Pedro Lapa saiu da direcção do Museu Berardo

Historiador de arte não viu renovado contrato. Museu Berardo tem agora conservadora da casa como directora interina.

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O director artístico do Museu Colecção Berardo, Pedro Lapa, deixou o cargo ao fim de seis anos. A sua comissão de serviço terminou a 2 de Abril, anunciou esta quinta-feira o museu no comunicado em que dava conta da saída de Lapa.

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O director artístico do Museu Colecção Berardo, Pedro Lapa, deixou o cargo ao fim de seis anos. A sua comissão de serviço terminou a 2 de Abril, anunciou esta quinta-feira o museu no comunicado em que dava conta da saída de Lapa.

Ao PÚBLICO, o empresário Joe Berardo disse que ainda não tem um nome definitivo para substituir Pedro Lapa. O jornal Expresso avançava o de Rita Lougares, uma conservadora do museu, como directora interina, mas ao PÚBLICO Berardo esclareceu que o cargo não será ocupado definitivamente nos próximos meses. "Daqui a uns meses vamos ver", acrescentou o comendador, sublinhando que se trata para já de uma nomeação provisória.

Nos estatutos do museu, está previsto a existência de um cargo de director.

Contactado pelo PÚBLICO, Pedro Lapa não quis falar das circunstâncias que levaram a que não fizesse nova comissão de serviço enquanto director artístico do museu, algo que era ainda uma possibilidade quando Berardo e o Estado assinaram a adenda ao protocolo de 2006 que permitiu manter a instituição no Centro Cultural de Belém pelo menos até ao final de 2022. Garantiu apenas que as duas partes chegaram a acordo, que não sai “zangado” e que os últimos seis anos lhe "trouxeram a oportunidade de trabalhar com uma colecção única no país, importante”, e de “fazer exposições relevantes”.

Lapa, que diz que pretende continuar a comissariar exposições, vai dedicar agora muito mais tempo à Faculdade de Letras, onde há anos dá aulas de História de Arte Contemporânea e de Teoria de Arte. "Agora vou estar mais disponível para o trabalho de investigação", acrescentou. De acordo com o comunicado, o historiador de arte "dedica-se agora a novos projectos, mantendo de futuro colaborações de natureza autoral com o Museu Colecção Berardo". É provável que estas colaborações passem pela curadoria de exposições e pela participação em edições da casa.

Quanto à programação, Lapa também não avançou qualquer informação. De recordar que, fechado que está o primeiro trimestre do ano, o Museu ainda não anunciou a sua programação para 2017 e tem neste momento e desde Janeiro a galeria do Piso 0 vazia.

A escolha de Lougares para ocupar interinamente o lugar que deixou vago também não foi objecto de qualquer comentário: "Não quero acrescentar mais nada. Trata-se de uma decisão do conselho de administração", disse Lapa.

Rita Lougares, de 59 anos, é actualmente a única conservadora do Museu Berardo. Licenciada em História pela Universidade de Lisboa, tem uma pós-graduação e mestrado em Conservação e Museologia. Entre 1989 e 1993, trabalhou no Instituto Português dos Museus, tendo nesse ano entrado com a equipa inaugural para o Centro de Exposições do Centro Cultural de Belém (CCB). Lougares transitou para o Berardo quando o novo museu se instalou no CCB em 2007. 

Ainda segundo o museu, o coleccionador José Berardo e o Conselho de Administração da Fundação Berardo "louvam o trabalho realizado e a dedicação integral, durante os seis anos em que Pedro Lapa dirigiu artisticamente o Museu Colecção Berardo, fazendo votos para que os seus projectos futuros continuem a obter os maiores sucessos".

A Fundação de Arte Moderna e Contemporânea - Colecção Berardo renovou no ano passado o acordo de comodato para permanência do Museu Berardo por mais seis anos, renováveis, no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.

"Ao longo dos seis anos em que assumiu a programação artística do museu, Pedro Lapa deu especial relevo à vertente museológica apresentando a colecção em exposição permanente, dividida em dois grandes períodos 1900-1960 e 1960-2000, de forma a materializar a existência de um grande museu de arte moderna e contemporânea internacional em Lisboa", destaca ainda o museu no comunicado.

Entre outras exposições temporárias, Lapa apresentou Hélio Oiticica. Museu é o mundo (2012), Pedro Barateiro. Palmeiras Bravas /The Current Situation (2015), Quatro variações à volta de nada ou falar do que não tem nome (2015), de Nicolas Paris, ou The Clock (2015), de Christian Marclay.

Pedro Lapa substituiu em 2011 o francês Jean-François Chougnet, primeiro director do Museu Berardo. Na altura, foi uma escolha unânime no Conselho de Administração da Fundação aprovada pelo Ministério da Cultura.

Até então tinha sido director do Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea entre 1998 e 2009, ano em que deixou a instituição ao ser substituído no cargo por Helena Barranha, em resultado de um concurso do Instituto dos Museus e da Conservação. Encontrava-se desde 1990 no quadro de especialistas do Museu do Chiado, na altura dirigido por Raquel Henriques da Silva.

Lapa é professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, função que manteve a par da direcção artística do Museu Berardo. Entre 1996 e 1997 foi também conservador de arte contemporânea do Centro de Exposições do CCB.