A mãe de todas as bombas no Afeganistão foi "mais um trabalho bem-sucedido"
Estados Unidos lançam a sua bomba convencional mais potente no Afeganistão, contra um complexo usado por algumas centenas de militantes do Daesh.
Os islamistas do Daesh no Afeganistão já tinham sido bombardeados mais de 400 vezes desde o início do ano pela aviação norte-americana, e as forças da coligação internacional já tinham comido dois terços da área que eles chegaram a ocupar no país. Ainda assim, foi num complexo situado numa zona remota da província afegã de Nangarhar, junto ao Paquistão, que os Estados Unidos pintaram um alvo e largaram pela primeira vez na História, em combate, a sua "mãe de todas as bombas" – a mais potente do arsenal norte-americano à excepção das armas nucleares.
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Os islamistas do Daesh no Afeganistão já tinham sido bombardeados mais de 400 vezes desde o início do ano pela aviação norte-americana, e as forças da coligação internacional já tinham comido dois terços da área que eles chegaram a ocupar no país. Ainda assim, foi num complexo situado numa zona remota da província afegã de Nangarhar, junto ao Paquistão, que os Estados Unidos pintaram um alvo e largaram pela primeira vez na História, em combate, a sua "mãe de todas as bombas" – a mais potente do arsenal norte-americano à excepção das armas nucleares.
O Pentágono não avançou muitas explicações, e ainda está por se saber que estrago provocou a detonação da GBU-43/B, conhecida pela sigla MOAB, que se desdobra no mais técnico Massive Ordnance Air Blast e no mais assustador Mother Of All Bombs (mãe de todas as bombas).
O comandante das forças norte-americanas no Afeganistão, o general John W. Nicholson, disse que a bomba usada foi "a munição certa" para atacar os militantes do Daesh no Afeganistão – um grupo que conta actualmente com um máximo de 800 combatentes e que divide o seu tempo a lutar contra as forças da coligação liderada pelos Estados Unidos e contra os taliban, principalmente na província de Nangarhar.
Quando chegaram ao Afeganistão, no início de 2015, eram uns 3000, mas nunca passaram de uma sombra da ameaça do Daesh na Síria e no Iraque – cresceram nesta zona do Afeganistão para lutarem pelo controlo de uma parcela de território a que chamam província de Khorasan, que se estende por zonas do Afeganistão e do Paquistão. Na semana passada, o capitão norte-americano Bill Salvin, porta-voz da missão da NATO no Afeganistão, fez um resumo do que tem acontecido aos militantes do Daesh no país: 460 ataques aéreos desde o início do ano, e só em ataques com drones foram mortos "mais de 200 militantes".
Mas o general John W. Nicholson decidiu que a melhor opção era largar a bomba mais potente do arsenal convencional norte-americano: "À medida que as baixas do ISIS-K [Estado Islâmico na província de Khorasan] têm aumentado, eles começaram a usar armadilhas, bunkers e túneis para reforçarem a sua defesa [no complexo]. Esta é a munição certa para reduzir esses obstáculos e manter o ímpeto da nossa ofensiva contra o ISIS-K."
A bomba GBU-43/B não é tecnicamente perfurante, como a GBU-57, pelo que alguns analistas questionaram a sua eficácia contra um "sistema de túneis e cavernas", tal como foi descrito pelo Pentágono. O Departamento de Estado norte-americano explicou que a extensão do complexo do Daesh justificou o lançamento inédito da "mãe de todas as bombas" em combate (foi testada em 2003 na Florida): explode antes de embater no solo, pelo que abrange uma área mais extensa; e entra no solo algumas dezenas de metros, apesar de não ter sido desenhada como arma perfurante.
Ao contrário do que aconteceu na semana passada, quando os Estados Unidos lançaram 59 mísseis Tomahawk contra uma base aérea síria, o Presidente Donald Trump não fez nenhuma declaração ao país, nem surgiu imediatamente a chamar para si os louros da operação – a lentidão com que a informação foi passando entre vários responsáveis da Casa Branca sugere, segundo o analista Marcus Weisgerber, da revista Defense One, que Trump não sabia sequer que a bomba iria ser lançada.
Como não se trata de uma arma nuclear, e foi lançada no âmbito de uma guerra em que os Estados Unidos estão directamente envolvidos, o Presidente não tinha de ser nem consultado nem avisado – para além disso, Trump tem invertido a tendência que vigorava na Administração Obama para refrear os generais e dá quase total autonomia aos seus comandantes militares em zonas de guerra.
Daí que o lançamento da "mãe de todas as bombas" no Afeganistão só muito dificilmente poderá ser visto como um aviso à Coreia do Norte, que ameaça fazer um novo teste nos próximos dias – para esse efeito os Estados Unidos já têm a caminho um porta-aviões e submarinos com armamento nuclear e puseram dezenas de aviões em alerta no Japão.
Em declarações aos jornalistas algumas horas depois da notícia do lançamento da bomba no Afeganistão, Donald Trump recusou-se a dizer se tinha sido ele a dar a ordem, e não disse explicitamente se tinha sido um sinal para a Coreia do Norte.
"Estou muito orgulhoso, foi mais um trabalho bem-sucedido", disse Donald Trump quando questionado sobre o ataque no Afeganistão. E depois hesitou quando lhe perguntaram directamente se tinha sido ele a dar a ordem: "Toda a gente sabe exactamente o que aconteceu. O que eu faço é autorizar o nosso Exército. Nós temos o melhor Exército do mundo, e eles fizeram o seu trabalho como é costume. Demos a nossa total autorização, e é isso que eles estão a fazer."
Quanto à hipótese de ter sido também um sinal para a Coreia do Norte, Trump preferiu deixar outro aviso: "Não sei se isto envia alguma mensagem à Coreia do Norte, mas isso não faz nenhuma diferença. A Coreia do Norte é um problema e nós vamos tratar dele."