Mais de 11.500 alunos frequentam cursos superiores profissionais

Cursos duram dois anos e a sua oferta nos politécnicos não pára de crescer. Estudantes que vêm do ensino profissional são o principal público, mas há quem os procure para fazer reciclagem de conhecimentos.

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No primeiro ano de actividade destes cursos, as instituições privadas mostraram maior interesse nestas formações do que as públicas Adriano Miranda

Três anos depois de terem surgido como uma novidade no ensino superior, os cursos técnicos superiores profissionais (Tesp) são frequentados por mais de 11.500 alunos. Cerca de 80% destes alunos frequentam instituições públicas. Estas novas formações de dois anos, leccionadas em exclusivo nos politécnicos, já têm mais inscritos do que os Cursos de Especialização Tecnológica (CET), que foram os seus antecessores.

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Três anos depois de terem surgido como uma novidade no ensino superior, os cursos técnicos superiores profissionais (Tesp) são frequentados por mais de 11.500 alunos. Cerca de 80% destes alunos frequentam instituições públicas. Estas novas formações de dois anos, leccionadas em exclusivo nos politécnicos, já têm mais inscritos do que os Cursos de Especialização Tecnológica (CET), que foram os seus antecessores.

No total, só no ensino público 9192 frequentam os Tesp nos dois anos de duração destas formações, revela o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos (CCISP). No sector privado não existem dados acerca do total dos alunos que frequentam estes cursos, mas sabendo-se que entraram, nos últimos dois anos 1018 e 1293 novos alunos, respectivamente, pode estimar-se em cerca de 2300 o total de alunos que frequentarão estes cursos nas instituições particulares. Ou seja, o total dos alunos que frequentam estes cursos será superior a 11.500 neste momento.

Estes números referem-se apenas aos alunos que frequentam os Tesp. Se for considerado o total dos que se inscreveram até agora, mas que inclui ainda os que desistiram entretanto e já não frequentam estes cursos (cerca de 1400), percebe-se que a procura pelos Tesp foi ainda mais acentuada nos dois últimos anos lectivos.

Aumentar

De acordo com dados disponibilizados ao PÚBLICO pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), em 2015/16 inscreveram-se 6149 novos alunos e neste ano lectivo a tendência mantém-se: houve 6832 estudantes a entrar nestes cursos. Isto depois de os Tesp terem tido um arranque a meio-gás em 2014/15 com apenas 395 alunos inscritos.

Estes números aproximam-se da estimativa apresentada pelo anterior Governo, segundo o qual estes cursos podiam formar cerca de 10.000 novos diplomados por ano, ajudando o país a cumprir a meta europeia de ter 40% da população entre os 30 e os 34 anos com uma formação superior até 2020. O contrato estabelecido pelo actual Governo com as instituições de ensino superior prevê, porém, uma meta mais ambiciosa: dentro de três anos devem ser 20.000 os alunos formados por ano nos cursos superiores profissionais.

Reconhecidos como formação superior

O que é facto é que, em três anos, estes cursos já ultrapassaram o nível de procura dos CET, criados em 2006. Em 2013, 7000 alunos frequentavam Cursos de Especialização Tecnológica. Tanto os cursos Tesp como os CET estão previstos no quadro europeu de qualificações que saiu do processo de Bolonha. No entanto, enquanto os CET estão classificados com o nível 4, os cursos técnicos superiores profissionais têm o nível 5. São por isso reconhecidos como formações de ensino superior.

“A clarificação de que estes eram cursos superiores foi importante”, valoriza o presidente do CCISP, Nuno Mangas, reconhecendo que este facto tem contribuído para a procura crescente que estes cursos têm tido. “Têm outro reconhecimento”, sublinha. Ao mesmo tempo, os cursos técnicos “vieram dar a possibilidade aos alunos que estão no profissional de ir para o superior”, sublinha o mesmo responsável.

Quando Rúben Pires, de 24 anos, terminou a formação em mecatrónica automóvel no Centro de Formação Profissional de Abrantes, “queria continuar a estudar”. Lembrou-se de uma visita que tinha feito, ainda no 9.º ano, ao Instituto Politécnico de Leiria – “tinham excelentes condições e já eram relevantes no ramo automóvel”, recorda o estudante nascido na Sertã – e decidiu inscrever-se no curso de Tecnologia Automóvel.

Foi um dos pioneiros daquele curso, no ano lectivo 2015/16. Há um mês e meio, começou o estágio curricular no Centro Porsche de Leiria, onde trabalha na área de logística. Vai estar por lá seis meses, período que é obrigatório no currículo de todos os cursos Tesp. Esta é também a principal mais-valia que a tutela e as instituições do sector reconhecem nestes cursos. “Não estava à espera de já ter aprendido tanto em tão pouco tempo”, conta ao PÚBLICO em jeito de avaliação da experiência.

Maioria vem do ensino secundário profissional

Os cursos técnicos foram criados com o principal objectivo de dar uma resposta do ensino superior a alunos como Rúben Pires, que terminaram o ensino secundário num curso profissional e a àqueles aos quais o acesso a uma licenciatura é mais difícil – sobretudo porque nem sempre têm formação a disciplinas específicas exigidas por alguns cursos. Ainda que, ao contrário do que acontece com licenciaturas e mestrados, existam ainda poucos dados estatísticos que permitam traçar um retrato destes alunos, este é o principal público destas formações, segundo as instituições de ensino superior.

No entanto, desde que estes cursos foram criados que tem emergido uma outra tendência: a procura por parte pessoas com formações anteriores noutras áreas. Este é um público que procura fazer reciclagem de conhecimentos ou reposicionar-se em termos de carreira e que vê numa formação superior com um carácter eminentemente prático uma oportunidade de contacto com o mercado de trabalho.

Foi nisto que pensou Carla Freitas, 36 anos, licenciada em gestão de empresas pelo Instituto Politécnico de Bragança, quando decidiu inscrever-se num curso técnico do Instituto Politécnico do Cávado e Ave – uma instituição sediada em Barcelos, mas que decidiu criar oferta nestes cursos nos concelhos vizinhos de Braga e Guimarães.

Carla frequenta o curso de Exportação e Logística, uma área que a interessava “desde sempre”. “Eu queria uma formação de nível superior que tivesse uma componente teórica e uma componente prática, que aqui nos é conferida pelo estágio”, justifica. 

Hoje, está em estágio numa empresa têxtil da região, tratando de questões aduaneiras para a exportação e já se vê a trabalhar na área quando terminar a formação, dentro de quatro meses. “É deste tipo de sinergias entre o ensino superior e as empresas de que o país precisa”, defende.

No primeiro ano de actividade destes cursos, as instituições privadas mostraram maior interesse nos novos cursos do que as públicas. Em 2014, a Direcção-Geral do Ensino Superior (DGES) recebeu 138 pedidos de criação de cursos técnicos superiores profissionais e menos de um terço era de instituições públicas. O rácio inverteu-se neste ano lectivo. Dos 598 cursos aprovados actualmente, 430 (72%) são de instituições públicas.

Ainda assim, os cursos técnicos são vistos como uma mais-valia pelo sector privado. “A oferta provou a sua relevância e pertinência”, classifica o secretário-geral da Associação Portuguesa de Ensino Superior Privado (APESP), Miguel Copetto. O volume “assinalável” de procura por parte dos alunos e o “forte envolvimento” das empresas no desenho dos novos cursos são os dois factores mais valorizados por este responsável.

Contudo, nem tudo corre bem, defende a APESP. Desde logo, o processo de autorização de funcionamento dos cursos, da responsabilidade da DGES (ver caixa) tem sido “excepcionalmente moroso”. “Nomeadamente na área da saúde, mais de três anos passados, algumas das entidades que por lei têm de se pronunciar sobre a aprovação dos cursos ainda não o fizeram”, explica.