O Calvário está em obras para resolver o calvário das cheias
Não foi só para embelezar Lisboa que a autarquia começou a fazer obras em toda a cidade, garante o vereador do Urbanismo. Há "problemas concretos" para resolver em cada intervenção. Veja-se o caso do Calvário.
Tomar um café na esplanada da Pastelaria Galão tornou-se recentemente num acto de estoicismo. O barulho é constante: retroescavadoras em movimento, martelos pneumáticos em acção, autocarros que não param de passar. E o passeio é estreito, está todo esburacado e irregular. Um calvário.
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Tomar um café na esplanada da Pastelaria Galão tornou-se recentemente num acto de estoicismo. O barulho é constante: retroescavadoras em movimento, martelos pneumáticos em acção, autocarros que não param de passar. E o passeio é estreito, está todo esburacado e irregular. Um calvário.
“Tudo converge aqui”, observa Manuel Salgado nos intervalos do ruído. O vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa guiou o PÚBLICO numa visita às obras do Largo do Calvário, em Alcântara, e explica que este é um importante ponto de confluência no sistema de mobilidade da cidade. Os autocarros e eléctricos entram nesta praça praticamente por todas as aberturas, os automóveis também.
Falta o resto, diz o autarca. “Um dos problemas principais desta praça é o de compatibilizar um espaço de usufruto das pessoas com o sistema de transportes”, afirma Manuel Salgado. As obras no Calvário e no Largo das Fontainhas, logo abaixo, inserem-se no programa Uma Praça em Cada Bairro, com o qual a câmara municipal tem alterado radicalmente a face de vários espaços públicos da capital.
As praças de Saldanha, Picoas, Graça, Campolide e Santos já estão prontas. No Verão terminam as intervenções no Rossio de Palma, na Alameda Manuel Ricardo Espírito Santo (em frente ao centro comercial Fonte Nova), na Alameda das Linhas de Torres, no Largo do Leão, no Largo da Igreja de Santa Isabel e no Largo de Alcântara, além do Calvário.
Doze praças renovadas que a actual maioria socialista deixa concluídas a tempo das eleições autárquicas, marcadas para Outubro. Enquanto percorre os trilhos de pó do Calvário, Manuel Salgado vai explicando que que este tipo de trabalhos não é um exclusivo de Lisboa. “Isto não é um problema português, nem sequer um problema lisboeta. Durante o século XX, a prioridade absoluta era ter espaço para o automóvel, espaço para circular com automóvel e para estacionar”, diz. O programa da autarquia defende o princípio contrário, acrescenta, e não visa apenas “embelezar” os espaços, como diz a oposição, antes resolver “problemas concretos”.
“O ponto de partida não é esse. Se eu posso fazer bonito, não vou fazer feio”, ri-se Salgado. No caso do Calvário, o problema que era preciso resolver era o da drenagem e saneamento. Alcântara é uma zona da cidade muito propensa a cheias e, na revisão do Plano Geral de Drenagem de Lisboa de há dois anos, chegou-se à conclusão de que os colectores situados por baixo dos largos do Calvário e das Fontainhas precisavam de ser substituídos. É o que está a acontecer agora.
“Foi muito complicado” colocar o novo colector neste local, diz Manuel Salgado, por causa das linhas do eléctrico. Trata-se, no fundo, de um grande tubo em betão, constituído por muitas partes, que foi preciso empurrar por baixo da terra desde o Largo das Fontainhas até à Rua José Dias Coelho, que sobe para a Calçada da Tapada e cuja rede de saneamento vai ser renovada. “Haverá uma espécie de antecâmara” no novo colector, “só quando encher é que a água vai para o rio”, elucida o vereador. Antes disso, as águas da chuva e dos esgotos são encaminhadas para a ETAR de Alcântara.
Obras vão continuar
Foi à boleia desta obra que veio o resto. “Nós tínhamos de intervir, isto foi o que desencadeou”, diz Manuel Salgado, que vai já avisando que, mais dia, menos dia, vai ser necessária uma intervenção semelhante no colector da Avenida de Berna.
Tal como já aconteceu noutras praças intervencionadas, Calvário e Fontainhas vão passar a ter passeios muito mais largos e as vias de trânsito diminuem. Manuel Salgado fala de “uma componente social importante” nestas obras, que diz respeito à segurança de peões e automobilistas, ao convívio entre gerações e à saúde pública. “Para que as pessoas andem a pé é preciso criar condições para isso”, defende o vereador.
Que acrescenta que “as pessoas envolveram-se nas soluções” encontradas para o largo. A fonte, recém-colocada num dos cantos do Largo do Calvário, junto à esquadra da PSP, é disso exemplo. “Esta fonte veio aqui parar porque, na primeira reunião, houve pessoas que se lembraram de que ela existia aqui antigamente.”
Enquanto estas obras não acabam, a câmara está já a pensar nas próximas. Para o próximo mandato estão garantidos trabalhos em pelo menos mais doze praças, mas Manuel Salgado admite que a lista possa aumentar, até porque, garante, muitos moradores e comerciantes têm contactado a autarquia a pedir que renovem mais praças e ruas.