Estudantes alertam que entre 200 a 700 médicos podem ficar sem especialidade

No ano passado só existiram 1700 vagas e neste ano o número de médicos candidatos pode ultrapassar os 2400.

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Alunos à saída do exame Harrison, na Escola Superior de Tecnologia de Saúde de Lisboa, em Novembro Direitos Reservados

As listas provisórias das classificações que os médicos obtiveram no exame que dá acesso ao concurso para escolherem uma especialidade já saíram e a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) antecipa que muitos clínicos vão ficar de fora, engrossando a lista de “indiferenciados” – nome que é dado aos médicos que não completaram nenhuma especialidade. No total há 2477 candidatos e, segundo a presidente da ANEM, Rita Ramalho, no ano passado só houve 1700 vagas.

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As listas provisórias das classificações que os médicos obtiveram no exame que dá acesso ao concurso para escolherem uma especialidade já saíram e a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) antecipa que muitos clínicos vão ficar de fora, engrossando a lista de “indiferenciados” – nome que é dado aos médicos que não completaram nenhuma especialidade. No total há 2477 candidatos e, segundo a presidente da ANEM, Rita Ramalho, no ano passado só houve 1700 vagas.

Tendo em conta o histórico de desistências, mesmo que vários médicos optem por não concorrer, a ANEM antecipa que “entre 200 e 700 médicos possam ficar sem uma vaga, assumindo que o mapa se mantém próximo do ano passado”. Só em Junho, altura em que arranca o concurso, é que a Ordem dos Médicos anunciará o número de vagas, depois de concluir o processo de identificação da capacidade de formação em hospitais e centros de saúde.  

“Não sabemos qual vai ser o mapa de vagas que irá existir, mas no ano passado já houve um grande esforço por parte da Ordem dos Médicos para maximizar o número de vagas e mesmo assim o valor ficou nas 1700”, explicou ao PÚBLICO a presidente da ANEM, a propósito do concurso que vai decorrer em Junho.

Rita Ramalho reconhece que o número de 2477 candidatos costuma descer bastante, a começar pelo facto de muitos dos médicos terem feito o exame, mas já com o objectivo de emigrar e fazer a formação que falta no estrangeiro. “Outros desvinculam-se do concurso porque não estão satisfeitos com a classificação que tiveram e como sabem que aquela nota não lhes permitirá uma vaga na especialidade que querem preferem repetir o exame”, adiantou.

“Recordo que no ano passado, a propósito das 1700 vagas, o termo que a própria Ordem dos Médicos utilizou é de que já estava a maximizar as vagas, pelo que não devem aumentar este ano”, acrescentou.

"Geração de médicos indiferenciados"

Em 2015, pela primeira vez, ficaram cerca de 100 pessoas de fora do concurso de acesso a uma vaga para a formação específica. Em Junho do ano passado foram 158. Rita Ramalho lamenta que os alertas que a ANEM tem vindo a fazer sobre esta “geração de médicos indiferenciados” ainda não tenha surtido efeitos. E lembra que os estudantes de medicina já quase há dois anos que entregaram ao Governo uma proposta que previa reduzir de 1800 para 1300 o número de alunos nestes cursos, num prazo de cinco anos. A mesma preocupação tem sido manifestada tanto pela Ordem dos Médicos como pelos sindicatos que representam a classe.

A presidente da ANEM assegura que a preocupação com os médicos que não têm vaga numa especialidade não é apenas corporativa. Muitos destes clínicos acabam por ficar a trabalhar como tarefeiros, contratados à peça. O trabalho mais comum é nos serviços de urgência. “Isso não é uma condição que dignifique o Serviço Nacional de Saúde e a questão dos médicos indiferenciados deve ser uma preocupação da população portuguesa”, defendeu.

Para Rita Ramalho esta não é, contudo, a única preocupação do momento para os estudantes de medicina. A chamada Prova de Seriação Nacional que dá acesso a este concurso para a especialidade é o temido exame conhecido como Harrison. “O Harrison é um modelo gasto que já não cumpre os fins a que se destinava quando surgiu há 40 anos. Hoje o papel do médico é muito diferente”, insiste a representante da ANEM, lembrando que já foi criada uma comissão que propôs outro modelo de exame para vigorar a partir de 2018.

O problema é que ainda não é certo de que esteja tudo a postos para a alteração acontecer. “Acreditamos que caso a proposta seja aplicada que vai resultar numa prova mais justa. Queremos que a prova seja implementada nas melhores condições possíveis, mas também precisamos de saber com o que vamos contar”, explica Rita Ramalho, que lembra que os estudantes querem um prazo de pelo menos 18 meses para conhecer a nova matriz, o que implicaria ter uma decisão até Maio ou Junho. O PÚBLICO questionou o Ministério da Saúde sobre este assunto, mas não obteve resposta.