Viagens de finalistas: ministério e directores de escolas desconhecem angariação de clientes
Presidente do Conselho Nacional de Juventude admite que apoios das agências de viagens às listas que concorrem às associações de estudantes “têm condicionado gravemente as eleições”.
O Ministério da Educação, a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e as associações de pais dizem não ter conhecimento de que haja angariações de clientes junto das escolas por parte de agências de viagens. Nem tão pouco de patrocínios de listas que concorrem às direcções das associações estudantis.
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O Ministério da Educação, a Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP) e as associações de pais dizem não ter conhecimento de que haja angariações de clientes junto das escolas por parte de agências de viagens. Nem tão pouco de patrocínios de listas que concorrem às direcções das associações estudantis.
Já o presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ) está a par. E admite mesmo que a presença de artistas e a realização de eventos organizados pelas agências de viagens, como forma de apoio a listas que concorrem às associações de estudantes, “tem condicionado gravemente as eleições”.
O PÚBLICO questionou o Ministério da Educação sobre esta prática levada a cabo pelas agências de viagens com a colaboração de associações de estudantes e comissões organizadoras de viagens de finalistas. Numa resposta por email, o ministério de Tiago Brandão Rodrigues fez saber que desconhece o assunto.
“Se calhar acontece, mas na minha escola não há 12.º ano. Não tenho conhecimento se existe noutras escolas”, afirmou, por seu lado, Filinto Lima, presidente da ANDAEP. Isto, apesar de em várias escolas existirem diversas campanhas de marketing das agências, onde estas práticas são reveladas, e de a presença de artistas ou de outras actividades patrocinadas por estas empresas nos espaços escolares precisar da autorização das direcções dos estabelecimentos de ensino.
Filinto Lima sublinha ainda que “as direcções das escolas e o Ministério da Educação não têm qualquer tipo de participação neste tipo de viagens de carácter não pedagógico”, que elas não são cobertas pelo seguro escolar, nem têm o acompanhamento de qualquer professor. “É tudo organizado pelo alunos”, acrescenta. Para o presidente da ANDAEP “era bom que os pais e as associações prestassem mais atenção e participassem na organização deste tipo de viagens”.
Jorge Ascensão, presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), não ouviu falar nem de actividades de angariação de alunos nas escolas, nem de apoios de agências a listas para associações de alunos. Mas confrontado com a descrição destas práticas, pelo PÚBLICO, lamenta que as coisas se passem assim, “que os alunos decidam uma eleição pelas festas e pela viagem de finalistas, e não pelos programas eleitorais”. Refere, porém, que estas práticas “são um reflexo da vida política nacional” — “Quantos de nós votam pelo programa eleitoral que nos é apresentado?”
Seja como for, classifica o mercado das viagens de finalistas como “horroroso”, diz que “as pessoas se deixam facilmente levar” — “Não devia acontecer, mas acontece. Tenho pena, é triste.”
Já Hugo Carvalho, presidente do CNJ, diz conhecer bem a organização destas viagens. E critica que estas sejam, por vezes, “organizadas por comissões de finalistas que se autonomeiam à margem das Associações de Estudantes e que contam com o apoio das agências de viagens”.
Afirma, contudo, que “a maioria das associações tem preocupações com as questões educativas, sendo que a organização das viagens são apenas uma parte do seu trabalho”. A existência “de práticas menos claras não pode ser generalizada”.
“Preocupa-me quando estas coisas acontecem de uma forma informal, por grupos de estudantes que o fazem muitas vezes de uma forma pouco clara”, mas “não se podem confundir campanhas de marketing legais, com práticas menos boas que sabemos que também acontecem”.