May antecipou eleições e tornou mais provável um "smooth Brexit"

Mercados e UE acreditam que a primeira-ministra vai diminuir influência dos eurocépticos se conseguir uma vitória na linha do que prevêem as sondagens. “Se isto resultar, aumentam as hipóteses de um ‘Brexit’ pragmático”.

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Toby Melville/Reuters

Theresa May decidiu-se por novas eleições e, de imediato, a cotação da libra disparou e um vento de optimismo soprou sobre os investidores. Uma análise do Deutsche Bank descreveu a jogada como um “momento de viragem” para as iminentes negociações de saída do Reino Unido da União Europeia, prevendo que a votação de 8 de Junho “vai diluir a influência” dos eurocépticos sobre a primeira-ministra – esperança que é partilhada por muitos dirigentes europeus.

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Theresa May decidiu-se por novas eleições e, de imediato, a cotação da libra disparou e um vento de optimismo soprou sobre os investidores. Uma análise do Deutsche Bank descreveu a jogada como um “momento de viragem” para as iminentes negociações de saída do Reino Unido da União Europeia, prevendo que a votação de 8 de Junho “vai diluir a influência” dos eurocépticos sobre a primeira-ministra – esperança que é partilhada por muitos dirigentes europeus.

Publicamente, a líder conservadora insiste que mudou de opinião sobre a necessidade de antecipar as eleições por causa da oposição dos outros partidos aos seus planos para o “Brexit”. Mas nos corredores políticos, acredita-se que a verdadeira oposição que a preocupa é a interna, aquela que clama contra os milhões que Londres terá de pagar em contribuições antes de sair da UE e que se agarrou ao slogan de que “nenhum acordo é melhor do que um mau acordo”.

A acreditar nas sondagens, May conseguiria de uma assentada infligir uma derrota pesada aos trabalhistas, aumentando de tal forma a maioria conservadora no Parlamento que ficaria menos exposta a revoltas internas, sobretudo da ala mais à direita dos tories. “Se isto resultar, aumentam as hipóteses de um ‘Brexit’ pragmático”, disse ao Politico um ministro conservador, sob condição de anonimato, sublinhando que, apesar do que afirmou em Janeiro, para a primeira-ministra britânica “é quase impensável” uma saída do Reino Unido sem acordo.

“As hipóteses de um bom desfecho para as negociações do ‘Brexit’ aumentaram tremendamente”, disse à mesma publicação um alto responsável europeu. “Em vez de estar à mercê dos ‘brexiters’, May obterá um mandato muito, muito forte que a permitirá negociar um acordo razoável com a UE.”

A agência Bloomberg sublinha que a líder conservadora não deu qualquer sinal de recuo nos planos que já traçou para um “hard Brexit” – a começar pela saída do mercado único europeu, a fim de poder controlar a imigração e libertar-se da jurisdição do Tribunal de Justiça da UE – mas antecipar em três anos as eleições “pode torná-lo mais suave (smooth)”.

Sem a pressão dos eurocépticos nem a iminência de novas eleições – que passam agora a estar previstas apenas para 2022 – May chegará à fase final das negociações, entre o final de 2018 e o início de 2019, mais livre para aceitar os compromissos que a UE lhe exigirá quer para concluir um acordo de saída, quer para negociar um período de transição. Terá ainda margem para avançar com o futuro acordo de comércio livre que Bruxelas já garantiu que não será concluído antes de o Reino Unido sair da UE, em 2019. Segundo estes cálculos, uma saída desordenada da UE findos os dois anos previstos pelo artigo 50 do Tratado de Lisboa – o cenário tão temido pelas empresas e os bancos – torna-se menos provável.

Há, no entanto, vários “se” nesta estratégia. As sondagens nacionais, que em 2015 não anteciparam a maioria absoluta conseguida por David Cameron, o antecessor de May, estão longe de garantir que o sistema eleitoral britânico (círculos uninominais a uma volta) produzirá a maioria que May deseja. Por outro, sublinha Janan Ganesh no Financial Times, “o problema [de uma vitória por larga maioria dos conservadores] é que também irá diluir a influência dos deputados que apoiam uma saída suave ou gradual” da UE. E um mandato inequívoco das urnas, escreve o editorialista, “pode revelar uma conservadora mais absoluta do que os mercados imaginam”.