Toda a Europa queria votar no próximo Presidente francês
Le Pen, Macron, Mélenchon ou Fillon? A escolha não podia ser mais diferente. Na primeira volta das presidenciais franceses, dois são escolhidos para o sprint final e toda a Europa tem os olhos postos nestas eleições.
Le Pen, Macron, Mélenchon ou Fillon? A escolha não podia ser mais diferente, mas estão todos mais ou menos empatados. Na primeira volta das presidenciais franceses, dois vão ser escolhidos para o sprint final e toda a Europa tem os olhos postos nestas eleições.
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Le Pen, Macron, Mélenchon ou Fillon? A escolha não podia ser mais diferente, mas estão todos mais ou menos empatados. Na primeira volta das presidenciais franceses, dois vão ser escolhidos para o sprint final e toda a Europa tem os olhos postos nestas eleições.
Se Marine Le Pen passar à segunda volta das presidenciais (7 de Maio) após a votação deste domingo, ninguém estranhará. E essa será a sua maior vitória. A “normalização” do discurso nacionalista, anti-União Europeia e anti-imigração da Frente Nacional, o partido de extrema-direita fundado pelo seu pai, Jean Marie Le Pen, estará completa. Resta saber se quem vai disputar a segunda volta, daqui a duas semanas, será Emmanuel Macron, o mais jovem e mais europeísta dos candidatos, que concorreu sem o apoio de nenhum dos partidos tradicionais mais vai colher votos a todos.
Os franceses votam finalmente nas eleições que deixam toda a Europa a roer as unhas. Há apostas no valor de mais 1,2 milhões de euros feitas nas casas de apostas britânicas em torno do resultado das presidenciais francesas, segundo a William Hill, uma das principais empresas da área. “Normalmente, não há quase nenhum interesse nas eleições francesas”, disse um porta-voz da firma ao Le Monde.
Se Le Pen entrar no Palácio do Eliseu, pode ser o golpe final em 60 anos de construção da União Europeia, se Marine estiver disposta a mandar para o lixo da História a aliança franco-alemã, o euro. Ela promete fazer um referendo sobre a permanência de França na UE, acenando com a possibilidade de mudar tudo, quando o que muitos franceses querem é mesmo isso: que nada fique como está.
Jean-Luc Mélenchon vem pela esquerda, com o espírito do “dégagisme” – que se vão embora todos os que estiveram no poder nos últimos anos. O conceito foi usado como palavra de ordem nas Primaveras Árabes, contra Mubarak no Egipto ou Ben Ali na Tunísia, mas também por vários ideólogos radicais franceses.
Revolucionário e intelectual, este antigo socialista ganhou sete pontos nas sondagens ao mesmo tempo que Le Pen tombou uns 2,5 pontos nas intenções de voto. Mélenchon representa apenas outra forma de populismo, dizem os analistas, lançando as mãos à cabeça, aterrorizados com a possibilidade de a vontade de mudança claramente expressa pelos franceses puder levá-los a escolher o que seria um cenário de absoluto pesadelo para os mercados e para uma grande parte da Europa: uma segunda volta Le Pen-Mélenchon.
Não é o desfecho mais provável, mas os quatro principais candidatos estão separados por valores que rondam o erro técnico das sondagens, pelo que os resultados são verdadeiramente imprevisíveis.
O anti-sistema do sistema
É em Emmanuel Macron, o jovem ex-ministro da Economia, que se concentram as apostas e as esperanças dos líderes de opinião e governantes europeus. Apesar de a sua candidatura ser a menos convencional – por trás dele não havia um partido – pode dizer-se que é aquele que melhor representa a continuidade do regime.
Tem apoios de várias formações políticas – inclusivamente de vários ministros socialistas, numa demonstração da destruição que grassa no PS. Seria o melhor colocado para ter o beneplácito da alemã Angela Merkel e até dos sociais-democratas que são os parceiros de coligação da chanceler, pelo menos até às eleições alemãs de Setembro. E é um europeísta convicto, quando tanto Mélenchon como Le Pen ameaçam referendar a saída de França da UE.
Macron, pode dizer-se, é o candidato anti-sistema do sistema. Mistura políticas pró-desenvolvimento económico com preocupações sociais – espera-se que seja um François Hollande que dê certo – ele entrou na política como conselheiro do Presidente socialista. Tem de fazer um esforço para “matar o pai” político, chegou a dizer, numa entrevista ao Le Monde, que não aspira a “ser um Presidente normal” – o slogan de Hollande em 2012, face a Nicolas Sarkozy, o “hiperpresidente”.
O que atrai em Macron, é representar uma lufada de ar fresco, mas não estar ligado a um partido pode no entanto ser o seu ponto franco. Falta-lhe a alavanca eleitoral para se sustentar, nas eleições legislativas, que se realizam a 11 de Junho (primeira volta). Quem será o seu primeiro-ministro, para pôr em prática as suas ideias?
François Fillon, o candidato da direita, tem-se mantido contra ventos e marés, apesar de todos os escândalos, suspeitas e até mesmo acusações formalizadas por abusos cometidos quando desempenhava cargos públicos. Com o atentado em Paris na quinta-feira, em que foi morto um polícia e dois outros foram feridos, tentou fazer valer a sua experiência enquanto primeiro-ministro, e o apoio de Nicolas Sarkozy – o ex-Presidente sobre quem também recaem múltiplas suspeitas de corrupção e abusos de poder –, mas não foi bem-sucedido.
Assegurou que tinham existido “outros ataques” naquela noite – e não havia notícia de nada. Foi acusado de espalhar o medo. Não é a primeira vez, aliás, que Fillon tem sido acusado de usar uma estratégia populista para se afirmar nestas eleições, atacando os jornalistas, assumindo-se como “vítima de um complô”, subvertendo os factos.
A grande incógnita destas presidenciais é o voto dos indecisos, que os estudos de opinião diziam rondar os 28%. O atentado no encerrar da campanha pode ter tido um efeito determinante para acabar com a indecisão – há estudos que dizem que o terror aumenta a afluência às urnas, e podem virar umas eleições.
O atentado de 11 de Março de 2004 em Madrid, levou a uma enorme afluência às urnas três dias depois, em clima de muitas críticas ao Governo do Partido Popular, e deu a vitória aos socialistas do PSOE. Mas foi a dimensão foi bem diferente da do ataque de quinta-feira em Paris: 192 mortos.