May usa aviso de Merkel como arma para conquistar votos
Apostada em conquistar círculos tradicionalmente trabalhistas, primeira-ministra diz que eleitores devem votar tendo em conta "interesse nacional".
A primeira-ministra britânica, Theresa May, pegou nos avisos feitos por Angela Merkel – palavras pouco encorajadoras para Londres – e usou-os como trunfo eleitoral para as legislativas que convocou em nome da necessidade de reforçar a sua autoridade nas negociações com a UE, mas que espera usar para enfraquecer tanto quanto lhe for possível a oposição.
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A primeira-ministra britânica, Theresa May, pegou nos avisos feitos por Angela Merkel – palavras pouco encorajadoras para Londres – e usou-os como trunfo eleitoral para as legislativas que convocou em nome da necessidade de reforçar a sua autoridade nas negociações com a UE, mas que espera usar para enfraquecer tanto quanto lhe for possível a oposição.
Com as sondagens a indicarem que o Partido Conservador conseguirá conquistar ao Labour dezenas de círculos, sobretudo nas regiões do Norte e das Midlands que no ano passado votaram em massa a favor do “Brexit”, May foi quinta-feira a Leeds, um bastião trabalhista, dizer que os eleitores devem colocar “o interesse nacional” acima das preferências partidárias. No bolso levou as declarações da chanceler alemã que, horas antes no Parlamento de Berlim, tinha dito que muitos políticos britânicos “continuam a ter ilusões” seja sobre aquilo que o país pode conseguir nas negociações com a UE, seja sobre a intenção de começar a negociar um acordo de comércio antes de haver um entendimento sobre as condições de saída.
“Ouvimos os comentários da chanceler Merkel disse hoje e ficamos a perceber que haverá momentos em que as negociações vão ser muito duras”, afirmou a primeira-ministra perante dezenas de apoiantes. “No entanto, os nossos opositores estão a tentar criar problemas na mesma altura em que os outros 27 países europeus se unem para se opor a nós”, disse a líder conservadora, repetindo que o país precisa de “uma liderança forte e estável” para combater a incerteza. E dirigindo-se aos eleitores trabalhistas, afirmou que “esta eleição não é sobre quem se votou no passado, é sobre [a necessidade de] votar em nome do interesse nacional”. “Cada voto que me derem através dos candidatos conservadores em cidades como Leeds […] vai reforçar-me quando negociar com os primeiros-ministros, os presidentes europeus nos próximos meses”, afirmou.
Os trabalhistas, que no início desta semana anunciaram que se vencerem as eleições abandonam o plano de May para as negociações com a UE, acusam a primeira-ministra de usar o “Brexit” para esconder as políticas de austeridades do Governo conservador. “Os eleitores de Leeds não se vão deixar enganar: o único partido dos trabalhadores é o Labour”, disse à BBC o dirigente Andrew Gwynne, sublinhando que May está claramente equivocada ao acreditar conseguia vencer em círculos onde os trabalhistas venceram em 2015 por mais de dez mil votos.
Já os liberais-democratas acusaram a primeira-ministra de “oportunismo desavergonhado”, usando uma suposta ameaça europeia para “arrebanhar poder”.
Em Bruxelas, o vice-presidente da Comissão Europeia assegurou também que para os restantes Estados-membros é indiferente o resultado das legislativas britânicas. “Não penso que vai mudar nada porque as nossas posições são determinadas pelos interesses dos 27”, explicou, acrescentando que caberá a May “assegurar que quando tiver um acordo o conseguirá aprovar na Câmara dos Comuns”.