Oriente e Cais do Sodré já têm cacifos para ajudar quem vive na rua
Após um ano de impasse com a Junta de Freguesia, autorização da Infra-estruturas de Portugal desbloqueou instalação dos cacifos junto à Gare do Oriente.
Há mais 24 cacifos para pessoas sem-abrigo em Lisboa: uma dúzia junto ao Cais do Sodré, na freguesia da Misericórdia, e outros 12 na Gare do Oriente, no Parque das Nações. Cresce assim para 48 o número de instrumentos de apoio ao projecto Cacifos Solidários, da Associação Conversa Amiga (ACA), que quer dar à população sem-abrigo da capital um local para guardarem as suas coisas e um acompanhamento por parte dos psicólogos da equipa de rua.
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Há mais 24 cacifos para pessoas sem-abrigo em Lisboa: uma dúzia junto ao Cais do Sodré, na freguesia da Misericórdia, e outros 12 na Gare do Oriente, no Parque das Nações. Cresce assim para 48 o número de instrumentos de apoio ao projecto Cacifos Solidários, da Associação Conversa Amiga (ACA), que quer dar à população sem-abrigo da capital um local para guardarem as suas coisas e um acompanhamento por parte dos psicólogos da equipa de rua.
Foi com esta iniciativa que três psicólogas chegaram directamente a mais de 50 pessoas, até Janeiro deste ano, em três anos de projecto. Ao receberem a chave do seu cacifo, estas pessoas sem-abrigo “começaram a construir o seu processo de saída da rua”, explica Joana Teixeira, psicóloga e coordenadora do projecto. Ter um cacifo é um “processo de transição” entre a rua e uma “alteração de vida”.
Em muitos casos esta “alteração de vida” não significa apenas ter uma habitação própria, mas implica tratar dependências, arranjar e manter um emprego, retomar relações familiares e voltar a estruturar uma vida que, na rua, é muitas vezes desfeita. É para fazer este acompanhamento que Joana Teixeira, Mónica Correia e Joana Guerreiro, psicólogas do projecto, em Lisboa, reúnem todas as semanas com os beneficiários. Para utilizar os cacifos é necessária a assinatura de um contrato, no qual se estabelece um compromisso mútuo: todas as semanas sentam-se à conversa.
“Só pela existência dos cacifos”, outras 152 pessoas entraram em contacto com a ACA. São os “beneficiários indirectos”: aqueles que foram ter com Joana para pedir um cacifo e acabaram por ser encaminhados para uma outra resposta. Há casos de “pessoas que não sabiam que tinham direito a ir para um centro de acolhimento temporário, outras não tinham como pedir um quarto. Há pessoas que saíram da rua por causa dos cacifos sem nunca terem tido um”, conta a psicóloga.
Idealizado pela ACA, o projecto Cacifos Solidários começou com 12 compartimentos em Arroios, instalados em Outubro de 2013. No final de 2015, chegaram mais 12 a Santa Apolónia. Com os novos cacifos, instalados no passado dia 31 de Março e 4 de Abril, a associação pretende dar apoio técnico à população sem-abrigo a duas novas zonas da cidade. Em média – tendo como referência os beneficiários de Santa Apolónia -, cada pessoa permanece na posse do cacifo quatro meses.
Colocar estes cofres no Parque das Nações é que foi uma batalha de quase um ano. Sem acordo com a Junta de Freguesia, a associação obteve autorização da Infra-estruturas de Portugal, gestora da Gare do Oriente, para instalar cacifos junto a esta estação intermodal de transportes e importante local de referência para as pessoas sem-abrigo da cidade.
Ainda há 12 cacifos em armazém, à espera. Destinam-se à zona do Rossio, onde a associação quer acrescentar à equipa de voluntariado quinzenal que lá actua, o acompanhamento técnico das psicólogas.
Ao mesmo tempo, está em marcha a expansão do projecto para o Funchal. A associação destacou uma psicóloga, Vanessa Aires, para coordenar o projecto na Madeira. Decorre neste momento o estudo do local para colocar os primeiros 12 cacifos, que serão depois atribuídos às pessoas sem-abrigo sinalizadas na cidade. Segue-se a fase de apadrinhamento que, como em Lisboa, é complementar ao apoio da autarquia, para garantir a manutenção dos equipamentos e da equipa técnica da associação.