Sarampo: Inspecção-Geral da Saúde vai averiguar contágio no Hospital de Cascais

Revelação foi feita pelo ministro da Saúde. Inspectora explica que vai ser necessário analisar o historial do que aconteceu no Hospital de Cascais.

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LUSA/ANDRE KOSTERS

A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) vai averiguar as circunstâncias em que ocorreram os casos de contágio de sarampo no Hospital de Cascais, mas ainda não está decidido se avança para a instauração de um inquérito ou se optará por outro tipo de acção inspectiva, esclareceu a inspectora-geral da Saúde, Leonor Furtado. “Estamos a realizar diligências”, disse a responsável, que sublinhou ser necessário analisar “o historial” do que sucedeu na unidade de saúde.

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A Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS) vai averiguar as circunstâncias em que ocorreram os casos de contágio de sarampo no Hospital de Cascais, mas ainda não está decidido se avança para a instauração de um inquérito ou se optará por outro tipo de acção inspectiva, esclareceu a inspectora-geral da Saúde, Leonor Furtado. “Estamos a realizar diligências”, disse a responsável, que sublinhou ser necessário analisar “o historial” do que sucedeu na unidade de saúde.

Foi o ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, que anunciou nesta sexta-feira que a IGAS está a averiguar o que se passou naquele hospital, onde foram registados vários casos de sarampo. Um bebé doente ali internado e que não estava vacinado terá contaminado vários profissionais de saúde e uma adolescente de 17 anos que, devido ao agravamento do seu estado de saúde, foi transferida para o Hospital Dona Estefânia, em Lisboa, onde morreu na quarta-feira, não resistindo a uma pneumonia bilateral.

“Sempre que acontece alguma dúvida sobre procedimentos ou comportamentos, nós actuamos de imediato. Já hoje [sexta-feira] falei com a senhora inspectora-geral" que "tomou o processo em mãos para também lá mais à frente esclarecer as pessoas, os cidadãos, sobre se houve ou não algum procedimento menos adequado”, explicou o ministro, citado pela Lusa.

A morte da jovem foi a primeira em muitos anos provocada pelo sarampo. Residente em Sintra, a adolescente não estava vacinada contra a doença. A família justificou-o com o facto de ter tido "uma reacção alérgica grave" a outra vacina em criança, segundo a directora clínica do Hospital de Cascais. Terá sido após um fim-de-semana que os sintomas de febre surgiram e obrigaram a uma ida à urgência de Cascais, onde foi medicada. Dias depois, quando a situação se agravou, voltou à unidade hospitalar, onde lhe terá sido diagnosticada mononucleose, de acordo com uma fonte próxima da família. 

Permaneceu internada entre 26 e 29 de Março, período durante o qual terá sido contagiada com sarampo através de um bebé de 13 meses também não vacinado devido a um atraso por razões clínicas, ainda segundo a directora do hospital. Teve alta, mas a 13 de Abril voltou à unidade de Cascais. O agravamento do seu estado de saúde determinou a transferência para o Hospital de Dona Estefânia, onde morreu.


"Pode ser necessário fazer um inquérito"

Agora, a IGAS vai averiguar o que se passou. “A partir do momento em que a senhora inspectora-geral se interessa pelo caso, não tem outra forma de trabalhar que não seja a abertura de um inquérito”, disse o ministro da Saúde. "Eventualmente, pode ser necessário fazer um inquérito", admitiu Leonor Furtado, que sublinhou, porém, que a inspecção ainda não está na posse de elementos suficientes para decidir se instaura um inquérito (que tem como objecto uma eventual responsabilidade por actos médicos) ou avança para outro tipo de acção inspectiva (para verificar se os procedimentos foram cumpridos e as regras respeitadas).

Até esta sexta-feira, havia 21 casos confirmados de sarampo, dos quais nove são profissionais de saúde. Destes, dois não têm registo de vacinação. O ministro sublinhou que não houve entretanto notícia de novos casos de sarampo confirmados. “Queremos reforçar aos portugueses a tranquilidade que procurámos transmitir logo no primeiro dia. Passados oito dias, acabámos por ser informados pelo Instituto Ricardo Jorge [Insa] de que não há mais nenhum caso positivo”, afirmou Adalberto Campos Fernandes.

Questionado pelos jornalistas sobre o facto de vários profissionais de saúde terem contraído sarampo e alguns não estarem vacinados, o governante enfatizou que a “recomendação forte” do ministério é: façam a vacina. “As administrações regionais de saúde estão a mobilizar-se para que as crianças que não tenham a vacina e profissionais que estejam sub-imunizados ou não tenham feito a vacina poderem fazê-la”, assegurou, adiantando que a Autoridade Nacional do Medicamento adquiriu um ‘stock’ adicional de 200 mil doses.

O Hospital de Cascais, que é gerido em Parceria Público-Privada (PPP) "estará, como sempre, disponível para colaborar no esclarecimento de qualquer questão", sublinhou a assessoria de imprensa da  unidade, frisando que o hospital "segue as melhores práticas clínicas associadas à humanização dos cuidados de saúde" e é periodicamente auditado pelo Estado.

O sarampo é uma doença muito contagiosa, que habitualmente é benigna, mas pode ter consequências mais graves. A vacinação é a única forma de prevenção, mas está também imunizado quem já teve a doença. As vacinas são gratuitas e dadas nos centros de saúde aos 12 meses (primeira dose) e aos cinco anos (segunda dose), no âmbito do Programa Nacional de Vacinação.