Presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia quer debate sobre morte súbita
Presidente da SCP afirma que é necessário uma agenda para a saúde cardiovascular em Portugal e que as prioridades são a prevenção da morte súbita e da insuficiência cardíaca.
O presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), João Morais, cuja direcção toma posse esta segunda-feira, disse à Lusa que pretende criar uma agenda própria e discutir os problemas da morte súbita e da insuficiência cardíaca.
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O presidente da Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC), João Morais, cuja direcção toma posse esta segunda-feira, disse à Lusa que pretende criar uma agenda própria e discutir os problemas da morte súbita e da insuficiência cardíaca.
João Morais, que também é director do Serviço de Cardiologia do Centro Hospitalar de Leiria, tem como objectivo para os dois próximos anos criar uma agenda própria, debater com a tutela alguns dos problemas que afectam os portuguesas e colocar no centro da discussão algumas doenças.
"A SPC tem de estar na rua e ter uma agenda para a saúde cardiovascular em Portugal. Vamos tentar identificar quais os grandes problemas da saúde cardiovascular dos portugueses e tentar debatê-los com a tutela", disse João Morais, segundo o qual há duas grandes prioridades: "Uma, que já foi identificada e que nestes últimos dois anos trabalhou-se muito, é a prevenção da morte súbita". A outra é a "insuficiência cardíaca".
O presidente da SPC admitiu que a morte súbita é "muito mediática" quando sucede no desporto e em jovens, mas alertou que não sucede só com estas pessoas, revelando que "hoje a cardiologia tem ferramentas não só para identificar os doentes em risco de morte súbita, mas também para prevenir essa mesma morte súbita". O responsável considerou que "há um longo caminho a percorrer" e que "Portugal está a léguas de distância dos países mais desenvolvidos da Europa" nesta área.
Quanto à insuficiência cardíaca, disse que Portugal teve um "progresso notável, nos últimos 20 anos, no tratamento do enfarte do miocárdio", o que levou à "redução da mortalidade", mas "se os doentes não morrem de enfarte do miocárdio, vão viver mais anos, mas parte deles vai ser com um coração deteriorado". Deste modo, aumenta o número de idosos que "vai ter problemas cardiovasculares", nomeadamente a insuficiência cardíaca, ou seja, "o coração não consegue executar as tarefas que lhe são exigidas de uma forma perfeita".
"Estamos a falar de centenas de milhares de doentes em Portugal. Metade dos serviços de medicina interna estão cheios de doentes idosos e metade sofre de insuficiência cardíaca. Quase um quarto dos doentes que vai às urgências em Portugal é por insuficiência cardíaca. É um assunto que tem sido tabu — o Plano Nacional de Saúde nem fala dela — e eu espero ser capaz de a poder trazer para a tal agenda", frisou.
Reforçando que Portugal trata o enfarte do miocárdio como qualquer "país do mundo desenvolvido", o cardiologista considerou, contudo, que é preciso melhor organização. "Muito do que tem sido feito é por iniciativa dos próprios médicos, sem alguém acima a coordenar. Eu faço no meu hospital o melhor que posso e o hospital a 50 quilómetros faz também o melhor que pode, mas não nos articulamos", constatou, ao considerar que a cardiologia portuguesa poderia "melhorar" se houvesse organização. "Depois falta-nos identificar os grandes problemas e a capacidade de se juntar à volta de uma mesa os decisores e os especialistas na área para definir planos e planificação", acrescentou. O responsável pretende chamar à discussão a tutela, mas também os profissionais.
Outra das suas prioridades é a parte interna da SPC. "Os grandes objectivos são melhorar a qualidade da educação médica, unir e modernizar a sociedade e dar-lhe toda a estrutura que precisa para o futuro. A cardiologia é hoje uma das maiores sociedades em Portugal, muito prestigiada na Europa e um dos desafios que se colocam é adaptá-la aos tempos modernos".