Macron, o europeu, enfrenta Le Pen, “a candidata do povo”
As sondagens previam-no há muito: a segunda volta das presidenciais francesas vai ser disputada entre Emmanuel Macron, o candidato que não é de esquerda nem de direita, e Marine Le Pen, de extrema-direita. A linguagem da esperança e a do confronto estão em jogo pelo futuro da Europa.
Marine Le Pen conseguiu. Passa à segunda volta das presidenciais francesas, com cerca de 21% dos votos, e plena de desafio, como uma Marianne que desafia toda a Europa: “O que está em jogo é a sobrevivência de França”, lançou aos seus apoiantes, em Hénin-Beaumont, a pequena cidade do Norte do país que transformou no seu feudo eleitoral. Emmmanuel Macron, o jovem candidato surpresa, foi o outro vencedor da noite. Sem o apoio de um dos dois grandes partidos, trouxe um discurso de esperança para mudar o suficiente para que tudo permaneça mais ou menos igual. Teve cerca de 23% dos votos e é dado como vencedor daqui a duas semanas.
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Marine Le Pen conseguiu. Passa à segunda volta das presidenciais francesas, com cerca de 21% dos votos, e plena de desafio, como uma Marianne que desafia toda a Europa: “O que está em jogo é a sobrevivência de França”, lançou aos seus apoiantes, em Hénin-Beaumont, a pequena cidade do Norte do país que transformou no seu feudo eleitoral. Emmmanuel Macron, o jovem candidato surpresa, foi o outro vencedor da noite. Sem o apoio de um dos dois grandes partidos, trouxe um discurso de esperança para mudar o suficiente para que tudo permaneça mais ou menos igual. Teve cerca de 23% dos votos e é dado como vencedor daqui a duas semanas.
Os focos de luz faziam a líder de extrema-direita que ameaça tirar França da União Europeia brilhar como uma santa. “Sou a candidata do povo!”, declarou. “O grande debate vai ter lugar”, afirmou Le Pen, dizendo que o “grande desafio será lutar contra a globalização selvagem”.
O seu interlocutor vai ser Macron, que não se embaraça por cantar cantigas de amor à Europa. Fala inglês despudoradamente, quando Le Pen não se aventura pela língua de Shakespeare. “Transporto as exigências do optimismo e da esperança para o nosso futuro e para a Europa”, prometeu Macron, no discurso de vitória, em que agradeceu a todos que votaram nele. “Num ano, mudámos o rosto da vida política francesa”, afirmou.
Falou em reconciliação, um discurso positivo e de optimismo, em contraste com a linguagem de combate e mesmo vingança prometido por Marine Le Pen. “Quero construir uma maioria de governo e de transformação, de novos rostos, novos talentos. Não pergunto de onde vieram, mas se concordam com a renovação da nossa vida política, a segurança dos franceses, com a refundação da escola, da nossa sociedade e relançar a construção europeia”, disse Macron.
A passagem de Marine Le Pen à segunda volta das presidenciais, que se disputará a 7 de Maio, não será igual à do seu pai, em 2002 – que foi uma surpresa até para Jean-Marie Le Pen. Ela perseguiu este objectivo, quer governar, e tem-se preparado, reformando o partido de extrema-direita que herdou do pai em 2011, a Frente Nacional, captando quadros, implantando-se a nível nacional. Modernizando o partido.
Tem possibilidades de crescer, de aumentar a votação na segunda volta? Essa é a interrogação. Uma projecção Harris Interactive dá a vitória a Macron na segunda volta com 64% dos votos, face a Marine Le Pen – todas as sondagens têm dado valores desta ordem para a disputa final. Mas em França há um grande sentimento de revolta, e vontade de mudar mesmo tudo.
Macron representa uma França moderna, europeia, não necessariamente ideológica. É um candidato centrista – que diz “não ser de esquerda nem de direita”. Congregou imediatamente apoios. Christian Estrosi, do partido Os Republicanos, que não é um progressista, foi dos primeiros. Alain Juppé, muito tempo dado como o favorito para ser o candidato do centro-direita, ofereceu-lhe o seu voto. François Fillon, derrotado, prometeu que iria votar em Macron. “A derrota é minha apenas”, reconheceu.
À esquerda, o primeiro-ministro socialista Bernard Cazeneuve deu-lhe o seu apoio – bem como os ministros que apoiavam o mal-aventurado candidato do PS, Benoît Hamon, que teve uns humilnates 6% dos votos. Deixa o Partido Socialista com divisões profundas. Martine Aubry, presidente da Câmara de Lille, próxima de Hamon, apelou a que se faça uma barreira contra a Frente Nacional – mas não chegou a pedir o voto em Macron.
Há que ganhar a segunda volta – e a campanha, nestas duas semanas, vai ser dura, sem quartel. A Europa, as profundas desigualdades, o desemprego que entre os mais jovens supera os 20%, a imigração, vão estar na ribalta, de uma forma mais intensa do que até agora, quando eram 11 candidatos em liça. Marine Le Pen tem, teoricamente, poucas reservas de votos – mas pode haver surpresas. Muitos podem recusar-se simplesmente apoiar Macron – algumas sondagens diziam que os eleitores de Jean-Luc Mélenchon recusavam votar nele.
E finalmente, os desafios das eleições legislativas, em meados de Junho, vão começar a desenhar-se de forma mais precisa. Com quem se propõem governar Le Pen e Macron, sem terem por trás os grandes partidos tradicionais, feitos em cacos nestas eleições?