Eles queriam dar aos filhos “a melhor escola possível”. Por isso, construíram-na
Para além de encarregado de educação, Ricardo é agora sócio do colégio do filho. Uma ideia que começou como um desejo de três pais, concretizou-se três anos e dois milhões de euros depois.
Escolas não faltam em Mafra, mas nenhuma oferecia aquilo que queriam. Um grupo de encarregados de educação de um colégio no concelho decidiu, por isso, abrir os cordões à bolsa e construir “a melhor escola possível”, a que reunia tudo o que imaginavam para o local de ensino dos filhos.
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Escolas não faltam em Mafra, mas nenhuma oferecia aquilo que queriam. Um grupo de encarregados de educação de um colégio no concelho decidiu, por isso, abrir os cordões à bolsa e construir “a melhor escola possível”, a que reunia tudo o que imaginavam para o local de ensino dos filhos.
Procurando dar continuidade ao modelo educativo do Colégio Verde Água, fizeram crescer a escola que os filhos já frequentavam: até então apenas creche e pré-primária. Em Setembro, abrem portas as instalações de 1.º e 2.º ciclo, três anos e dois milhões de euros depois.
A ideia surgiu em conversa com três pais. Ricardo Calvão Silva era um deles. “Já que aqui não há e se a gente fizesse?”. Foi uma “questão que surgiu naturalmente”. Os filhos estavam a acabar a creche, os seis anos impunham que se procurasse uma escola primária. Este foi o primeiro plano: desenhar um plano de investimento, com capital próprio, para construir uma escola do primeiro ao quarto ano.
Faltava o know how que João Gavilan, um dos directores do colégio, tinha. Pensavam que convencê-lo seria o cabo dos trabalhos. “No quadro actual das coisas”, não passava pela cabeça dos directores – João e a mulher – fazer um investimento desta envergadura. “Mas a ideia estava de alguma forma recôndita na nossa mente”, conta. Acabaram por alinhar.
Quando partiram para a concretização, já eram cinco pais mais os directores. O projecto começou a ser pensado: arranjar terreno, concretizar ideias, reunir consensos, projectar uma escola que espelhasse os desejos de cada um. Depois, surgiu a necessidade de dar outro passo: crescer para o quintos e sextos anos. “Senão daqui a quatro anos íamos novamente bater na mesma questão”, antecipava Ricardo.
Juntaram-se mais dois pais, uma colaboradora da creche e um amigo. Fixou-se o preço final: dois milhões de euros.
Desde que a ideia começou a ser maturada passaram três anos. Dois de obras. Hoje, as paredes estão todas de pé e a relva já cresce.
Ainda poucos sabem da existência desta escola. Começaram a distribuir panfletos no final de Março. As pré-inscrições vão em poucas dezenas. Em Abril partiram para as visitas guiadas à escola para quem a quiser conhecer. Ainda não estão definidos os preços de inscrição nem das academias (actividades extracurricular para alunos do colégio e externos). A mensalidade de 1.º e 2.º ciclos irá rondar os 400 euros.
De pai, fez-se sócio
Para além de encarregado de educação, Ricardo é agora sócio da escola do filho. Garante que a ideia não é seleccionar os alunos. Mas a escola, 1.º e 2.º ciclos, nunca ultrapassará os 300 alunos. 250 era o ideal. O objectivo é criar micro-aldeias, “onde toda a gente se conhece”. As turmas não ultrapassam os 25.
Quando João Gavilan fala do modelo de ensino as frases saem-lhe redondas. “Tem como metodologia de base a escola moderna”; “O aluno é o centro de todo o processo de aprendizagem”. Trocado por miúdos, a intenção é que o aluno frequente a escola “não só pelas competências formais, mas pelas vivências de cidadania, habilitações informais e espírito crítico”. Explorar novas práticas pedagógicas que estimulem a autonomia e o espírito crítico dos alunos é um dos desígnios.
Há academias dentro do colégio com o objectivo de abrir o leque de qualificações e experiências dos alunos. A academia das artes, da música, do desporto (ginástica, esgrima, jiu jitsu, dança, ballet), das línguas (alemão, mandarim e espanhol) são espaços abertos a alunos do colégio e externos.
Directa e indirectamente, João espera criar 40 postos de trabalho. Tudo vai depender do sucesso das academias.
“Fazer este modelo de ensino coincidir com os espaços” era uma exigência de todos os sócios. Dos 11 mil metros quadrados de terreno, mais de metade são espaços de recreio. Uma parte é relvado. Há um ginásio, anfiteatro interior, salas e corredores largos.
Há um corredor principal que funciona como elo de ligação entre toda escola. Quer no sentido literal: é o espaço para onde se caminha para qualquer sala; quer no sentido figurado: é o local onde se encontram os alunos do primeiro ao sexto ano, e estes convivem com várias formas de expressão e de aprendizagem. O espaço é criado a pensar em exposições, palestras e eventos culturais. “É assim uma escola pensada de raiz?”, Ricardo Calvão Silva quer pensar que sim.