Aberto processo de classificação da Biblioteca Pina Martins, na posse do Novo Banco

Objectivo é impedir a dispersão do acervo de manuscritos, incunábulos e impressos dos séculos XVI a XVIII desta biblioteca de estudos humanísticos.

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A Biblioteca Nacional de Portugal (BPN) abriu a 17 de Março um processo de classificação da Biblioteca de Estudos Humanísticos Pina Martins, propriedade do Novo Banco, na parte correspondente a manuscritos, incunábulos e impressos dos séculos XVI a XVIII, publica esta quinta-feira o Diário da República.

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A Biblioteca Nacional de Portugal (BPN) abriu a 17 de Março um processo de classificação da Biblioteca de Estudos Humanísticos Pina Martins, propriedade do Novo Banco, na parte correspondente a manuscritos, incunábulos e impressos dos séculos XVI a XVIII, publica esta quinta-feira o Diário da República.

Este conjunto encontra-se agora em vias de classificação e fica a constar do inventário, de acordo com o previsto na Lei de Bases do Património Cultural.

Durante a audição parlamentar de quarta-feira, o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, já tinha dado conta da sua intenção de "que o acervo do Novo Banco se mantenha em Portugal e esteja aberto à fruição dos portugueses".

Nesse sentido, afirmou que a Biblioteca de Estudos Humanísticos Pina Martins, assim como a colecção de numismática Carlos Marques da Costa – o mais importante conjunto existente em Portugal, a ser classificado como Tesouro Nacional –, estava "em vias de classificação".

Antes disso, no dia 4 de Abril, o Bloco de Esquerda apresentara um projecto de resolução que recomendava a classificação e a manutenção na esfera pública dos bens culturais na posse do Novo Banco.

No documento, o BE recomendava a inventariação e classificação dos bens culturais na posse do Novo Banco, que fosse garantida a titularidade pública do espólio da biblioteca, bem como das colecções de numismática e de fotografia contemporânea, e posteriormente preservadas e divulgadas, para fruição pública.

Com a abertura do processo de classificação, os conjuntos não podem ser objecto de desmembramento ou dispersão, nem tão pouco sair do país, segundo a Lei de Bases do Património Cultural.

A Biblioteca de Estudos Humanísticos Pina Martins alberga uma coleção de obras que abordam os temas do Humanismo E do Renascimento, entre as quais se encontram textos de escritores como Dante Alighieri, Giovanni Pico della Mirandola, Erasmo de Roterdão ou Thomas More. Entre os humanistas portugueses cujos textos integram também a biblioteca, contam-se Luís de Camões, André de Resende, Damião de Góis, Luís António de Verney, Francisco de Sá de Miranda e Bernardim Ribeiro.

Fazem parte deste acervo cerca de 1100 livros antigos, entre os quais nove incunábulos (livros impressos com tipos móveis, nos primeiros tempos da imprensa), cerca de 90 obras impressas pelo humanista Aldo Manuzio e seus sucessores, 600 títulos impressos no século XVI, bem como alguns tesouros bibliográficos pela sua raridade ou pela beleza da impressão e encadernação.

A restante bibliografia de cerca de oito mil volumes serve de apoio ao estudo dos textos clássicos e das suas temáticas, em especial a da História do Livro.

Em Fevereiro de 2015, a Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, dedicou uma exposição à "extraordinária biblioteca" de Pina Martins, mostrando os seus "livros únicos no mundo", como classificou na altura a curadora da mostra, Vanda Anastácio, que destacou, entre outras, a "rara primeira edição" das Obras Completas de Sá de Miranda (1585) e uma outra de Os Lusíadas, de 1613, comentada pelo compositor Manuel Correia.

A exposição reuniu então mais de mil exemplares dessa biblioteca, entre eles o único que se conhece do poeta espanhol Garcilaso de la Vega (1501-1536), editado em 1587, em Lisboa.

O filólogo José Vitorino de Pina Martins, falecido em 2010, começou a publicar em 1960, sendo autor de mais de duas centenas de estudos históricos e bibliográficos em português, francês, italiano e inglês.

Foi director do Centro Cultural Calouste Gulbenkian, em Paris, e do Serviço de Educação da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, tendo, entre outros cargos, presidido a Academia das Ciências de Lisboa.