Suomenlinna, uma fortaleza finlandesa que se prolonga debaixo de água
Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, tem sido motivo de investigação há 20 anos, mas ainda há muito a fazer a nível arqueológico.
Rodeada por vários lados por mar, a Finlândia tem um fundo marítimo imenso por explorar, mas o investimento na arqueologia marinha tem sido pouco. Ou não fosse disso exemplo o facto de Minna Koivikko e Riikka Alvik, que trabalham na Autoridade Nacional de Antiguidades da Finlândia, serem as duas únicas arqueólogas marinhas no quadro daquela instituição do Ministério da Educação e da Cultura finlandês.
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Rodeada por vários lados por mar, a Finlândia tem um fundo marítimo imenso por explorar, mas o investimento na arqueologia marinha tem sido pouco. Ou não fosse disso exemplo o facto de Minna Koivikko e Riikka Alvik, que trabalham na Autoridade Nacional de Antiguidades da Finlândia, serem as duas únicas arqueólogas marinhas no quadro daquela instituição do Ministério da Educação e da Cultura finlandês.
Suomenlinna é uma fortaleza militar construída em oito ilhas perto da costa de Helsínquia, a capital da Finlândia. Erguida no século XVII pela Suécia, a fortaleza já fez parte do domínio da Rússia até ao início do século XX. Faz portanto agora 100 anos que está sob domínio finlandês. Em 1991 tornou-se Património Mundial da Humanidade pela UNESCO e há 20 anos que tem estado a estudar-se o património de Suomenlinna tapado pela água, numa área de 80 hectares. Minna Koivikko tem feito parte desses trabalhos arqueológicos e este é também o tema da sua tese de doutoramento.
“Tenho estudado a paisagem cultural debaixo de água e a forma como os destroços de navios antigos têm estado a ser reciclados. Isto nunca tinha sido feito antes”, diz-nos na altura em que apresentou este trabalho na 3.ª Conferência Europeia de Mergulho Científico, realizada no final de Março, no Funchal. Tem investigado assim o trabalho das construções de Suomenlinna debaixo de água, tal como canais, destroços de pilares e cais, barragens feitas de troncos e navios afundados em várias épocas. Ao todo, usando sonares laterais, que permitem ver o fundo do mar, já tem uma lista com cerca de 100 sítios na zona de Suomenlinna, embora com informação ainda superficial. “Ainda há muito a desenvolver a nível arqueológico em Suomenlinna”, ressalva.
Ainda para comemorar os 100 anos desta fortaleza sob domínio da Finlândia, foi feita no museu de Suomenlinna uma exposição da sua paisagem debaixo de água a três dimensões.
Na sua apresentação no Funchal, Minna Koivikko salientou a importância de Suomenlinna, que teve na sua história a influência de várias culturas: por ano, a fortaleza recebe cerca de um milhão de visitas.
A arqueóloga também expôs as dificuldades do mergulho científico nos países nórdicos, como a falta de visibilidade das águas, o tráfego marítimo e as temperaturas muito baixas. “É uma loucura mergulhar na Finlândia. Está realmente frio”, conta-nos. “No Verão, até está bom, estão uns 17 graus [em Agosto e Setembro]. Mas o Inverno é que é muito bom para o mergulho científico, porque não temos tráfego e há mais visibilidade. Pode estar mais frio, mas as condições são melhores.”
Já o trabalho da sua colega Riikka Alvik é sobre o navio Vrow Maria, naufragado em águas finlandesas na segunda metade do século XVIII, durante uma viagem de Amesterdão para São Petersburgo. No golfo da Finlândia, o navio chocou com as rochas perto da costa e acabou por naufragar. Veio a ser descoberto em 1999 e, desde então, tem sido motivo de estudo de Riikka Alvik. “Era um navio holandês para o comércio no Báltico”, conta esta arqueóloga. Mas o interesse de Riikka Alvik não tem sido propriamente a embarcação, mas sim a sua carga, explicou também na conferência no Funchal.
Uma passagem por Portugal
Entre a carga do navio havia têxteis, 11 pinturas ou granza (raiz de planta rubiácea em pó, que era usada como corante). “Os suecos tinham muita tradição na botânica e a nobreza da Rússia também gostava muito de jardins. Isto está ligado às histórias das pessoas [por onde passava a embarcação]”, afirma Riikka Alvik. Já os 11 quadros chegaram a suscitar troca de correspondência entre a nobreza russa e as autoridades da Suécia, país que dominava o golfo da Finlândia na altura. “Os quadros que iam a bordo são especiais. Havia pinturas de um artista dinamarquês do século XVI.”
Neste momento, o trabalho de campo já terminou e a arqueóloga está a analisar e a catalogar os quadros que se encontravam na cabine do comandante. “Há fontes escritas [sobre os quadros], mas há contradições entre elas”, refere. E este navio chegou a passar por águas portuguesas? “Os arquivos de cinco países diferentes que investiguei dizem que em 1765 transportou vinho a partir de Lisboa [onde fez escala]. Há uma ligação com Portugal. Mas o vinho que transportava era de uma zona do Mediterrâneo para as classes altas do Báltico.”
O PÚBLICO viajou a convite da Câmara Municipal do Funchal