“Não existe um bom ou um mau momento para se fazer uma feira de arte”

Três perguntas à fundadora e directora da SP-Arte, Fernanda Feitosa.

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Fernanda Feitosa Jéssica Mangaba

Coleccionadora “ávida”, a fundadora e directora da SP-Arte defende – numa entrevista concedida ao PÚBLICO ainda a meio da 13.ª edição que encerrou no dia 9 – que as feiras têm de se realizar, com ou sem crise à volta. E acredita que, num ecossistema artístico deficitário como o brasileiro, eventos como este favorecem não apenas os negócios de galeristas e coleccionadores privados mas também a endurance das colecções públicas: o programa de estímulo à doação que a SP-Arte lançou em 2008 alcançou este ano, aliás, o número-recorde de 23 obras doadas.

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Coleccionadora “ávida”, a fundadora e directora da SP-Arte defende – numa entrevista concedida ao PÚBLICO ainda a meio da 13.ª edição que encerrou no dia 9 – que as feiras têm de se realizar, com ou sem crise à volta. E acredita que, num ecossistema artístico deficitário como o brasileiro, eventos como este favorecem não apenas os negócios de galeristas e coleccionadores privados mas também a endurance das colecções públicas: o programa de estímulo à doação que a SP-Arte lançou em 2008 alcançou este ano, aliás, o número-recorde de 23 obras doadas.

Pelo segundo ano consecutivo, a SP-Arte decorre num contexto de declarada crise económica. O mercado da arte brasileiro foi muito afectado?
Não existe um bom ou um mau momento para se fazer uma feira de arte: a SP-Arte existe, tem uma agenda, e há todo um sistema que orbita ao redor dessa agenda. As feiras de arte no Brasil têm um papel muito importante, porque 30 por cento da facturação anual de muitas galerias ocorre aqui – não podemos dar-nos ao luxo de não fazer, e acho até mais importante fazer nestas alturas, venda-se mais ou venda-se menos. O Brasil sempre passou por muitas crises, e estamos enfrentando mais essa de cabeça erguida. Uma das coisas que mais se falou nesses dias foi que a qualidade dos trabalhos está muito alta; é uma demonstração de que os ânimos não se afundaram.

Mas sentiu-se nestes dois anos uma fragilização do mercado?
Comparando com os anos em que o optimismo no Brasil ainda era muito grande, houve uma retracção natural, dado o carácter agudo desta crise. Portugal passou o mesmo, e está vivendo agora um ciclo oposto, com uma pequena recuperação, que deu ar à ArcoLisboa. Mas desde que esta crise se iniciou tem havido uma menor circulação de obras de arte do que nas crises anteriores em que muitas pessoas se desfizeram de peças das suas colecções. Não se repetiu essa tendência.

Os coleccionadores que compram obras nesta feira devem assumir responsabilidades pela sua difusão – nomeadamente quando se trata de obras estrangeiras que as instituições no Brasil têm mais dificuldade em adquirir e fazer circular?
Sem dúvida. Em todo o mundo os coleccionadores têm um papel importante: primeiro porque ajudam a mover as engrenagens do circuito e a escoar a produção artística, e depois assumindo responsabilidades de carácter público. Muitos no Brasil exercem o papel de patronos e ajudam a dirigir os museus, ou participam voluntariamente, pro bono, em conselhos deliberativos, entrando na discussão sobre como devem ser geridos neste contexto em que os recursos não são infinitos e o Estado vai-se retirando para priorizar outras políticas públicas. O meu marido [Heitor Martins], por exemplo, já dirigiu a Bienal de São Paulo e dirige agora o MASP nas horas vagas do seu trabalho como director de uma empresa de consultoria [a McKinsey]. Outros têm sido importantes pelas suas doações. Nos últimos nove anos, a SP-Arte vem fomentando um programa que já promoveu mais de cem doações: é uma oportunidade para deixar público um legado, mas é também um lembrete para a comunidade de que os cidadãos são responsáveis pelo que acontece culturalmente no seu país.

O PÚBLICO viajou a convite da SP-Arte