A ciência e o rigor
Portugal é o 11.º país da Europa em termos de publicações de artigos científicos por milhão de habitantes. É um excelente resultado, fruto da melhoria consistente da produção científica na última década.
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Portugal é o 11.º país da Europa em termos de publicações de artigos científicos por milhão de habitantes. É um excelente resultado, fruto da melhoria consistente da produção científica na última década.
Tendo especialmente em conta que se tratam de estatísticas de ciência, convém olhar para os números de forma analítica e rigorosa, evitando leituras políticas fáceis e pouco objectivas. O crescimento entre 2005 e 2015 foi estável e deve-se em primeiro lugar à melhoria da qualidade do ensino e dos investigadores, a que se junta também o aumento da exposição da ciência portuguesa ao estrangeiro – quer através da presença de investigadores portugueses nos países mais desenvolvidos quer através da presença de outras nacionalidades nos laboratórios de investigação nacionais.
Seria sensato não politizar demasiado estes números, como infelizmente é habitual cá no burgo e se verifica na entrevista do ministro da Ciência ao público (ver pág. 3). Afirmar que estes resultados se devem à política de um determinado governo é menorizar os cientistas e o esforço que se tem verificado nas últimas décadas para o aumento da literacia. E é preciso recordar que este salto nas estatísticas só é tão grande porque o atraso era enorme, fruto da imensa piscina de ignorância em que estivemos colectivamente mergulhados durante o século XX.
A outra consequência de insistir na politização deste tipo de estatísticas é a recusa em estabelecer pactos de regime que ofereçam estabilidade e coerência ao ensino e à ciência, o que contribui muito para a inconsistência do sector. Mais do que homens e políticas providenciais, o país precisa de opções de fundo estáveis que permitam maleabilidade nas carreiras estudantis e na investigação.
Porque ainda está muito por fazer e o essencial, aliás, ainda não aconteceu: a investigação científica portuguesa faz-se em grande medida ao arrepio das necessidades da indústria e da economia e às vezes em contraciclo com ela. Isso limita a utilidade prática da ciência para gerar valor para o país, que é um indicador essencial para o progresso conjunto e também individual. Se um investigador não tem acesso a uma carreira privada, está obrigado a manter-se no ciclo instável da subsidiodependência governamental. E se a ciência não dialoga com a economia e não conhece antecipadamente as prioridades estruturais, obriga o país a importar conhecimento, tornando irrelevantes os investimentos feitos e progressos como este.