Estado compra pintura espanhola do século XVI para o Museu de Arte Antiga
Pintura atribuída ao círculo do artista espanhol Juan de Borgoña já está exposta. Foi adquirida por 20 mil euros a um coleccionador português.
A pintura do século XVI Santiago e Doadora (c.1520-1530), atribuída ao círculo do artista espanhol Juan de Borgoña, foi comprada pelo Estado para a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, anunciou aquela entidade.
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A pintura do século XVI Santiago e Doadora (c.1520-1530), atribuída ao círculo do artista espanhol Juan de Borgoña, foi comprada pelo Estado para a colecção do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, anunciou aquela entidade.
De acordo com comunicado do MNAA, a pintura executada a têmpera e óleo sobre madeira de pinho que acaba de ser exposta no museu foi adquirida por 20 mil euros, através da Direcção-Geral do Património Cultural, ao colecionador português Alexandre Volta e Sousa.
Na obra, "o santo é mostrado como peregrino, descalço, com um vestido vermelho, sobre o qual enverga uma comprida capa verde de gola roxa, à maneira dos romeiros a Compostela. Nas mãos de Santiago está um livro, símbolo da sua condição de evangelizador da Península Ibérica", descreve o museu.
O MNAA refere que a obra não era desconhecida: em 1954, o historiador de arte Luis Reis-Santos soube da sua existência através de uma fotografia a preto e branco obtida quando a obra foi vendida, nesse ano, pelo antiquário Wildenstein, tendo anotado a sua atribuição ao designado Mestre da Lourinhã, um pintor flamengo activo em Portugal nas décadas de 1510 e 1520.
Entretanto, a pintura foi comprada por um colecionador sul-americano e esteve exposta no Museo de Bellas-Artes de Caracas, na Venezuela.
Em 2009, num leilão da Christie's no Rockefeller Center de Nova Iorque, a pintura voltou à venda ainda sob a atribuição ao Mestre da Lourinhã, tendo sido, nessa altura, adquirida pelo coleccionador português Alexandre Volta e Sousa.
Em 2010, a pintura foi mostrada no MNAA, na exposição Primitivos Portugueses 1450-1550. O Século de Nuno Gonçalves.
Os especialistas vieram depois a concluir que a obra se afasta completamente dos usos da pintura portuguesa da época e aproxima-se da pintura espanhola, nomeadamente do seu foco de Toledo da primeira metade do século XVI, onde o mestre mais activo foi Juan de Borgoña, responsável pela decoração de grande parte da catedral daquela cidade espanhola (salas capitulares e capela moçárabe), onde manteve uma oficina com outros artistas.
Juan de Borgoña, activo em Toledo entre 1495 e 1535, terá nascido na Europa mas mais a Norte, não em Espanha. É ele, no entanto, o responsável pela introdução do Renascimento em Castela, trabalhando em cidades como Madrid, Cuenca ou Salamanca, mas mantendo sempre a pequena cidade à beira Tejo, património mundial desde 1986, como epicentro.
"A atribuição de uma autoria concreta à pintura exigirá ainda mais estudos, mas a sua colocação dentro do grupo de pintores formados com Juan de Borgoña é clara", assinala o MNAA, sublinhando o seu "estilo límpido, de marcada influência italiana".
A obra agora adquirida vem reforçar o núcleo de pintura espanhola do MNAA, "colecção pouco extensa, mas com alguns exemplares importantes", segundo o museu.
Criado em 1884, o MNAA acolhe a mais relevante coleção pública de arte antiga do país, em pintura, escultura, artes decorativas portuguesas, europeias e da Expansão Marítima Portuguesa, desde a Idade Média até ao século XIX, incluindo o maior número de obras classificadas como tesouros nacionais.