Mornas ao Piano, de Teté Alhinho, um disco que “saiu no tempo certo”
Recém-editado em Portugal, o novo disco da cantora e compositora cabo-verdiana é agora apresentado ao vivo nas Fnac e no B.Leza, em Lisboa, num concerto marcado para 13 de Abril.
Na cabeça de Teté Alhinho, já se disse, havia uma ideia antiga: gravar um disco de voz e piano que homenageasse os sons que povoaram a sua infância. Filha de um alentejano e de uma cabo-verdiana, nascida no Mindelo em 18 de Junho de 1956, ela olhava para o rádio enorme que havia em casa e pensava que havia um homem lá dentro. Depois o pai explicou-lhe e ela percebeu, mas ainda assim fazia-lhe confusão como é que alguém podia falar lá longe e ela estar ali a ouvir. Até que, um dia, o pai comprou um piano vertical. “Apareceu com o piano em casa, e aquilo era o divertimento da criançada toda.” Quinze irmãos. O pai, embora não tocasse, era “um amante da música”, e havia na família dois tios guitarristas. As músicas, foi-as ouvindo não no rádio grande mas num a pilhas. “Ouvia um programa chamado Músicas da Nossa Terra, que dava todos os dias nos últimos quinze minutos da programação na Rádio Barlavento. A emissão fechava às dez da noite e a essa hora, como eu tinha idade para já estar deitada, ouvia-o no meu rádio de cabeceira.”
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Na cabeça de Teté Alhinho, já se disse, havia uma ideia antiga: gravar um disco de voz e piano que homenageasse os sons que povoaram a sua infância. Filha de um alentejano e de uma cabo-verdiana, nascida no Mindelo em 18 de Junho de 1956, ela olhava para o rádio enorme que havia em casa e pensava que havia um homem lá dentro. Depois o pai explicou-lhe e ela percebeu, mas ainda assim fazia-lhe confusão como é que alguém podia falar lá longe e ela estar ali a ouvir. Até que, um dia, o pai comprou um piano vertical. “Apareceu com o piano em casa, e aquilo era o divertimento da criançada toda.” Quinze irmãos. O pai, embora não tocasse, era “um amante da música”, e havia na família dois tios guitarristas. As músicas, foi-as ouvindo não no rádio grande mas num a pilhas. “Ouvia um programa chamado Músicas da Nossa Terra, que dava todos os dias nos últimos quinze minutos da programação na Rádio Barlavento. A emissão fechava às dez da noite e a essa hora, como eu tinha idade para já estar deitada, ouvia-o no meu rádio de cabeceira.”
Teté foi para a escola de piano, ainda muito nova. “Essencialmente nós tocávamos de ouvido, a quatro mãos e isso tudo. Muitas vezes as pessoas paravam (a casa era numa esquina) para ouvir.” Mas os sons vinham também de outro lado, e isso funcionava para ela como um encantamento. “Atrás da minha casa havia a casa do senhor Pinto, que tinha uma sala cheia de instrumentos, havia um grupo que ia lá tocar e cantar e eu, da minha janela, ouvia aqueles sons todos.”
O tempo manteve a memória, mas foi ceifando vidas. O pai de Teté morreu em 1975, quando ela estava em Cuba, a estudar (quando ela nasceu, ele tinha 56 anos, só esteve 19 anos com ele, “foi pouco, mas foram anos muito importantes”). E perdeu a mãe no mesmo ano em que morreu, de forma acidental em Angola, o seu irmão Carlos Alhinho (treinador de futebol, antigo jogador do Benfica, Sporting e FC Porto). Mas estão vivos 14 irmãos (a mais velha tem mais de 90 anos) e Teté, na dor dessas perdas, quis fazer discos dedicados aos pais e ao irmão. Ainda começou a gravar temas para este último, mas vicissitudes várias fizeram-na interromper o projecto. Já o disco dedicado aos pais será o seu próximo trabalho, em disco duplo. “O dedicado à minha mãe será P’Auta, o dedicado ao meu pai será Mi ma nha San Jon e os dois juntos, porque é um CD duplo, serão Além Cabo, porque o meu pai era alentejano e a minha mãe cabo-verdiana.”
B.Leza e Simentera
O nome da mãe, Auta, está também presente no disco que Teté está a lançar agora em Portugal. Corresponde às tais memórias de infância, das músicas que lhe chegavam pela rádio (nas vozes de Ban ou Titina), dos sons do piano. Mornas ao Piano levou tempo a fazer, mas ela preferiu assim. “Recorremos ao crowdfunding para iniciar, para dar o pontapé de partida. Mas acho que o disco saiu no tempo certo. Havia que prepará-lo bem, fazer uma nova mistura.”
Voltando à lembrança da mãe, o disco abre com um tema de Teté Alhinho intitulado Mindel de mãe Auta e fecha com P’Auta, de Mário Lúcio, fundador dos Simentera, grupo a que ela pertence e que em 2017 completa 25 anos de existência (“Pode ser que ainda haja alguma surpresa”, diz Teté Alhinho). Entre os outros temas que Teté escreveu para o disco está Lua Bonita, de que existe no Youtube uma versão de 2015, com Ricardo de Deus ao piano e que tem como única imagem a Lua filmada a partir da varanda da casa de Teté Alhinho, na Cidade da Praia, na Ilha de Santiago, enquanto se ouve a canção.
Misturando originais e clássicos do repertório cabo-verdiano, o disco é apresentado no dia 13 Abril no B.Leza, em Lisboa, às 22h, com Moisés Ramos (piano), Carlos Barreto (contrabaixo), Yuri Daniel (percussões) e Paló (cavaquinho e viola). Além do disco, ouvir-se-ão alguns temas que têm vindo a marcar a sua carreira, como Dia c’tchuva bem, Beju furtado, Rabilona ou Voz.
Antes, porém, ela estará este domingo na Fnac Colombo, em Lisboa (17h) a cantar e a autografar o disco. Os que ali forem comprados, diz, terão como bónus o acesso ao concerto do B.Leza.