O Livro do Desassossego enfiado numa caixa, num lápis, num puzzle
O inglês Tim Hopkins decidiu publicar uma nova edição d'O Livro do Desassossego, a obra-prima póstuma de Fernando Pessoa, e levou à letra a natureza fragmentária dos textos que nos deixou o heterónimo Bernardo Soares.
O inglês Tim Hopkins é um pessoano e, naturalmente, tem em grande apreço O Livro do Desassossego, assinado pelo heterónimo Bernardo Soares. Tim Hopkins é o fundador da tipografia Half Pint Press, no sudeste de Londres. Juntou o seu ofício com o seu gosto literário e teve uma ideia. Reeditar a obra póstuma de Pessoa. Não reeditá-la simplesmente, mas dar-lhe a forma que Hopkins julgou a mais fiel e adequada, mas definitivamente surpreendente, à natureza fragmentária dos textos que o ajudante de guarda-livros nos deixou.
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O inglês Tim Hopkins é um pessoano e, naturalmente, tem em grande apreço O Livro do Desassossego, assinado pelo heterónimo Bernardo Soares. Tim Hopkins é o fundador da tipografia Half Pint Press, no sudeste de Londres. Juntou o seu ofício com o seu gosto literário e teve uma ideia. Reeditar a obra póstuma de Pessoa. Não reeditá-la simplesmente, mas dar-lhe a forma que Hopkins julgou a mais fiel e adequada, mas definitivamente surpreendente, à natureza fragmentária dos textos que o ajudante de guarda-livros nos deixou.
“Na minha cabeça, [o livro] era uma caixa cheia de coisas que ele estava a tentar não deitar fora, e era isso que tentava evocar”, disse o tipógrafo à publicação online The Outline, explicando assim porque é a sua edição d’O Livro do Desassossego tão estranha, tão peculiar. É certo que estamos perante uma obra que podemos descobrir mergulhando em páginas diferentes, saltando porções de texto, avançando por princípio, meio e fim, mas não necessariamente por essa ordem, como diria Godard, mas Hopkins leva essa ideia às últimas consequências. A edição de Hopkins é constituída por uma caixa que guarda o texto no seu interior (ou melhor, 60 passagens da obra, selecionadas pelo editor). Abrindo-a, vemos lápis, cartas de jogar, envelopes, velhas fotografias de casamento, listas do British Musuem, peças de puzzle. É neste objectos que estão inscritos os textos, sem ligação óbvia entre uns e outros – o critério, explica Hopkins, era encontrar peças com a dimensão certa para encaixar os excertos selecionados.
O trabalho foi desenvolvido ao longo de dois anos e, durante esse período, Tim Hopkins começou a ver O Livro do Desassossego de uma forma diferente. Começou a encontrar-lhe um humor que não vislumbrara antes. “Quando vivemos dentro dele durante um certo período de tempo, algumas das coisas que [Pessoa] escreveu e que provocam um sorriso sombrio, são coisas que não pareciam necessariamente humorísticas inicialmente”, disse à The Outline.
Tim Hopkins utilizou a tradução de Margaret Jull Costa para a Serpent’s Tail, publicada originalmente em 1993. O preço de venda da nova edição são 100 libras (cerca de 117 euros).