A vergonha do Montepio 2: Vieira da Silva
Eis um dos maiores mistérios de todo este caso: como é que um Governo que exige tanto a Carlos Costa demonstra agora esta espantosa complacência para com Tomás Correia e o Montepio Geral?
Tomás Correia, actual presidente da Associação Mutualista Montepio Geral e ex-presidente da Caixa Económica Montepio Geral, é suspeito de ter tomado as seguintes decisões (resumo não-exaustivo elaborado a partir do que a imprensa publicou nas últimas semanas): 1) Lançar uma OPA sobre o Finibanco em 2010 no valor de 341 milhões de euros, quando o banco estava avaliado em 240 milhões; 2) Conceder a Paulo Guilherme (filho de José Guilherme, o famoso construtor que ofereceu 14 milhões a Ricardo Salgado) 18 milhões de euros através do Finibanco Angola (propriedade do Montepio), que este depois aplicou na Caixa Económica Montepio Geral, violando, segundo o Banco de Portugal, as regras de operações entre partes relacionadas; 3) Receber de José Guilherme 1,5 milhões de euros em troca de um empréstimo do Montepio no valor de 74 milhões, com o qual o construtor comprou o Marconi Parque, na serra de Alfragide; 4) Financiar várias empresas do Grupo Espírito Santo durante o primeiro semestre de 2014, quando o grupo já estava a cair aos bocados e toda a gente o sabia, obrigando ao registo de imparidades extraordinárias no valor de 140 milhões de euros por parte do Montepio; 5) Efectuar negócios duvidosos com o BPN e a Ongoing que seria demasiado fastidioso descrever aqui.
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Tomás Correia, actual presidente da Associação Mutualista Montepio Geral e ex-presidente da Caixa Económica Montepio Geral, é suspeito de ter tomado as seguintes decisões (resumo não-exaustivo elaborado a partir do que a imprensa publicou nas últimas semanas): 1) Lançar uma OPA sobre o Finibanco em 2010 no valor de 341 milhões de euros, quando o banco estava avaliado em 240 milhões; 2) Conceder a Paulo Guilherme (filho de José Guilherme, o famoso construtor que ofereceu 14 milhões a Ricardo Salgado) 18 milhões de euros através do Finibanco Angola (propriedade do Montepio), que este depois aplicou na Caixa Económica Montepio Geral, violando, segundo o Banco de Portugal, as regras de operações entre partes relacionadas; 3) Receber de José Guilherme 1,5 milhões de euros em troca de um empréstimo do Montepio no valor de 74 milhões, com o qual o construtor comprou o Marconi Parque, na serra de Alfragide; 4) Financiar várias empresas do Grupo Espírito Santo durante o primeiro semestre de 2014, quando o grupo já estava a cair aos bocados e toda a gente o sabia, obrigando ao registo de imparidades extraordinárias no valor de 140 milhões de euros por parte do Montepio; 5) Efectuar negócios duvidosos com o BPN e a Ongoing que seria demasiado fastidioso descrever aqui.
Entre 2010 e 2015, o grupo mutualista, sob a liderança de Tomás Correia, teve perdas consolidadas no valor de mil milhões de euros. Este impressionante currículo conduziu ao seu afastamento da Caixa Económica por pressão do Banco de Portugal. Mas Correia continua à frente da associação que detém 100% do banco, e ainda esta semana se considerou “reforçado” na liderança devido à aprovação das contas da mutualista. Que ele não queira sair da presidência da associação, apesar dos seus 71 anos e de todas as suspeitas, eu até percebo: quanto mais sujidade enfiamos para debaixo do tapete, menos vontade temos de sair de cima dele. Que o ministro Vieira da Silva — actual responsável pela supervisão da Associação Mutualista — aceite pacatamente esta decisão já me custa mesmo muito a perceber.
Eis um dos maiores mistérios de todo este caso: como é que um Governo que exige tanto a Carlos Costa, mais os partidos que o obrigam a visitar regularmente o Parlamento para criticarem horas a fio a sua inadmissível passividade em relação a Ricardo Salgado e ao BES, demonstram agora esta espantosa complacência para com Tomás Correia e o Montepio Geral? Porque é que ninguém corre de vez com o senhor Correia, tendo em conta as suas ligações ao BES, à Ongoing, ao BPN, a José Guilherme e a tudo o que é nome desgraçado no sistema económico e financeiro português? É caso para dizer: quem tem medo de Tomás Correia?
Uma hipótese para justificar tamanha passividade seria a impossibilidade legal de Vieira da Silva intervir na Associação Mutualista. Mas Vieira da Silva pode intervir. Segundo o Jornal de Negócios, é obrigação do ministro do Trabalho e da Segurança Social “defender os direitos dos associados” mutualistas, podendo, face a “irregularidades” e a “desequilíbrios financeiros”, pedir a destituição judicial da direcção. Nada disso aconteceu até ao momento. António Costa ainda esta semana desvalorizou o caso — “é um problema conciso, bastante limitado” — e a sua solução pode passar por uma opção inacreditável e inaceitável: meter a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa ao barulho. Mais sobre isto no sábado.