Entre o medo e a esperança
A disputa entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron será um choque de civilizações que vai ditar o futuro de todo o continente europeu durante toda a primeira metade do século XXI.
Este domingo a França votou pelo fim da V República. Os partidos que governaram o país durante cinquenta anos foram escorraçados da segunda volta das presidenciais e estão obrigados a perceber que as suas soluções já não são queridas por quem sente os problemas. Ao mesmo tempo a França apostou num duelo entre o medo e a esperança.
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Este domingo a França votou pelo fim da V República. Os partidos que governaram o país durante cinquenta anos foram escorraçados da segunda volta das presidenciais e estão obrigados a perceber que as suas soluções já não são queridas por quem sente os problemas. Ao mesmo tempo a França apostou num duelo entre o medo e a esperança.
A disputa entre Marine Le Pen e Emmanuel Macron será um choque de civilizações que vai ditar o futuro de todo o continente europeu durante toda a primeira metade do século XXI. A própria candidata da Frente Nacional assumiu os termos do confronto na forma como lhe convém: ser pela globalização ou pelo nacionalismo, ser pela União Europeia ou por França, ser pela sociedade aberta ou contra ela. Contra este discurso de medo e ódio, Macron terá de argumentar com a esperança sem ser lírico. A segunda volta terá de mostrar um Macron mais claro, mais objectivo na forma como vê a sua France en Marche – e já não chega apostar na frente anti-Le Pen.
Por tudo isto, é melhor não cantar vitória. Os sinais de ontem são preocupantes porque, nesta eleição, mais de quarenta por cento dos franceses votaram contra o sistema e contra a Europa. Le Pen é a líder deste voto, mas vale a pena não descontar quem escolheu Melénchon – o populista de extrema-esquerda tem tantos poros anti-Bruxelas como Le Pen e é tão demagogo como ela. Assim sendo, quem nele votou poderá ser mais facilmente seduzido pela demagogia de Le Pen do que pelo discurso mais centrista de Macron. E esses serão os votos que vão decidir a segunda volta das presidenciais.
O que é certo é que o sistema dualista francês morreu. A direita e a esquerda francesas já não se podem definir pelas forças políticas tradicionais, que foram claramente derrotadas pela pressão renovadora e revolucionária dos dois candidatos.
Para garantir a presidência, Macron terá de enfrentar dois perigos: o do excesso de confiança e da inexperiência. Poderá ainda ter de enfrentar um terceiro: os ataques que estão agora a ser planeados por terroristas para executar nas próximas duas semanas, com o objectivo de inclinar a eleição a favor de Le Pen. A França respondeu no domingo com desprezo face ao medo, ignorando olimpicamente as implicações do atentado. Terá de o fazer mais uma vez daqui a duas semanas.