No Museu do Dinheiro, Luís Silveirinha transfigura uma iconografia

No Museu do Dinheiro, Luís Silveirinha transfigura uma iconografia, fazendo nascer imagens de outras imagens.

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O Museu do Dinheiro tornou-se um lugar em que os artistas mostram e fazem o seu trabalho. O mérito é de Sara Barriga (coordenadora do núcleo do museu), da sua equipa, e, claro está, dos artistas: Pedro A.H. Paixão, Teresa Milheiro, Pedro Valdez Cardoso e Nuno Henrique, aos quais se junta agora Luís Silveirinha (Campo Maior, 1969), com o seu paciente e generoso trabalho de desenho. Chama-se Arquivo, o projecto em que reinterpreta as moedas do museu, recorrendo a materiais que têm acompanhado a sua obra e objectos que, pela primeira vez, integram o seu fazer. Há, portanto, uma continuação e, em simultâneo, um desvio. Luís Silveirinha experimenta formatos e escalas distintas, diferentes modos de relação com as obras, abrindo o seu gesto a uma conversa com outra iconografia: a da numismática

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O Museu do Dinheiro tornou-se um lugar em que os artistas mostram e fazem o seu trabalho. O mérito é de Sara Barriga (coordenadora do núcleo do museu), da sua equipa, e, claro está, dos artistas: Pedro A.H. Paixão, Teresa Milheiro, Pedro Valdez Cardoso e Nuno Henrique, aos quais se junta agora Luís Silveirinha (Campo Maior, 1969), com o seu paciente e generoso trabalho de desenho. Chama-se Arquivo, o projecto em que reinterpreta as moedas do museu, recorrendo a materiais que têm acompanhado a sua obra e objectos que, pela primeira vez, integram o seu fazer. Há, portanto, uma continuação e, em simultâneo, um desvio. Luís Silveirinha experimenta formatos e escalas distintas, diferentes modos de relação com as obras, abrindo o seu gesto a uma conversa com outra iconografia: a da numismática

No contexto actual da arte portuguesa, o desenho de Luís Silveirinha aparece peculiar, dir-se-ia mesmo, raro. Sopra contornos de monstros, de figuras humanas, de símbolos, de seres mitológicos, plantas e animais. É redondo, cheio, comunicativo, tão cheio de sombras, como de formas nítidas, tão acessível, em termos de estilo, como fugidio, pois não se completa, não se fecha. Como refere João Silvério, curador da exposição, Luís Silveirinha é um artista que parece remeter-nos para outro tempo, para referências passadas. Ouse-se, então, mencionar artistas cuja vizinhança Luís Silveirinha poderia partilhar: Joaquim Rodrigo, Pedro Proença, William Kentridge, Fátima Mendonça, Pedro AH Paixão. Vizinhança com intervalos, clareiras, distância.

No Museu do Dinheiro, Luís Silveirinha estudou uma selecção de moedas e transfigurou-as sobre o papel, evocando com a memória, imagens mentais que resultaram não apenas dessa pesquisa, mas, igualmente, de outros desenhos, de outras exposições; há um bestiário, um vocabulário fantástico que desagua no Museu do Dinheiro. As efígies, as figuras, os símbolos, as tipologias, que ele descobriu (como se fossem desenhos perdidos, pinturas rupestres tapadas pelo negro), fazendo revelar o lápis de cera na tinta-da-china, resultaram de um processo de desenho que faz e liberta imagens. Esse deleite, quase obsessivo, marcara Impulsão, na galeria Alecrim 50, em Lisboa, no ano passado. Aí com um trabalho de sobreposição e revelação, acrescentou e fez novos desenhos sobre páginas de um Atlas Mundial. Esta inclinação para o palimpsesto retoma em Arquivo. Também aqui faz imagens de outras imagens, também aqui destrói objectos para deles fazer obras artísticas.

Em Arquivo, Silveirinha confronta-se com a presença do simbolismo da moeda. Em frente do antigo altar-mor da Igreja de S. Julião (onde o Museu do Dinheiro está instalado) o espectador vê um conjunto de peças circulares assentes sobre plintos. Têm as superfícies gravadas com desenhos e embora possam ser rodados com as mãos, estão ali para serem vistos: o movimento é limitado. Já o conjunto de trabalhos que, na sala, surgem suspensos do tecto solicitam uma aproximação distinta. Construídos a partir de discos em vinil (em formato LP), apresentam dois lados, mas não rodam, nada os faz girar. Sem os elementos que lhes atribuíam uma autoria ou história, são objectos anónimos que o desenho destruiu antes de salvar. É como se Luís Silveirinha, contra o desgaste ou a ameaça do esquecimento, lhes devolvesse uma nova vida, acrescentando-lhes o seu, nunca fixo, sempre imprevisível reportório visual.

Noutro trabalho, o desenho reaparece no papel, com guache sobre capas de discos, formando uma profusão de formas circulares que vão ocupando toda a superfície. Imagens de medalhões, moedas, objectos circulares. Tal acumulação dissolve-se ou reduz-se nos dois desenhos de maior dimensão, intitulados “Avareza” e “Fortuna” que podem ser vistos no coro alto, no segundo piso do museu. O espectador será tentado a estabelecer uma relação de sentido entre estes conceitos e os estranhos seres que habitam os desenhos. E a tentação é compreensível. Os traços, as sombras, o carácter