Portugueses comeram mais legumes, frutos e leguminosas secas durante a crise

Balança Alimentar Portuguesa divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística aponta ainda assim excesso de oferta de “carne, pescado e ovos” e de “óleos e gorduras”.

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REUTERS/Rafael Marchante

No pico da crise os portugueses começaram a comer um bocadinho melhor, tendo aumentado a ingestão de legumes, frutos e leguminosas secas. A conclusão pode ser extraída da Balança Alimentar Portuguesa (BAP) 2012-2016, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, que, a partir da análise aos produtos alimentares disponíveis para consumo, permite calcular como se alimentaram os portugueses naquele período. Apesar das melhorias, há um problema de base que se mantém: cada pessoa ingere em média quase o dobro das calorias recomendadas. 

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No pico da crise os portugueses começaram a comer um bocadinho melhor, tendo aumentado a ingestão de legumes, frutos e leguminosas secas. A conclusão pode ser extraída da Balança Alimentar Portuguesa (BAP) 2012-2016, divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística, que, a partir da análise aos produtos alimentares disponíveis para consumo, permite calcular como se alimentaram os portugueses naquele período. Apesar das melhorias, há um problema de base que se mantém: cada pessoa ingere em média quase o dobro das calorias recomendadas. 

Quando comparada com o padrão alimentar recomendado pela Roda dos Alimentos, a disponibilidade alimentar em Portugal continua a pecar por um excesso de oferta de produtos do grupo da “carne, pescado e ovos” e “óleos e gorduras” e por um défice dos hortícolas e dos frutos e leguminosas secas. Ainda assim, e sobretudo nos anos mais atingidos pela crise, o INE registou melhorias na disponibilidade destes três últimos grupos. O consumo de hortícolas representava 15% dos alimentos consumidos, em 2012, e passou para os 16,2%, em 2016.

Do mesmo modo, e no mesmo período, o peso dos frutos aumentou de 11,7% para 12,7%. E quanto às leguminosas secas, como o grão e o feijão, aumentaram ligeiramente de 0,5 para 0,6%.

Apesar das ligeiras melhorias, os hábitos portugueses à mesa continuam, contudo, distantes do recomendado: 23% para os hortícolas, 20% para os frutos e 4% para as leguminosas. Ao PÚBLICO, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas, Alexandra Bento, encontrou mesmo assim num dos números apresentados nesta BAP uma inversão de tendência: "Ao longo dos últimos quarenta anos, a disponibilidade das leguminosas, como o feijão, o grão e a ervilha, esteve sempre a descer. A ligeira subida que agora se verifica é uma óptima notícia, porque estamos a falar de alimentos de origem vegetal com grande riqueza proteica", aplaude, atribuíndo a mudança "muito provavelmente" ao facto de 2016 ter sido o Ano Internacional das Leguminosas e de ter havido "um trabalho intenso das organizações de saúde para os benefícios das leguminosas".

Quanto ao grupo da “carne, pescado e ovos”, a oferta alimentar aumentou dos 16% de 2012 para os 16,5% de 2016. A Roda dos Alimentos recomenda que a ingestão dos alimentos contidos neste grupo não deveria ultrapassar os 5%.

Daí que o INE conclua: “As disponibilidades alimentares para consumo no período 2012-2016 continuam a evidenciar uma oferta alimentar excessiva e desequilibrada que tem vindo a afastar-se progressivamente do padrão alimentar mediterrânico, ainda que na última década se tenham observado melhorias.” 

A manutenção dos elevados consumos de carnes, pescado e ovos constitui, para Alexandra Bento, "uma nota de particular preocupação", mas também aqui a nutricionista encontra motivos de congratulação, dado que as carnes vermelhas têm vindo a perder terreno para as carnes brancas. De resto, a oferta de carne de suíno foi pela primeira vez inferior à de carne de animais de capoeira no período 2012-2016. 

Outra das conclusões é que as disponibilidades alimentares per capita entre 2012-2016 diminuíram 2,7% face ao quinquénio anterior, 2008-2011, numa circunstância a que “não será alheia a recessão da economia portuguesa ocorrida entre 2011 e 2013”, segundo o INE. É, ao contrário do que pode parecer, uma boa notícia, dado que os portugueses ingeriam muito mais calorias do que o necessário.

Entre 2008 e 2011, a média era de 3938 quilocalorias por pessoa (o recomendado é 2000 por pessoa), que baixaram para uma média de 3834 quilocalorias entre 2012-2016. É, ainda assim, como sublinha o INE, um aporte calórico suficiente para “suprir as necessidades de consumo recomendadas de dois adultos”. Este excesso mostra como "a oferta alimentar revela desequilíbrios quando comparada com o padrão alimentar recomendado". Há, ainda assim, oscilações no quinquénio, já que em 2012, pico da crise económica, se chegou a um mínimo de 3811 quilocalorias por dia/habitante, contra as 3895 observadas em 2016. 

Mesmo se considerarmos que os dados do INE não levam em conta o desperdício alimentar, será lícito concluir que os portugueses continuam a ingerir muito mais calorias do que as necessárias. "É preciso mudar esta tendência", acrescenta Alexandra Bento, lembrando que, a somar-se ao problema do excessivo aporte energético, "está a maior proveniência de energia de fonte animal do que vegetal".