As guerras
A série documental de Joaquim Furtado A Guerra está a ser editada em DVD com livros assinados por Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes. Este é o prefácio do volume nove — Novas Frentes.
Foi o maior esforço militar, em termos de mobilização, de um Estado da Europa ocidental desde a II Guerra Mundial. Durou catorze anos, em três frentes. Envolveu cerca de um milhão de jovens portugueses, transportados em barcos e aviões para outro continente, a cumprir um serviço militar que terá sido, para muitos, a primeira grande experiência da idade adulta. Esta guerra, que foi de facto muitas guerras, em locais e em tempos diferentes, é central na história contemporânea portuguesa: explica o fim da ditadura salazarista, e explica as origens do actual regime democrático. Para os actuais países africanos onde as guerras aconteceram, está ainda na origem de quase tudo. Mas sendo um tema central, é verdade que a guerra foi, durante muito tempo, um assunto mais ou menos marginal na história e na memória oficial portuguesa. Não era exactamente “tabu”, mas nos primeiros tempos da nossa democracia, pareceu demasiado recente e armadilhada. Depois, quando a democracia se enquadrou na União Europeia, a partir de 1986, pareceu, ao contrário, muito distante e exótica: um país que se queria europeu estava mais preocupado em provar a sua ligação à Europa do que em recordar as suas ligações a África. A guerra tendeu assim a ser deixada à instituição militar e às recordações dos combatentes. Como estudá-la, como falar da guerra, sem ter de a “fazer” novamente, mesmo que de modo imaginário? Joaquim Furtado parece ter partido do princípio de que haverá sempre vários pontos de vista – e portanto, várias guerras, como o título da série sugere – e que, sem de modo nenhum dizer que todos os ângulos são equivalentes e válidos, é necessário compreender a complexidade das situações e das razões daqueles que fizeram ou passaram por esta guerra, de todos os lados. É isso que aqui temos, através de muitas vozes. A Guerra é um trabalho com a ambição das grandes séries documentais de referência da BBC ou da PBS. Quer pelo imenso levantamento de depoimentos e de documentos de arquivo, quer sobretudo pelo seu esforço de polifonia, pelo caleidoscópio de imagens e de sons com que vamos sendo levados para outros mundos e outros tempos, ao encontro de outras pessoas e de outras terras. Já é – e vai continuar a ser – uma das fontes principais para o estudo e a compreensão das nossas origens, em Portugal e em África.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Foi o maior esforço militar, em termos de mobilização, de um Estado da Europa ocidental desde a II Guerra Mundial. Durou catorze anos, em três frentes. Envolveu cerca de um milhão de jovens portugueses, transportados em barcos e aviões para outro continente, a cumprir um serviço militar que terá sido, para muitos, a primeira grande experiência da idade adulta. Esta guerra, que foi de facto muitas guerras, em locais e em tempos diferentes, é central na história contemporânea portuguesa: explica o fim da ditadura salazarista, e explica as origens do actual regime democrático. Para os actuais países africanos onde as guerras aconteceram, está ainda na origem de quase tudo. Mas sendo um tema central, é verdade que a guerra foi, durante muito tempo, um assunto mais ou menos marginal na história e na memória oficial portuguesa. Não era exactamente “tabu”, mas nos primeiros tempos da nossa democracia, pareceu demasiado recente e armadilhada. Depois, quando a democracia se enquadrou na União Europeia, a partir de 1986, pareceu, ao contrário, muito distante e exótica: um país que se queria europeu estava mais preocupado em provar a sua ligação à Europa do que em recordar as suas ligações a África. A guerra tendeu assim a ser deixada à instituição militar e às recordações dos combatentes. Como estudá-la, como falar da guerra, sem ter de a “fazer” novamente, mesmo que de modo imaginário? Joaquim Furtado parece ter partido do princípio de que haverá sempre vários pontos de vista – e portanto, várias guerras, como o título da série sugere – e que, sem de modo nenhum dizer que todos os ângulos são equivalentes e válidos, é necessário compreender a complexidade das situações e das razões daqueles que fizeram ou passaram por esta guerra, de todos os lados. É isso que aqui temos, através de muitas vozes. A Guerra é um trabalho com a ambição das grandes séries documentais de referência da BBC ou da PBS. Quer pelo imenso levantamento de depoimentos e de documentos de arquivo, quer sobretudo pelo seu esforço de polifonia, pelo caleidoscópio de imagens e de sons com que vamos sendo levados para outros mundos e outros tempos, ao encontro de outras pessoas e de outras terras. Já é – e vai continuar a ser – uma das fontes principais para o estudo e a compreensão das nossas origens, em Portugal e em África.