Regresso à escola do crime
Hoje, 43 anos depois da revolução, depois das jotas serem o lugar da utopia, passaram a ser um lugar de vergonha.
Imagine que uma mãe ou um pai vêem um filho chegar a casa com uma conversa séria: "Vou entrar na Jota". Não importa qual, pense só na cara que os pais fazem.
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Imagine que uma mãe ou um pai vêem um filho chegar a casa com uma conversa séria: "Vou entrar na Jota". Não importa qual, pense só na cara que os pais fazem.
Ninguém como Paulo Portas se atreveu a falar delas de forma tão crua: "As juventudes partidárias são escolas de crime". Ele saberia do que falava: Portas nasceu para a política na JSD e escreveu isto pouco depois, creio que n'O Independente. Depois, ironia suprema, foi eleito líder do CDS com a ajuda deles - dos jovens da escola do crime.
Nem por acaso, o Filipe Santos Costa do Expresso lembrou-me isso por estes dias. Nem por acaso, a Liliana Valente volta lá hoje na reportagem que faz capa do P2.
Estamos em Abril, mas já não no da revolução. Passaram 43 anos desde aí e muitos desde que Portas lhes colocou a etiqueta do mal. Quando a revolução passou, quando os partidos se instalaram, as Jotas copiaram-lhes os defeitos e seguiram-lhes as pisadas. As jotas, cá para nós, mereceram a fama: tantos fizeram lá os jogos dos grandes, as eleições cacicadas, o início das redes de influência, a entrada nos negócios. Fizeram dela a antecâmara do poder, dos gabinetes, dos governos, do Parlamento. Da dependência. Uns chegaram longe, outros ficaram na claque - que, com as redes sociais a crescer, se tornou na pior das sedes da política. Acéfala, tantas vezes.
Escolas do crime - é mau generalizar, não é? Sim. E até injusto para muitos. Mas se o crime for o país que temos e o país acabou nas suas mãos, dizer o quê?
Hoje, 43 anos depois da revolução, depois das jotas serem o lugar da utopia, o que a Liliana nos conta é que passaram a ser um lugar de vergonha. "Tenho um bocado de receio que descubram no meu trabalho que sou da Jota", diz um jovem militantes com quem a Liliana falou. Não tem culpa, o amigo da Margarida. Tem azar, pela fama com que a escola ficou. Pela paixão que diz ter pela política, o bem maior de uma democracia.
As jotas não são más por natureza, mas agora ficaram com a pior parte da maçã. O sistema instalou-se e muitos portugueses desconfiam dos partidos. E vão ser eles, ou aqueles que a quem ainda sobra o dom e a paixão, quem terá a missão de restaurar a confiança nele - começando naquela conversa dura com os pais.
O meu melhor conselho? Já o dei num debate que tive sobre isto tudo numa Jota: vão para lá, sim. Divirtam-se. Mas não façam daquilo a vossa vida. Leiam, leiam muito, apreendam e cresçam fora de lá. Façam como um dia ensinou o homem que é hoje o nosso Presidente: arranjem um emprego, porque não se pode fazer política dependendo dela. Depois voltem. Pelo que estamos a ver, vamos precisar de vocês. Para acabar com a vergonha.