Já há uma comissão para lutar contra a EMEL em Carnide
População quer colocar placas à volta dos parquímetros com "frases criativas" a explicar "o quão ridícula é a cobrança de estacionamento nesta zona". Mas esta é apenas a primeira de mais acções, garantem.
Um conjunto de moradores, comerciantes e dirigentes associativos de Carnide decidiu criar uma comissão para pensar em mais formas de lutar contra a cobrança de estacionamento no centro histórico da freguesia. E, sobretudo, para pressionar a Câmara Municipal de Lisboa a pôr no terreno os vários projectos de requalificação do espaço público prometidos para a zona há vários anos.
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Um conjunto de moradores, comerciantes e dirigentes associativos de Carnide decidiu criar uma comissão para pensar em mais formas de lutar contra a cobrança de estacionamento no centro histórico da freguesia. E, sobretudo, para pressionar a Câmara Municipal de Lisboa a pôr no terreno os vários projectos de requalificação do espaço público prometidos para a zona há vários anos.
A comissão foi criada numa reunião nesta segunda-feira à noite, praticamente duas semanas depois de Carnide ter saltado para a ribalta devido à revolta da população contra a Empresa Municipal de Mobilidade e Estacionamento de Lisboa (EMEL). Na madrugada de 6 de Abril, dezenas de pessoas arrancaram 12 parquímetros das ruas do centro da freguesia em protesto contra a falta de diálogo da empresa e da câmara com a junta e os habitantes.
Em Carnide há a sensação de que se fez história. “Foi bom termos feito esta revolução”, dizia um morador ao presidente da junta ainda antes de começar o encontro desta segunda, na Casa do Coreto, no coração da freguesia. Lá dentro, à excepção de uma voz dissonante, as palavras foram de apoio à iniciativa e de irritação com a câmara municipal. “Temos consciência de que não somos nenhuns vândalos nem ladrões”, disse o presidente da junta, Fábio Sousa (CDU), que classificou a retirada dos parquímetros como “uma acção simbólica muito importante para a cidade e até para o país”.
“Somos pessoas de bem, não nos tratem como uns desordeiros”, pediu o morador Luís Águas, que se queixou de haver “actos persecutórios contra este pequeno território” por parte da autarquia e da EMEL. Outros participantes na reunião, onde estiveram cerca de 80 pessoas, criticaram directamente Fernando Medina pela reacção que teve há duas semanas. “Deu para estalar o verniz àquela figura de cera, que afinal não é nada daquilo que aparece na televisão”, disse um morador. “Repudio a forma indecorosa como nos chamaram vândalos. Condeno o senhor presidente da câmara, não lhe admito que faça tal acusação”, atirou outra habitante da freguesia.
Ficou decidido que uma das primeiras tarefas da recém-criada comissão será pensar num conjunto de “frases criativas” para escrever em placas que os carnidenses querem pôr à volta dos parquímetros, entretanto reinstalados e a funcionar. É para que “quem venha tenha a plena noção do quão ridícula é a cobrança de estacionamento nesta zona”, disse Fábio Sousa já no fim.
Também não ficou excluída a hipótese de a referida comissão aparecer em cerimónias públicas da câmara para se manifestar. Mas, acima de tudo, os moradores, comerciantes e dirigentes associativos presentes na reunião exigem que sejam implementados os três projectos dos Orçamentos Participativos de 2014 e 2015 que a freguesia ganhou. Eles prevêem a requalificação de várias ruas do centro de Carnide, actualmente esburacadas e com más condições de acessibilidade, tanto rodoviária como pedonal. A população exige igualmente que se crie um parque de estacionamento de 200 lugares, prometido pela câmara há vários anos.
“Quando se faz um orçamento participativo é só para enfeitar?”, exaltou-se Luís Rodrigues, que quer que a comissão sirva para “obrigar as pessoas a fazer o que está prometido”. “A câmara não fez nada”, criticou Luís Águas. “Ela é que entrou em incumprimento, não fomos nós.”
“Eu não sei se têm noção, mas este é um momento histórico”, comentou o presidente da junta Fábio Sousa, já depois de pelo menos dez pessoas se terem voluntariado para fazer parte da comissão. Para o autarca, o fito deste novo grupo é “continuar a mostrar a este país que estamos tristes, mas mobilizados”. “Se não todos os dias, quase todos os dias temos de lembrar ao presidente da câmara que existe Carnide, onde existem pessoas, onde existem problemas”, concluiu.