PSD acusa Governo de falta de coragem no Eurogrupo contra Dijsselbloem
Deputado Leitão Amaro gostava de ter visto Centeno na reunião do Eurogrupo. Ministro fez-se representar a Malta.
A audição no Parlamento é sobre a venda do Novo Banco e sobre as transferências para offshores, mas começou com uma curta crítica do PSD ao ministro das Finanças por outra razão: o que se passou no último encontro do Eurogrupo, onde à entrada da reunião o secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, confrontou Jeroen Dijsselbloem sobre as suas polémicas declarações acerca dos países do Sul da Europa.
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A audição no Parlamento é sobre a venda do Novo Banco e sobre as transferências para offshores, mas começou com uma curta crítica do PSD ao ministro das Finanças por outra razão: o que se passou no último encontro do Eurogrupo, onde à entrada da reunião o secretário de Estado das Finanças, Ricardo Mourinho Félix, confrontou Jeroen Dijsselbloem sobre as suas polémicas declarações acerca dos países do Sul da Europa.
O deputado social-democrata António Leitão Amaro acusa o Governo de ter feito um número mediático com o caso mas de não ter sido consequente, ao não pedir a demissão do presidente do Eurogrupo na presença dos outros ministros. Mário Centeno esteve ausente da reunião e quem o representou foi o seu secretário de Estado Adjunto, que já o acompanha nas reuniões regulares dos ministros da zona euro.
“Gostávamos de o ter visto a si na reunião do Eurogrupo e lamentamos que o representante que enviou, depois de ter feito um número para consumo interno, não tenha tido a coragem para, na reunião, frente a frente com os ministros, dizer o que este Parlamento aprovou: um pedido de demissão”, acusou Leitão Amaro.
Se minutos antes do encontro o secretário de Estado falou pessoalmente com o ministro holandês, na reunião não se fez ouvir, notou o deputado, lamentando “o que não se passou na última reunião do Eurogrupo”. Isto porque, disse, o Parlamento português “exprimiu o seu repúdio e o pedido de demissão” de Jeroen Dijsselbloem.
Mário Centeno não respondeu ao comentário de Leitão Amaro. Quando chegou a sua vez de falar na audição parlamentar, foi directo às perguntas sobre o Novo Banco. Ainda voltou a ser questionado sobre o porquê de a demissão não ter sido pedida durante a reunião, mas passou ao lado da pergunta da deputada do CDS Cecília Meireles.
Foi já no debate quinzenal que o Governo deu a resposta, não pela voz de Mário Centeno, mas do primeiro-ministro, que elogiou Mourinho Félix por ter transmitido “com uma grande firmeza e pessoalmente ao senhor Dijsselbloem o entendimento” de que devia pedir desculpas. E insistindo que o Governo defende a saída do ministro holandês, vincou que essa é uma posição assumida por Portugal e que não tem de ser repetida todos os dias. Para defender o facto de Portugal não ter colocado a questão em La Valletta, disse que “a negociação [para escolher o sucessor] não é feita ali [Eurogrupo], nem naquela circunstância”.
Em causa no caso Dijsselbloem está a polémica entrevista ao jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung, onde o ministro holandês falou sobre solidariedade na Europa em relação aos países sob resgate, afirmando que não se pode "gastar todo o dinheiro em copos e mulheres".
A conversa cara a cara entre Ricardo Mourinho Félix e Dijsselbloem aconteceu nos momentos que antecedem a reunião, que desta vez aconteceu em La Valletta, Malta, e foi captada pelas câmaras de televisão portuguesas.
Os dois cumprimentaram-se e conversaram durante uns 30 segundos. O secretário de Estado português interpelou o ministro holandês: “Quero dizer-lhe que foi profundamente chocante aquilo que disse dos países que estiveram sob resgate. E gostaríamos que pedisse desculpas perante os ministros e a imprensa”.
Dijsselbloem reagiu comentando que considerou “chocante” a reacção portuguesa. E prometeu dizer alguma coisa sobre as suas declarações. Tanto Dijsselbloem como Mourinho Félix confirmaram no final que nenhum ministro chegou a pedir a demissão e, para o presidente do Eurogrupo, isso foi interpretado como um sinal de que os ministros “receberam bem” as suas explicações. Em defesa de Dijsselbloem veio o ministro das Finanças alemão. “Como todos os leitores alemães do jornal, não fiquei ofendido pela entrevista. Mas sabemos que em outros países europeus, especialmente em Espanha, esta entrevista foi lida de forma diferente”, afirmou, citado pela Lusa.
A audição desta quarta-feira centrou-se apenas no Novo Banco e o tema dos offshores acabou por ser adiado para uma nova audição.