Portugal exige pedido de desculpas a Dijsselbloem cara a cara
Secretário de Estado Mourinho Félix e o presidente do Eurogrupo falaram sobre a polémica expressão “copos e mulheres”. Dijsselbloem diz-se chocado com a reacção portuguesa. Vai continuar o mandato.
Um aperto de mão e 30 segundos de conversa agridoce: imediatamente antes de começar a reunião do Eurogrupo desta sexta-feira, o secretário de Estado das Finanças português, Ricardo Mourinho Félix, e o presidente do Eurogrupo protagonizaram uma curta troca de palavras sobre a polémica entrevista em que Jeroen Dijsselbloem falou em “copos e mulheres”, com cada um a vincar a sua posição cara a cara.
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Um aperto de mão e 30 segundos de conversa agridoce: imediatamente antes de começar a reunião do Eurogrupo desta sexta-feira, o secretário de Estado das Finanças português, Ricardo Mourinho Félix, e o presidente do Eurogrupo protagonizaram uma curta troca de palavras sobre a polémica entrevista em que Jeroen Dijsselbloem falou em “copos e mulheres”, com cada um a vincar a sua posição cara a cara.
Mourinho Félix (a representar Portugal em substituição do ministro das Finanças, Mário Centeno) exigiu um pedido de desculpas, Dijsselbloem prometeu dizer alguma coisa sobre o assunto, mas afirmou imediatamente ter ficado chocado com a reacção de Portugal à sua entrevista.
A conversa cara a cara foi captada pelas câmaras de televisão portuguesas no momento que antecedeu o arranque da reunião dos ministros das Finanças da zona euro, que desta vez decorre em La Valletta, Malta.
Mourinho Félix e Jeroen Dijsselbloem cumprimentam-se e começam a conversar. É o governante português quem inicia o diálogo: “Quero dizer-lhe que foi profundamente chocante aquilo que disse dos países que estiveram sob resgate. E gostaríamos que pedisse desculpas perante os ministros e a imprensa.”
Dijsselbloem reage ao desafio. Durante alguns segundos, os dois mantêm a mão apertada enquanto conversam, mas não quando o ministro holandês começa a falar. “Eu vou dizer alguma coisa sobre isso… Mas a reacção de Portugal também foi chocante...”, atira.
“Bom…”, comenta o secretário de Estado das Finanças, enquanto o presidente do Eurogrupo continua a responder: “Não lhe vou exigir um pedido de desculpas, mas vou dizer alguma coisa.” A conversa termina por ali. O vídeo foi transmitido pela TVI.
A reunião
O que se seguiu na reunião que junta à mesa estão os responsáveis das Finanças de cada país da moeda única soube-se na versão contada no final pelos dois protagonistas. “Nenhum ministro se manifestou [sobre o assunto]”, revelou Mourinho Félix, contando em declarações transmitidas na RTP3 que o líder do Eurogrupo abordou a questão para lamentar “as palavras que tinha escolhido e que não tinha como objectivo ofender ninguém”.
Na conferência de imprensa final, a questão acabou por ser abordada pelo ministro holandês das Finanças, que reafirmou que vai prosseguir o mandato (com fim em Janeiro de 2018), independentemente da pressão de países como Portugal e Espanha e de grupos parlamentares do Parlamento Europeu – do Partido Popular Europeu aos próprios socialistas e sociais-democratas, a família política do ministro holandês – para que dê lugar a outro responsável.
Dijsselbloem defende-se, escudando-se no facto de nenhum ministro ter falado sobre o tema durante a reunião de hoje. “Poderemos supor que receberam bem a minha declaração [desta sexta-feira] sobre esse assunto.” “A escolha de palavras magoou algumas pessoas e isso, claro, lamento profundamente. Foi assim que comecei a reunião.” Quando chegou a vez de os ministros falarem, “ninguém pediu uma demissão”, salientou.
Aos jornalistas reafirmou o que diz ser a essência da mensagem que quis transmitir na entrevista ao jornal alemão. “É crucial que tenhamos solidariedade. Houve solidariedade nos anos de crise de forma muito correcta. E, seguindo em frente, é crucial que todos nós respeitemos ao máximo os acordos e enquadramentos prévios”, afirmou em Malta. À entrada do encontro Dijsselbloem já tinha deixado claro que é a sua intenção manter-se à frente do Eurogrupo.
“Só sei de duas coisas: ainda sou ministro das Finanças da Holanda e presidente do Eurogrupo e que o meu mandato no Eurogrupo acaba em Janeiro”, afirmou aos jornalistas, citado pela Lusa a partir de La Valletta. Quando foi questionado sobre se tem intenção de sair, Dijsselbloem rejeitou-a: “Certamente que não.”
Depois da queda eleitoral do seu partido (trabalhista) nas últimas legislativas holandesas e da polémica entrevista ao jornal alemão, a pressão para Dijsselbloem se afastar do cargo voltou a fazer-se sentir. Segundo a Lusa, à chegada ao Eurogrupo, o ministro das Finanças espanhol, Luis de Guindos, considerou as declarações do holandês “desadequadas, em termos de conteúdo e forma”. E também exigiu uma explicação.
Nos bastidores intensificam-se as movimentações para ser escolhido um novo responsável. De Guindos é um dos nomes referidos. O primeiro-ministro português já confirmou que Centeno terá sido sondado, mas essa é uma hipótese que António Costa exclui, com o argumento de que Portugal não está numa posição de poder assumir o lugar. À Renascença defendeu esta semana que o país precisa neste momento de uma “margem maior de liberdade [de negociação] no âmbito do Eurogrupo”.