Primárias no PSD? Há quem evite falar em pressão e prefira mais concentração nas autárquicas
António Costa admite repetir primárias no PS se tiver adversário à altura – mas para as legislativas de 2019 “não faz sentido”.
Faltam cinco meses para as eleições autárquicas, vistas como um xeque-mate a Pedro Passos Coelho à frente do PSD: fará sentido colocar agora a discussão sobre a realização de eleições primárias em cima da mesa, como fez esta semana Miguel Relvas ao mesmo tempo que aparecia ao lado de Luís Montenegro num almoço-conferência?
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Faltam cinco meses para as eleições autárquicas, vistas como um xeque-mate a Pedro Passos Coelho à frente do PSD: fará sentido colocar agora a discussão sobre a realização de eleições primárias em cima da mesa, como fez esta semana Miguel Relvas ao mesmo tempo que aparecia ao lado de Luís Montenegro num almoço-conferência?
O ex-vice-presidente do partido e actual presidente do Conselho Estratégico do PSD, um órgão consultivo da direcção, José Matos Correia é “radicalmente contra as primárias e as directas por uma questão conceptual”. Diz que não faz sentido um partido com sócios com direitos e deveres fazer eleger os seus órgãos por pessoas que não o integram, sob alguma forma. “O que aconteceu com o PS francês é uma prova disso: levaram à radicalização na escolha do candidato por quem não é do partido e agora é dos piores colocados para passar à segunda volta.”
Questionado pelo PÚBLICO, e realçando falar em nome pessoal e não da estrutura do PSD, Matos Correia afirma não entender o “momento” para lançar a discussão, que “cria problemas internos no PSD deixando mais margem ao PS e ao Governo da geringonça”. “Andamos a criar jogos florais. É uma curiosa inversão das prioridades, que neste momento devem ser fazer oposição ao Governo e ganhar as autárquicas”, critica o dirigente social-democrata. “E não vejo aplicar-se nestas prioridades quem agora vem falar de primárias”, acrescenta, recusando-se a apontar nomes.
Matos Correia desvaloriza o impacto que a questão possa ter na preparação das autárquicas: “Os autarcas estão preocupados com a sua eleição ou reeleição e as estruturas no terreno não ligam nada a isto.” A posição do líder da distrital de Leiria, Rui Rocha, sobre o assunto é a imagem disso. Apesar de ter levado ao congresso uma moção propondo a reflexão sobre primárias – que foi aprovada -, diz ser “estranho que pessoas que não foram ao congresso ou não se manifestaram sobre o assunto no sítio e momento certos, venham agora lançá-lo”. “O momento é de o partido estar empenhado e motivado para as autárquicas, não para discutir agora primárias.”
Já Simão Ribeiro, líder da JSD e que no congresso viu aprovada a outra moção que defendia este tipo de eleição, prefere ser mais diplomático: “É sempre pertinente e bom tempo para reflectir e melhorar o funcionamento interno do PSD. (…) Não encaro como incómodo.”
Questionados sobre se falar do tema primárias nesta altura coloca pressão sobre Passos para um bom resultado nas autárquicas, tanto Matos Correia como Rui Rocha ou Simão Ribeiro preferem responder ao lado. Rui Rocha diz que “há tempos que não se devem antecipar. A disputa da liderança é no início do próximo ano e agora é tempo das autárquicas”, vinca.
Em Espanha, onde esteve numa conferência, Passos Coelho recusou comentar à RTP a questão das primárias levantada por Miguel Relvas.
No PS agora “não faz sentido”
Por seu lado, António Costa, escolhido como o candidato do PS a primeiro-ministro nas primárias abertas lançadas por António José Seguro em Setembro de 2014, disse ao PÚBLICO que, apesar de considerar estas eleições “uma ferramenta útil”, “não faz sentido” realizá-las no partido para as legislativas de 2019, mas apenas numa “situação que justifique uma escolha séria e efectiva”. “As primárias não se justificam sempre. Justificam-se quando há situações de confrontação, de ruptura ou de divisão suficientemente intensas que podem ser mobilizadoras”, argumentou o secretário-geral do PS.
Lembra que apesar da grande participação nas primárias – foram mais de 150 mil, muito por causa dos simpatizantes – logo a seguir as directas que ditaram a sua eleição como secretário-geral tiveram uma participação muito mais reduzida (quase 24 mil) “porque a decisão fundamental estava tomada e não havia condições para grande mobilização”. As primárias ficaram consagradas nos estatutos do PS mas “não há uma regra” para as realizar.
Com Liliana Valente