Veep: quando a sátira televisiva tem de concorrer com as notícias
O PÚBLICO falou com Tony Hale, um dos protagonistas de Veep, a comédia sobre os bastidores da política americana que se parece cada vez mais com um documentário.
A ficção televisiva dos EUA há muito que ultrapassou a realidade no que ao género do seu presidente diz respeito. A televisão já teve mulheres na Casa Branca, de “24” a “Prison Break”, de “Commander in Chief” a “Supergirl” (a mais recente é "Segurança Nacional"), mas há uma série que já teve duas. “Veep” é esse universo alternativo, uma sátira dos bastidores da política norte-americana produzida pela HBO cuja sexta temporada estreou nesta madrugada e que pode ser vista em Portugal no canal TVSéries. Só que o mundo mudou bastante nos últimos meses e o que antes de Trump parecia ridículo, agora tem outra dose de verosimilhança. Ou seja, a realidade voltou a ultrapassar a ficção (ou, pelo menos, ficou outra vez mais perto) e “Veep” tem de subir o tom.
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A ficção televisiva dos EUA há muito que ultrapassou a realidade no que ao género do seu presidente diz respeito. A televisão já teve mulheres na Casa Branca, de “24” a “Prison Break”, de “Commander in Chief” a “Supergirl” (a mais recente é "Segurança Nacional"), mas há uma série que já teve duas. “Veep” é esse universo alternativo, uma sátira dos bastidores da política norte-americana produzida pela HBO cuja sexta temporada estreou nesta madrugada e que pode ser vista em Portugal no canal TVSéries. Só que o mundo mudou bastante nos últimos meses e o que antes de Trump parecia ridículo, agora tem outra dose de verosimilhança. Ou seja, a realidade voltou a ultrapassar a ficção (ou, pelo menos, ficou outra vez mais perto) e “Veep” tem de subir o tom.
“’Veep’ não é um espelho da política americana, mas é um desafio cada vez maior fazer sátira neste clima político. Ligamos nas notícias na CNN e pensamos logo ‘Eles também fazem sátira’. Se Trump fosse uma personagem de ‘Veep’, as pessoas não acreditavam, porque era demasiado” diz ao PÚBLICO Tony Hale, o actor que encarna Gary Walsh, o assessor pessoal de Selina Meyer (Julia Louis-Dreyfus), a ex-vice e ex-presidente deste universo alternativo onde não existe Trump, nem Hillary Clinton, Bernie Sanders ou Obama – não há, aliás, referência a quaisquer políticos norte-americanos depois de Ronald Reagan, presidente entre 1981 e 1989.
Na sexta temporada, a segunda sem Armando Ianucci, o criador do original inglês "The Thick of It" e responsável pela sua adaptação para os EUA, Selina enfrenta a vida após o seu curto reinado na Casa Branca e tenta manter-se relevante (e, quem sabe, voltar a candidatar-se). Quer escrever as suas memórias (mas não lhe pagam muito por isso), quer uma biblioteca presidencial (mesmo que tenha ocupado o cargo durante menos de um ano) e tenta espremer o mais que pode a única relevância histórica da sua administração, ter sido a primeira mulher presidente, mas não consegue sair da sombra da outra mulher que lhe sucedeu no cargo. Mesmo afastada do poder, Selina tem sempre o capacho Gary para lhe massajar o ego.
Não se sabe se Selina é democrata ou republicana, e não tem um modelo óbvio na vida real, mas Tony Hale vê bastante de Trump nela. “Tem mentalidades semelhantes, mas não há um modelo no qual ela se baseia. Quando a série estreou [em 2012], muita gente dizia que era uma paródia da Sarah Palin. Há muita coisa de Trump na Selina. Diria que cerca de 80 por cento, mas ela tem melhor cabelo”, diz o actor, que já ganhou o Emmy para melhor secundário de comédia por duas vezes em 2013 e 2015 – “Veep” é um crónico nomeado e vencedor de tudo o que seja prémios de televisão, entre Emmys, Globos de Ouro, Critic’s Choice, Screen Actors Guild, etc.
A verosimilhança de “Veep” ao longo dos anos é algo que Tony Hale e os seus colegas de elenco costumam discutir. “Há coisas que acontecem no programa que depois aparecem, de uma forma ou de outra, na vida real. Mandamos e-mails uns aos outros com notícias. Não acredito que isto está a acontecer”, reforça Hale, que não acredita que o Presidente Trump seja espectador assíduo de “Veep”, mas garante que há gente com responsabilidades em Washington que vê e se revê em algumas coisas que a série mostra.
“Ficaria muito surpreendido se ele visse. Posso é dizer que muita gente em Washington gosta muito da série, porque mostramos um pouco do poderá estar a acontecer por trás da cortina. Quem trabalha em Washington, vê no nosso programa coisas que não vê nas notícias. Incluindo políticos”, refere o actor de 46 anos, esperando que as pessoas consigam rir-se sem culpa com está sátira que quase se transformou num documentário de bastidores: “Para quem está a viver este clima político, talvez seja difícil rirem-se com ‘Veep’. Mas espero que seja um bom escape para as pessoas e que se riam sem culpa. Que seja uma boa forma de aliviar a tensão.”