Dieta sem glúten só é recomendada para celíacos

Estudo realizado durante 24 anos não detectou relação entre o consumo de glúten e doenças coronárias.

Foto
enric vives-rubio

Uma dieta sem glúten só é aconselhada para pessoas intolerantes (celíacos), já que a proteína não está associada a risco de doenças coronárias, alerta um estudo divulgado nesta terça-feira.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Uma dieta sem glúten só é aconselhada para pessoas intolerantes (celíacos), já que a proteína não está associada a risco de doenças coronárias, alerta um estudo divulgado nesta terça-feira.

Segundo o estudo, publicado na revista médica britânica BMJ, a restrição do glúten (proteína encontrada nos cereais como o trigo, centeio e cevada) pode também resultar numa baixa ingestão de grãos integrais, que estão associados a benefícios cardiovasculares.

Os investigadores defendem que não devem ser encorajadas dietas sem glúten entre pessoas sem a doença celíaca, que afecta pessoas com predisposição genética causada pela constante sensibilidade ao glúten.

O glúten desencadeia inflamação e danos intestinais em pessoas intolerantes, e está associado a um aumento do risco da doença arterial coronária que é reduzido após o tratamento com uma dieta sem esta proteína.

No entanto, o número de pessoas sem a doença celíaca que começou a evitar o glúten também aumentou nos últimos anos, em parte devido à crença de que esta proteína pode ter efeitos prejudiciais para a saúde.

Apesar da crescente tendência das dietas com pouco glúten ou sem este, nenhum estudo a longo prazo avaliou a relação desta proteína com o risco de doenças crónicas, como a doença arterial coronária, em pessoas que não sejam celíacas.

Uma equipa de investigadores dos Estados Unidos decidiu analisar a associação a longo prazo da ingestão de glúten com o desenvolvimento da doença arterial coronária e analisou dados de 64.714 mulheres e 45.303 homens profissionais da saúde sem historial da doença. Estes preencheram um questionário alimentar detalhado em 1986, que foi actualizado a cada quatro anos até 2010.

O consumo de glúten e o desenvolvimento da doença arterial coronária foi acompanhado durante os 24 anos. Depois do ajuste dos factores de risco conhecidos, não foi encontrada uma associação significativa entre a ingestão da proteína e o risco subsequente da doença.

Os autores dizem que este é um estudo de observação, portanto não podem ser retiradas conclusões de causa-efeito.

Ainda assim, concluem que as suas descobertas “não apoiam a promoção de uma dieta de restrição do glúten com o objectivo de reduzir o risco da doença arterial coronária” e que “a promoção de dietas sem glúten com a finalidade de prevenção [dessa] doença entre pessoas sem a doença celíaca não deve ser recomendada”.