Depois dele a fotografia de moda nunca mais foi a mesma
Irving Penn numa retrospectiva no Museu Metropolitan de Nova Iorque. Abre a 24 de Abril.
Quando para apresentar uma exposição se começa pela frase “a maior retrospectiva até hoje do grande fotógrafo americano Irving Penn (1917-2009)” é seguro dizer que a ambição é grande – em primeiro lugar porque é colossal e diverso o seu corpo de trabalho, em segundo porque são muitas as retrospectivas de Penn, profissional com 70 anos de carreira. A “ambição”, já se sabe, não é coisa que assuste o Metropolitan Museum (Met), em Nova Iorque, a instituição que se prepara para a inaugurar, na próxima segunda-feira, muito pelo contrário.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Quando para apresentar uma exposição se começa pela frase “a maior retrospectiva até hoje do grande fotógrafo americano Irving Penn (1917-2009)” é seguro dizer que a ambição é grande – em primeiro lugar porque é colossal e diverso o seu corpo de trabalho, em segundo porque são muitas as retrospectivas de Penn, profissional com 70 anos de carreira. A “ambição”, já se sabe, não é coisa que assuste o Metropolitan Museum (Met), em Nova Iorque, a instituição que se prepara para a inaugurar, na próxima segunda-feira, muito pelo contrário.
Irving Penn: Centennial (até 30 de Julho) é uma dupla celebração – a do centenário do nascimento deste fotógrafo que se notabilizou, sobretudo, pela fotografia de estúdio (e de moda em particular), marcada por uma atenção desmesurada à composição, absolutamente minimalista e meticulosa em cada pormenor; e a da doação de 150 fotografias da sua autoria, representativas das mais variadas fases e géneros da sua carreira, um presente da Fundação Irving Penn para o Met, anunciado em 2015.
O Met terá nesta doação de 150 fotografias o eixo central da exposição que incluirá outras obras que já pertenciam à sua colecção e vários empréstimos. Ao todo serão 200 imagens, dos retratos que Penn tirou a grandes celebridades do mundo cultural – o escritor americano Truman Capote, o pintor espanhol Pablo Picasso, o realizador sueco Ingmar Bergman, a escritora francesa Colette e a actriz alemã Marlene Dietrich, entre muitos outros – às séries icónicas que fez para grandes revistas de moda, muitas delas protagonizadas pela sua mulher, a bailarina e modelo Lisa Fonssagrives-Penn, que permaneceu um dos seus “temas” favoritos, desde que se cruzaram pela primeira vez nos anos 1940 até à sua morte, em 1992, passando pelas naturezas-mortas, ao mesmo tempo curiosas e intrigantes, e pelos nus femininos.
O Met tinha já no seu acervo 145 fotografias de Penn, entre elas 65 estudos de nus (1949-50) que o próprio fotógrafo ofereceu ao museu em 2002 e mais de 60 ampliações da célebre série Small Trades, composta por retratos de trabalhadores com as suas ferramentas feitos em Paris, Londres e Nova Iorque.
O museu, que começou a comprar fotografias de Penn logo em 1959, já lhe dedicou duas monográficas, a última das quais, em 2002, precisamente depois da doação dos estudos de nus (Irving Penn: Earthly Bodies).
Nos vários módulos de Irving Penn: Centennial, explica o museu no seu site, estarão expostas muitas das suas fotografias mais divulgadas e também muitas desconhecidas, algumas delas saídas dos seus 60 anos de trabalho para a revista de moda Vogue.
No texto em que apresenta a exposição o Met lembra ainda, precisamente, que Irving Penn era em primeiro lugar e acima de tudo um fotógrafo de moda a quem se devem verdadeiras obras-primas e novos padrões de referência para o universo da alta-costura: “As suas composições modernas e rigorosas, com cenários minimais e luz difusa, foram inovadoras e imensamente influentes.”
Irving Penn via-se, sobretudo, como um operário do estúdio, entregue aos seus instrumentos e técnicas, e desvalorizava muitas vezes o que sobre ele escreviam críticos e curadores. “O que realmente tento fazer é fotografar pessoas em repouso, num estado de serenidade”, dizia o homem para quem “uma boa fotografia é a que comunica um facto, toca o coração, e deixa o observador diferente depois de a ter visto”.
Conhecido pelo seu trabalho na moda, Irving Penn era também, garantem os comissários, Jeff L. Rosenheim (curador do departamento de fotografia do Met) e Maria Morris Hambourg (fundadora do mesmo departamento e hoje comissária independente), um “retratista inigualável”, com uma “apurada inteligência gráfica” e “uma sensibilidade de escultor [no que toca à relação] dos volumes com a luz”, algo a que não era certamente alheia a sua formação em pintura e design e que fez dele um autor de nus “soberbo”.
Um autor que fazia questão de controlar todas as fases do processo de criação: “Uma boa impressão é um valor em si mesma, não é uma coisa intermédia a caminho da página.”
A exposição é acompanhada por um catálogo de 370 páginas com 365 fotografias e textos sobre o percurso e a obra de Irving Penn. Catálogo e exposição juntos fazem-lhe o retrato – e a imagem que dele dão mostra como foi capaz de criar algo que é, ao mesmo tempo, novo, minimalista, rigoroso, sofisticado e cool.