Há uma campanha para tirar a nacionalidade britânica a Asma al-Assad
O líder sírio tem na sua elegante mulher uma das suas principais defensoras. O que disse sobre os ataques com armas químicas levaram representantes de vários partidos a pedir ao Governo de Londres para agir.
A compostura e a violência, a inteligência e a brutalidade, o cosmopolitismo e o despotismo. Asma al-Assad, a primeira-dama da Síria, conjuga mundos que não se imaginam juntos. Mas há quem queira separar, pelo menos um pouco, estes dois mundos: o da inteligente britânica que parecia feita para uma carreira de sucesso e o da implacável primeira-dama síria que defende o brutal regime do marido.
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A compostura e a violência, a inteligência e a brutalidade, o cosmopolitismo e o despotismo. Asma al-Assad, a primeira-dama da Síria, conjuga mundos que não se imaginam juntos. Mas há quem queira separar, pelo menos um pouco, estes dois mundos: o da inteligente britânica que parecia feita para uma carreira de sucesso e o da implacável primeira-dama síria que defende o brutal regime do marido.
Na semana passada, surgiram apelos para que lhe fosse retirada a nacionalidade britânica.
Após um ataque químico que Washington, Londres, e a esmagadora maioria da comunidade internacional diz que foi levado a cabo pelo regime de Bashar al-Assad, os EUA lançaram um bombardeamento contra o aeroporto militar de onde saíram os aviões com os químicos. A mulher do líder sírio respondeu numa das suas contas nas redes sociais, e foi isso a gota de água para alguns britânicos.
"O que a América fez foi um acto irresponsável que só reflecte vistas curtas, uma cegueira política e militar", declarou Asma.
"A primeira-dama da Síria agiu não como uma cidadã mas como uma porta-voz da presidência síria", disse Tom Brake, porta-voz do Partido Liberal Democrata, que escreveu à ministra do Interior, Amber Rudd, para que exerça os seus poderes e retire a cidadania britânica de Asma.
O deputado conservador Nadhim Zahawi concordou e escreveu um artigo de opinião sublinhando que a mulher de Bashar "faz parte da máquina de propaganda do regime que comete crimes de guerra". Defende o marido, cujas forças são quem mais mata civis no conflito sírio, graças a armas como os barris de explosivos atirados de helicópteros que matam indiscriminadamente.
A conta de Instagram (não é claro quem a gere) mostra a primeira-dama entre "mártires", pessoas mortas no conflito da Síria vítimas dos rebeldes. Há fotografias de Asma entre mulheres, entre jovens. Dando apoio, dando comida.
Mas as redes sociais são abertas e assim as reacções coexistem: "beleza natural", reage alguém a uma das suas fotos na conta, onde pequenos corações e a hastag #WeLoveYouAsma se repetem. "Assassina", diz alguém de seguida.
Sempre foi motivo de interrogações como é que a jovem que vivera toda a vida em Londres se casou com o herdeiro de um poder ditatorial, familiar e brutal (o pai de Assad, Hafez, esmagou uma revolta na cidade de Hama em 1982 matando entre 20 mil e 30 mil pessoas), para viver em Damasco. Interrogações que eram, antes da chamada Primavera Árabe, sempre seguidas de afirmações sobre o desejo de abertura de Asma e de esta ser vista como uma boa influência no marido nos primeiros anos de Bashar no poder. Um perfil na revista Vogue sobre Asma foi especialmente ridicularizado por apresentar a casa da primeira-dama como "muito democrática", por os três filhos do casal terem votado na escolha de um candeeiro.
Mas com o regime a torturar miúdos de dez anos por escreverem num muro palavras anti-Assad em 2011, ou a ser o mais-que-provável autor do último ataque com armas químicas, o paradoxo assume um nível maior.
Após um dos ataques mais ferozes do regime, em 2012, foi mesmo feito um vídeo e um abaixo-assinado pedindo a Asma para exercer influência sobre o marido para que este parasse de matar sírios. Não foi isso que aconteceu.
Uma coisa é certa: Asma al-Assad é mais do que um ornamento do regime. Ela esteve no centro da sua propaganda – seja nas redes sociais ou nas entrevistas – e é aí que continua a estar. "Eles querem projectar normalidade e estabilidade", diz David Lesch, autor do livro Syria: The Fall of the House of Assad. "É importante da sua perspectiva apresentar um sistema que ainda funciona."
A última entrevista que Asma al-Assad deu foi a uma televisão russa. "Sim, deram-me hipótese de sair da Síria, com garantias de segurança, e até financeiras", descreveu Asma, o ligeiro sotaque de Londres no inglês. "Mas não é preciso ser um génio para saber o que é que estas pessoas queriam realmente. Foi uma tentativa deliberada para abalar a confiança das pessoas no seu Presidente."
Com os americanos a dizerem que não vêem um futuro para a Síria com Bashar al-Assad no poder e o Reino Unido a discutir retirar-lhe a cidadania, a posição de Asma será menos segura. Nada, no entanto, que se note nas imagens da sua conta no Instagram.