Dear White People ataca a ilusão de uma América pós-racial
A série da Netflix parte do filme de Justin Simien para questionar as dificuldades de ser negro num mundo onde a presença branca se impõe e conta com Barry Jenkins na realização.
Em Fevereiro, o primeiro trailer de Dear White People inflamou as redes sociais. Alguns utilizadores acusaram a Netflix de ser “racista” e “antibrancos” e outros chegaram a cancelar a sua subscrição do serviço de streaming. No vídeo de menos de um minuto, a protagonista Samantha White (Logan Browning) dirigia-se aos estudantes brancos da sua universidade para falar de disfarces de Halloween aceitáveis e inaceitáveis, sendo que o blackface – prática em que brancos pintavam os rostos de preto ou castanho para se “mascararem” de negros – pertencia imperdoavelmente à segunda categoria. Após a inesperada controvérsia que lhe valeu mais de quatro milhões de visualizações, os dez episódios de Dear White People ficaram esta sexta-feira disponíveis na Netflix e pretendem dar continuidade ao filme homónimo de Justin Simien lançado em 2014. “O filme foi uma sátira mais tradicional”, começou por dizer o também realizador da série ao NY Daily News, “Com a série, senti que [mostrar arquétipos em vez de personagens construídas de modo tridimensional] seria irritante a partir de uma certa altura. Foi importante para nós mergulhar na vida destas personagens e no seu dia-a-dia.”
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Em Fevereiro, o primeiro trailer de Dear White People inflamou as redes sociais. Alguns utilizadores acusaram a Netflix de ser “racista” e “antibrancos” e outros chegaram a cancelar a sua subscrição do serviço de streaming. No vídeo de menos de um minuto, a protagonista Samantha White (Logan Browning) dirigia-se aos estudantes brancos da sua universidade para falar de disfarces de Halloween aceitáveis e inaceitáveis, sendo que o blackface – prática em que brancos pintavam os rostos de preto ou castanho para se “mascararem” de negros – pertencia imperdoavelmente à segunda categoria. Após a inesperada controvérsia que lhe valeu mais de quatro milhões de visualizações, os dez episódios de Dear White People ficaram esta sexta-feira disponíveis na Netflix e pretendem dar continuidade ao filme homónimo de Justin Simien lançado em 2014. “O filme foi uma sátira mais tradicional”, começou por dizer o também realizador da série ao NY Daily News, “Com a série, senti que [mostrar arquétipos em vez de personagens construídas de modo tridimensional] seria irritante a partir de uma certa altura. Foi importante para nós mergulhar na vida destas personagens e no seu dia-a-dia.”
O filme original conta a história de Samantha White, estudante da prestigiada Winchester University, uma universidade frequentada maioritariamente por caucasianos, e centra-se numa festa com o tema blackface organizada por um grupo de estudantes brancos em resposta ao seu polémico programa de rádio, Dear White People. A série da Netflix inicia-se precisamente após a festa racista em questão e foca as consequências sofridas pelos estudantes negros que decidiram pôr-lhe fim. “Não te podes encaixar na sociedade sem uma identidade”, disse o realizador, citado pelo jornal britânico The Telegraph, em 2014. Aquando do seu lançamento, Dear White People agitou as águas do Sundance Film Festival, onde arrecadou o prémio especial do júri para Novos Talentos. Recebeu, ainda, o prémio de Melhor Longa-Metragem de Estreia nos Independent Spirit Awards.
A série da Netflix é uma comédia que recorre à sátira para explicar as dificuldades de um grupo de estudantes negros que se confrontam diariamente com questões como a diversidade, a injustiça social, o preconceito cultural e o politicamente correcto. Nesse sentido, estes jovens são forçados a explorar o que significa ser negro num mundo predominantemente branco e racista ao mesmo tempo que lidam com os desafios pessoais e profissionais próprios da idade. “A série sai numa altura em que estamos todos conscientes de que o racismo ainda existe e que a supremacia branca tem uma voz de autoridade no país, por isso estamos a viver tempos estranhos”, disse Justin Simien ao NY Daily News.
O contexto político e social em que a série surge é completamente diferente daquele que serviu de pano de fundo ao processo de escrita do argumento para o filme, em 2007, à subsequente campanha de crowdfunding lançada e à efectiva concretização do projecto. “Por mais que adorasse acreditar que estamos numa era pós-racial – uma ideia que ganhou força depois da eleição de Barack Obama em 2008 –, não posso ignorar o facto de que ainda sou visto pelo mundo como “um homem negro” e em algumas partes do mundo “um homem negro gay”, disse o realizador, citado pelo The Telegraph.
Justin Simien, que terá sido inspirado pela sua experiência pessoal enquanto estudante negro na branca Chapman University para criar a trama, reconhece a evolução da presença negra no panorama televisivo norte-americano com o sucesso de séries como Scandal, Empire e Black-ish. Descrita pela Variety como “uma série perspicaz e necessária” e pelo IndieWire como “uma história pessoal em primeiro lugar e uma sátira inteligente em segundo” e com realização de Barry Jenkins (o premiado realizador de Moonlight) num dos episódios, Dear White People promete alimentar a discussão sobre a igualdade racial e ultrapassá-la, dando voz a todas as comunidades marginalizadas pela sociedade.