Quem são os cuidadores informais em Portugal?

Segundo o cenário divulgado esta semana pelo INE, apenas daqui a 40 anos teremos estabilização do envelhecimento demográfico. Hoje em dia, grande parte dos cuidados a idosos é assegurado por cuidadores informais, na sua maioria mulheres, entre as quais se destaca o papel das esposas e filhas/noras.

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“(…) Houve uma altura que coloquei à minha sogra a questão de a pôr num lar. Ela começou a chorar, a dizer que não queria ir. Assumi olhar por ela e nunca mais lhe falei no assunto!”

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“(…) Houve uma altura que coloquei à minha sogra a questão de a pôr num lar. Ela começou a chorar, a dizer que não queria ir. Assumi olhar por ela e nunca mais lhe falei no assunto!”

A., 51 anos

As pessoas idosas tentam permanecer em casa o máximo de tempo possível e gerir a sua vida de forma independente. Contudo, apesar de se tentar garantir uma velhice mais activa e saudável, viver mais poderá conduzir a períodos de maior fragilidade e incapacidade levando à necessidade de apoio. Desta forma, os cuidados assegurados em contexto domiciliário são frequentemente suportados por prestadores de cuidados informais, ou seja, pessoas que não são remuneradas para cuidar de alguém.

Em Portugal, assim como em toda a Europa, existe uma tendência para que estes cuidados sejam assegurados por mulheres. Esta tendência foi constatada pelo relatório do projecto Eurofamcare (2004) que, entre outros aspectos, traçou o perfil de cuidadores informais de pessoas idosas de Portugal. De acordo com este relatório, os cuidadores informais são maioritariamente familiares da pessoa de quem cuidam (nomeadamente esposas ou filhas/noras); têm idades entre os 45 e os 55 anos (no caso de filhas/noras), ou 65 anos ou mais (no caso de esposas); residem com a pessoa de quem cuidam; apresentam baixa escolaridade; prestam cuidados durante quatro ou mais horas; auferem, potencialmente, baixos rendimentos.

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Este perfil pode ser mais explorado em alguns projectos comunitários como, por exemplo, o Cuidar em Casa (município de Guimarães) e Aprender a Cuidar (Lisboa), especificamente dirigidos para cuidadores informais de pessoas idosas, e ainda em outros projectos que incluem cuidadores informais mas de acordo com a patologia da pessoa de quem cuidam, como por exemplo Cuidar de Quem Cuida I (região de Entre Douro e Vouga), Cuidar de Quem Cuida II (área metropolitana do Porto), Juntos no Cuidar (município de Lagoa, Faro), ProFamílias (Aveiro) e mais recentemente o projeto CuiDem (área de influência da ARS Norte).

As tarefas asseguradas pelos cuidadores informais podem variar das mais simples (supervisão) às mais complexas (higiene pessoal) e variar na frequência (diariamente, aos fins-de-semana, etc.), periodicidade (tempo parcial vs. tempo integral), duração (meses ou anos) e intensidade (grau de dependência de quem é cuidado). Por esta razão, os cuidadores informais, de forma global, e especificamente os cuidadores informais de pessoas idosas, enfrentam no seu dia-a-dia enormes desafios quer do ponto de vista físico quer emocional, configurando-se uma experiência simultânea de emoções positivas e negativas.

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Em algumas situações, as repercussões negativas podem evoluir para um quadro denominado por sobrecarga, que é entendido como um estado psicológico resultado da combinação do esforço físico, da pressão emocional, das limitações sociais e das exigências económicas que surgem ao cuidar de uma pessoa com dependência. Depoimentos como os que se seguem reforçam este retrato:

 “Sinto-me um pouco cansada, já bastante cansada e precisava de ter umas férias, mas olhando a que não posso…”

A., 51 anos

“Porque eu precisava de descansar, aliviar a minha cabeça, precisava de estar com a família, sozinhos, nós os quatro…” (…) “e então a questão financeira, ter de pagar tudo, andar a pagar, uma reforma muito mínima, ajudas nenhumas.”

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A.P., 39 anos

Nestes casos, o cuidador informal deverá adoptar estratégias para lidar com a sobrecarga, nomeadamente:

  1. Substituir pensamentos negativos e pessimistas por pensamentos realistas e positivos;
  2. Usar o humor para lidar com situações adversas;
  3. Aprender a relaxar e recorrer ao relaxamento em situações de stress;
  4. Treinar uma respiração mais adequada (inspirar e expirar calmamente) para ajudar no autocontrolo;
  5. Procurar alguém da rede relacional para partilhar as emoções e inquietações;
  6. Recorrer a uma comunicação simples e assertiva, manifestando os sentimentos intenções;
  7. Solicitar a ajuda de um psicólogo e psiquiatra sempre que necessitar.

Os desafios inerentes à prestação de cuidados podem traduzir-se em impactos directos na saúde do cuidador. Por esta razão, quando alguém se vê confrontado com a necessidade de se tornar cuidador informal, deverá adoptar medidas de promoção de saúde, o que implica naturalmente a aquisição de novas estratégias para o dia-a-dia, o que facilitará não só a tarefa da prestação de cuidados, mas também a adaptação ao novo papel.

O que fazer?

  • Procurar mais informação para melhor saber lidar e de forma eficaz com as tarefas relativas ao cuidar (recorrer ao centro de saúde, projectos locais, material informativo como folhetos, brochuras, manuais);
  • Disponibilizar tempo para si próprio e para o autocuidado;
  • Reforçar as suas redes sociais (família e amigos);
  • Distribuir algumas tarefas por pessoas que também estão próximas da pessoa cuidada;
  • Planificar o trabalho e a vida familiar;
  • Definir períodos de descanso e lazer;
  • Verbalizar os sentimentos e emoções que possam surgir; 
  • Recorrer a apoio emocional, junto de técnicos especializados ou de grupos de ajuda mútua.