administração da Caixa Geral de Depósitos que peça desculpa ao presidente da Câmara de Almeida pelo cancelamento de uma reunião após a ocupação da agência, "acto que empobrece a democracia".

Em conferência de imprensa na sede nacional do PSD, em Lisboa, Álvaro Amaro lamentou a existência de uma "confusão democrática", já que a CGD justificou o cancelamento da reunião de terça-feira com o presidente e o vice-presidente da Câmara de Almeida - que se deslocaram a Lisboa e acabaram por ser recebidos pelo director-geral - com o facto de a agência ter sido ocupada pela população.

"Ontem [terça-feira] o país assistiu a um acto que empobrece a democracia. Quando uma administração da Caixa, um banco público, se recusa a receber um eleito, um autarca eleito pelo povo de Almeida com um argumento de que não podem recebê-lo porque estava o povo concentrado na agência que a CGD quer encerrar, queria pedir à administração da Caixa que peça desculpa ao presidente da câmara de Almeida e, nele, a todos os autarcas", pediu.

O presidente dos Autarcas Social Democratas manifestou a sua indignação vincando que "um autarca não é um funcionário" e "não dá ordens ao povo", tendo, em nome dos eleitos pelas populações, apelado "à administração da CGD que peça desculpa".

Para Álvaro Amaro, que também é presidente da Câmara da Guarda, o banco público não "pode comportar-se apenas e só pela lei de mercado". "Não sei se a CGD dá lucros ou prejuízo, mas tão importante quanto isso é a componente de olhar para o território de todo o país", defendeu. O social-democrata considerou "inaceitável que, na reestruturação da CGD, se encerre uma agência na única sede de concelho".

Questionado se o Governo deveria intervir mais nesta decisão, Álvaro Amaro recordou que quem nomeia a administração é o Governo e, por isso, não deve "lavar as mãos como Pilatos". "O senhor primeiro-ministro não terá gostado (...), como ex-autarca, de não ver respeitado um autarca por uma administração nomeada", defendeu.

Os habitantes de Almeida, no distrito da Guarda, decidiram na terça-feira dar mais um dia à administração da CGD para que possa repensar a manutenção do balcão local.

Convidado pelos jornalistas a comentar este caso, o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, respondeu: “Vou precisar de recolher mais informação e depois, quando tiver informação suficiente, se for caso disso, falo”. com Lusa