A expansão da mente e do rock

É como se as letras em torno das questões do espírito procurassem uma expansão da mente que acaba reflectida no som, uma música rock de horizontes largos, tão estimulante quanto misteriosa.

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Será tentador vislumbrar no novo álbum de Thurston Moore uma espécie de regresso ao passado dos Sonic Youth. É evidente que essa leitura não é despropositada. Esses sintomas estão lá. Mais que não seja porque a voz e guitarra, dois elementos cruciais na sonoridade de um dos grupos rock mais influentes das últimas décadas, estão lá também e apresentados da forma como tantas vezes ouvimos no passado. No entanto, essa leitura parece apressada. Sendo mais concretos: eis um álbum que provoca a saudável sensação que, por um lado, estamos a escutar qualquer coisa que nos é familiar, embora não da forma como já a ouvíramos. Por outras palavras ainda: ele está a olhar para trás ou para a frente? Difícil dizer. Por isso talvez seja melhor, simplesmente, não dizer.

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Será tentador vislumbrar no novo álbum de Thurston Moore uma espécie de regresso ao passado dos Sonic Youth. É evidente que essa leitura não é despropositada. Esses sintomas estão lá. Mais que não seja porque a voz e guitarra, dois elementos cruciais na sonoridade de um dos grupos rock mais influentes das últimas décadas, estão lá também e apresentados da forma como tantas vezes ouvimos no passado. No entanto, essa leitura parece apressada. Sendo mais concretos: eis um álbum que provoca a saudável sensação que, por um lado, estamos a escutar qualquer coisa que nos é familiar, embora não da forma como já a ouvíramos. Por outras palavras ainda: ele está a olhar para trás ou para a frente? Difícil dizer. Por isso talvez seja melhor, simplesmente, não dizer.

E ouvir. Por exemplo o tema de abertura, Exalted. Estão lá os solos de guitarra que podiam ser dos Sonic Youth, mas são solos tão longos que é difícil reconhecê-los como tal, acabando diluídos numa viagem tão ruidosa quanto equilibrada de cerca de 12 minutos, durante a qual a voz irrompe pela primeira apenas aos sete minutos. E ao longo das restantes quatro longas faixas que constituem o disco a sensação não é muito diferente. Ouvimos elementos que reconhecemos com facilidade, mas estruturados de uma maneira diferente, e no entanto o resultado final de cada canção resulta consistente.

É o caso de Cusp, com a voz tranquila a navegar por cima da nervosa secção rítmica, num magnífico tema em crescendo – com as guitarras a acabarem lá no alto – que revela quatro músicos em entrosamento total, mistura de serenidade e agitação. Não espanta que Thurston diga que sente ter encontrado uma nova banda, com o baixo hipnótico de Debbie Googe a unificar-se na perfeição à bateria de Steve Shelley ou à flexibilidade da segunda guitarra de James Sedwards.

Afinal as várias camadas de leitura que povoam este disco não surpreendem. É verdade que Thurston passou parte da sua vida com os Sonic Youth mas isso nunca o impediu de encetar aventuras a solo ou de colaborar com gente das mais diversas áreas (de Yoko Ono a John Zorn) desenvolvendo aí uma sensibilidade moldável, que tanto o conduziram para terrenos experimentais ou para aproximações mais tradicionais.

Agora, mais uma vez, em Rock n’ Roll Consciousness, essas duas dimensões acabam por se ligar em cada um dos temas, todos repletos de nuances, com várias sedimentos sobrepondo-se. É verdade que há por aqui sugestões ao som dos Sonic Youth, mas a criação de tonalidades inesperadas é uma constante, num disco desafiante. É como se as letras (de Thurston e do poeta Radio Radieux), em torno das questões do espírito, procurassem uma expansão da mente que é reflectida no som, numa música rock com horizonte, tão estimulante quanto misteriosa.