Quando fotografar pode ser "uma lição de vida"
"O povo é incrível, as manifestações de cultura foram tão intensas e genuínas que no fim acabas por trazer mais do que aquilo que deixaste lá", descreveu ao P3 Luis Godinho, vencedor do Prémio Nacional de Portugal dos Sony Awards
"A menina está pendurada na janela do autocarro para ficar o mais tempo possível perto de nós". Foi assim que Luis Godinho descreveu a fotografia "Janela" com que venceu o Prémio Nacional de Portugal dos Sony Awards deste ano. O fotógrafo açoriano falou ao P3 da sua experiência no Senegal. "Foi sem dúvida uma das mais ricas experiências da minha vida."
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"A menina está pendurada na janela do autocarro para ficar o mais tempo possível perto de nós". Foi assim que Luis Godinho descreveu a fotografia "Janela" com que venceu o Prémio Nacional de Portugal dos Sony Awards deste ano. O fotógrafo açoriano falou ao P3 da sua experiência no Senegal. "Foi sem dúvida uma das mais ricas experiências da minha vida."
Como foi para ti a experiência no Senegal junto da equipa da AMI?
Foi uma experiência que jamais esquecerei. Tinha esse sonho de ir lá, fiz um pedido especial para ir como fotógrafo, foi autorizado e lá fui eu. Viver aqueles dias no acampamento e com aquele povo foi sem dúvida uma das mais ricas experiências da minha vida. O povo é incrível, as manifestações de cultura foram tão intensas e genuínas que no fim acabas por trazer mais do que aquilo que deixaste lá. Claro que em algumas aldeias a água é escassa, noutras são escassos os cuidados de saúde e de educação, mas eles vão sobrevivendo com uma alegria contagiante. A AMI tem feito um trabalho fantástico para garantir àquele povo e a outros melhores condições de vida. Eu próprio andei a tomar banho aqueles dias com um púcaro, mas acaba por ser mais genuíno e verdadeiro quando vives como eles.
Como fotógrafo, sentiste facilidade em comunicar com as pessoas?
Muitas vezes coloca-se essa questão. Embora o meu francês seja muito limitado e o meu wolof pior ainda, acaba-se por, através de gestos, de sons e de um inglês e francês mal falado, encontrar uma solução para esta barreira. Daí, e apesar desse entrave, ter sido sempre fácil resolver algumas situações mais complicadas. São um povo fantástico e o modo de vida deles naquelas aldeias com escassos recursos é sem duvida uma lição de vida. Depois daqueles dias para mim "o copo estará sempre meio cheio."
Este prémio foi inesperado? Achas que pode mudar a tua carreira?
Durante o ano concorres a imensos concursos e, obviamente, se concorres tens sempre expectativa de ganhar. No entanto, não estás sozinho nestas corridas, tens de ter os pés bem assentes na terra, pois não só em Portugal existem fotógrafos com um talento imenso e com trabalhos incríveis. Inicialmente não acreditava, mas depois fui caindo em mim. Espero, acima de tudo, que apareça mais trabalho. É para isso que fotografamos todos os dias. O resto passa a correr e amanhã já não conta. Por isso é que lutamos todos os dias por essa paixão de forma a conseguir trabalho e sustento. Não estamos todos os dias à espero que o telefone toque.
Como te defines enquanto fotógrafo?
Sou simples, humilde, apaixonado pela vida e com uma vontade imensa de trabalhar. Tenho um "carinho" mais especial pela fotografia de rua e pelo fotojornalismo, mas fotografar o quotidiano, ou seja o mais banal e despercebido aos olhos de alguns, é um desafio diário. Durante o Verão fotografo imensos casamentos nos Açores — é um trabalho muito gratificante, pois registas o dia mais feliz da vida de alguém. As pessoas confiam em ti para isso. Por fim, e não menos importante, tenho as viagens, que são sempre fotografáveis e que faço com grande paixão.
O facto de seres açoriano coloca entraves ao teu desenvolvimento enquanto profissional?
Penso que não. Acho que quando és apaixonado por alguma coisa e não tens medo de trabalhar, nada pode ser um entrave enquanto profissional. Aqui o mercado é menor do que no continente, mas quando és dedicado aparece sempre algo para fazer. Eu tenho muito orgulho em ser açoriano e não sei se, de alguma forma, ter nascido nos Açores influenciou a minha maneira de ver o mundo. Aprendi a respeitar os outros, a ser humilde e a pensar todos os dias que é um novo dia e que vou aprender coisas novas. O caminho é longo e só tu o podes fazer.