Votos da diáspora turca podem fazer a diferença
Turcos no estrangeiro tendem a votar no partido de Erdogan, daí que a maior participação no referendo sugira boas notícias para o campo do "sim".
Os turcos que vivem fora do país tornaram-se uma peça da campanha para o referendo de hoje na Turquia – quando as sondagens previam um resultado muito próximo para o “sim” e para o “não”, os votos dos emigrantes poderiam fazer a diferença. Por outro lado, a polémica sobre cidades na Alemanha e Holanda que proibiram ministros de fazer campanha e a subida de tensão que daí veio – com protestos de apoiantes do Governo turco a apunhalarem laranjas no caso da Holanda, ou o próprio Presidente, Recep Tayyip Erdogan, a falar de nazismo na Europa a propósito da Alemanha – servem para fortalecer o sentimento nacionalista e trazer votos ao “sim”.
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Os turcos que vivem fora do país tornaram-se uma peça da campanha para o referendo de hoje na Turquia – quando as sondagens previam um resultado muito próximo para o “sim” e para o “não”, os votos dos emigrantes poderiam fazer a diferença. Por outro lado, a polémica sobre cidades na Alemanha e Holanda que proibiram ministros de fazer campanha e a subida de tensão que daí veio – com protestos de apoiantes do Governo turco a apunhalarem laranjas no caso da Holanda, ou o próprio Presidente, Recep Tayyip Erdogan, a falar de nazismo na Europa a propósito da Alemanha – servem para fortalecer o sentimento nacionalista e trazer votos ao “sim”.
Na Alemanha, a imprensa seguiu a campanha como se se tratasse quase de uma eleição local – afinal, há entre 2,5 e 4 milhões de turcos, ou alemães com ascendência turca na Alemanha; 1,4 milhões puderam votar no referendo (e mais de metade fê-lo).
Muitos preferiam não falar com jornalistas, temendo consequências – de discussões com amigos a algo pior. As notícias de que os serviços de informação turcos espiaram turcos na Alemanha e até alemães deixou muitos desconfiados. Entre os apoiantes do “não” no referendo, houve quem não fosse votar por ter medo que esse voto ficasse registado, que lhes fosse retirado o passaporte, ou algo semelhante, disse Müerver Öztürk, deputada do parlamento de Hessen com raízes turcas, que fez campanha pelo “não”, ao Financial Times.
Fazer campanha pelo “não” não é fácil numa comunidade turca polarizada e em que se estima que uma maioria seja apoiante do AKP e de Erdogan – e numa extrapolação, pensa-se assim que mais provável que apoie o “sim” no referendo proposto pelo Presidente. Özturk, e outros turcos que defendem o “não,” são acusados de serem “traidores”. Os que defendem o “sim” são criticados por “defender um tirano”.
A polarização da sociedade turca espelha-se na comunidade na diáspora. Uma estudante que não quis ser nomeada contou ao Financial Times que nunca viu a comunidade tão dividida: “Agora perguntam se és sunita, ou curda, ou xiita alevita. Se não és do AKP, não pertences” à comunidade, queixa-se.
Arik, 22 anos, nascido em Berlim, diz ao jornal Berliner Morgenpost que vai votar “sim”: “O tipo de democracia que temos aqui não funciona na Turquia”, explicou. “O Exército é demasiado poderoso, é preciso desmontar esse sistema”, declara depois de votar no consulado.
Arik diz ainda que tem orgulho na força económica da Turquia sob Erdogan, algo que foi explorado numa carta enviada aos turcos na Alemanha apelando ao voto no “sim”.
Do outro lado, o maior inimigo do “não parece ser a ideia de que o futuro já está traçado: “Não interessa o que eu voto, eles vão manipular os resultados de qualquer modo”, diz um habitante de uma pequena cidade alemã sob anonimato ao Financial Times.