A História do Holocausto vai ter novas páginas

Pastas do arquivo da Comissão de Crimes de Guerra da ONU vão ser abertas esta semana ao público pela primeira vez em Londres.

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Auschwitz é um dos campos de concentração mais famigerados Adriano Miranda

Os ficheiros são muitos, e incluem PDF com mais de 2000 páginas. Neles, estão contidas informações e detalhes de uma das histórias mais macabras da humanidade, a do Holocausto dos judeus, perpetrado pelos nazis. Até aqui guardados longe do olhar do público, nos armários da Comissão de Crimes de Guerra da Organização das Nações Unidas, vão ser disponibilizados esta semana pela primeira vez através da biblioteca Wiener, em Londres.

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Os ficheiros são muitos, e incluem PDF com mais de 2000 páginas. Neles, estão contidas informações e detalhes de uma das histórias mais macabras da humanidade, a do Holocausto dos judeus, perpetrado pelos nazis. Até aqui guardados longe do olhar do público, nos armários da Comissão de Crimes de Guerra da Organização das Nações Unidas, vão ser disponibilizados esta semana pela primeira vez através da biblioteca Wiener, em Londres.

“Antecipamos um enorme interesse”, afirmou ao jornal The Guardian o responsável pelo arquivo da biblioteca Wiener, Howard Falksohn. “É bem possível que sejam reescritos capítulos cruciais [da História] com a nova documentação disponível”, acrescentou em declarações ao jornal britânico, que avançou esta terça-feira com a notícia da abertura do espólio. Segundo as informações disponibilizadas, o catálogo da Comissão de Crimes de Guerra da ONU vai estar online, podendo depois as pessoas consultar o arquivo na biblioteca Wiener, situada no centro da capital londrina.

De acordo com The Guardian, entre a documentação estão provas da existência de campos de concentração como o de Auschwitz e Treblinka (onde morreram milhões de judeus, e também muitos não judeus), muito antes da chegada dos Aliados, devido a informações que o Governo polaco no exílio conseguiu fazer passar entre as linhas alemãs.

Em declarações ao PÚBLICO, o historiador britânico Antony Beevor, especialista da II Guerra Mundial e autor de obras como A queda de Berlim, considera que o arquivo irá “fornecer vários detalhes”, mas diz que ficaria “surpreendido” se houvesse “a revelação de material que alterasse de forma substancial a nossa perspectiva” actual.  

Cinco anos de investigações e acusações

A abertura do arquivo coincide com o lançamento de Human Rights After Hitler: The Lost History of Prosecuting Axis War Crimes, obra escrita por Dan Plesch, que acedeu à documentação em causa durante uma década. Até agora, apenas investigadores autorizados podiam consultar o arquivo em Washington, e sem poder tomar notas ou fazer cópias. De acordo com o The Guardian, graças a uma iniciativa de Plesch, director do centro de estudos internacionais e diplomacia da SOAS/Universidade de Londres, a ONU permitiu a cópia do arquivo e a sua disponibilização a partir de Londres.

Foi em Outubro de 1943 que foi criada a Comissão de Crimes de Guerra das Nações Unidas, já a pensar no final do conflito e reunindo 17 nações aliadas (a URSS ficou de fora). A sua missão era reunir as informações necessárias para depois encontrar, prender e julgar as pessoas acusadas de crimes de guerra (além muitas personalidades alemãs, incluía também seus apoiantes e responsáveis do Japão).

De acordo com dados da ONU, esta comissão teve a sua primeira reunião oficial a 11 de Janeiro de 1944, acabando por ser extinta em Março de 1948 (já com a Guerra Fria a tomar forma). Desses anos ficou uma vasta documentação (38,810 ficheiros), desde listas de criminosos, suspeitos e testemunhas (cerca de 37 mil nomes) até correspondência trocada, passando por transcrições e relatórios.

As raízes da biblioteca Wiener remontam a 1933, ano em que Alfred Wiener, um judeu alemão, começou a coleccionar propaganda anti-semita, e a combater o nazismo. Hoje, a biblioteca que fundou (Wiener conseguiu escapar para Londres) contém o arquivo mais extenso sobre o extermínio dos judeus e o nazismo, tornado agora ainda maior. A abertura da documentação, diz Plesch, é “um enorme recurso para combater a negação do Holocausto”.