Cabo Verde a voz e piano
Mornas ao Piano , de Teté Alhinho, é um grande disco de uma voz expressiva e encantadora.
De todos os discos de Teté Alhinho, voz que começámos a escutar com atenção nos Simentera, este será o de projecto mais antigo e o que levou mais tempo a concretizar. Mornas ao Piano tem raízes fundas na memória, na dela e na de Cabo Verde, as canções que ela ouvia na infância, na rádio, e as que vozes como Bana (sobretudo este) iam tornando imortais.
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De todos os discos de Teté Alhinho, voz que começámos a escutar com atenção nos Simentera, este será o de projecto mais antigo e o que levou mais tempo a concretizar. Mornas ao Piano tem raízes fundas na memória, na dela e na de Cabo Verde, as canções que ela ouvia na infância, na rádio, e as que vozes como Bana (sobretudo este) iam tornando imortais.
O piano cabo-verdiano (que na sua história tem, como expoentes, Tututa ou Chico Serra) serviu de inspiração, mas o disco vai além dele. Não tem só voz e piano (a dela, que a cada novo registo vai ganhando novas matizes e uma profunda expressividade, e o piano de Carlos Matos, Victor Zamora e Ricardo de Deus, um brasileiro radicado há quase duas décadas em Cabo Verde), mas também contrabaixo (Carlos Barretto e Francelino Silva), percussões (N’du Carlos, Paulo Charneca, Rob Leonardo), cavaquinho (Jon Luz), violino (António Barbosa) e guitarra (Americo “Meca” Lima).
Mas é na ligação voz-piano que tudo assenta, e os temas novos — dois dela, dois de Mário Lúcio (fundador dos Simentera) e um assinado por Antero Simas e Hélio Cruz — ligam-se de forma natural e orgânica aos clássicos aqui revisitados, como Talvez, de B.Leza, Sodade tem pena de mim, de Daniel Spencer, Dor de nha dor, de Luis Lima e Paulino Vieira ou o imortal Sina de Cabo Verde, de Gabriel Mariano e Jacinto Estrela: “Se ca tem tchuba, morrê di sede/ Se tchuba bêm, morrê fogode/ Gente sem sorte ca tem remedi/ Tchora bô sina, tchora maguado.”
E é impossível ouvi-lo, aqui, sem evitar um arrepio, desde logo pela introdução do piano seguida da voz ciciada de Teté Alhinho, a ganhar corpo no evoluir da histórica morna. Há uma brisa tépida das noites de São Vicente que se solta deste disco, uma brisa antiga a que Teté Alhinho sabe dar alma e volúpia, à sua exacta medida. Depois do notável Voz (2002), Mornas ao Piano (que só conseguiu edição por crowdfunding) é, no concretizar de um velho sonho, um grande disco de uma voz expressiva e encantadora. Ouçam Mindel de mãe Auta, Lua bonita ou Novo amanhecer e compreenderão o que isso significa.