Elida Almeida: “Tudo o que acontece ao meu redor, transcrevo em forma de música”
Cantora cabo-verdiana lança aos 24 anos o seu segundo disco. Djunta Kudjer é apresentado este sábado no Porto, no Hard Club, e dia 6 em Lisboa, no Tivoli BBVA.
Elida Almeida já não é propriamente uma desconhecida em Portugal. O seu disco de estreia, Ora Doci Ora Margos, lançado em 2014, teve bons ecos da crítica e impulsionou-a com sucesso para uma carreira internacional. Agora ela está de volta para apresentar um EP com seis temas, Djunta Kudjer, que pretende ser um chamariz para novo álbum a editar até ao final do ano. Este sábado, vai apresentá-lo ao vivo no Hard Club, Porto, e no dia 6 estará em Lisboa, no Tivoli BBVA, sempre às 21h30. E actuará noutros palcos: França, Bélgica, Alemanha, Holanda, Luxemburgo.
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Elida Almeida já não é propriamente uma desconhecida em Portugal. O seu disco de estreia, Ora Doci Ora Margos, lançado em 2014, teve bons ecos da crítica e impulsionou-a com sucesso para uma carreira internacional. Agora ela está de volta para apresentar um EP com seis temas, Djunta Kudjer, que pretende ser um chamariz para novo álbum a editar até ao final do ano. Este sábado, vai apresentá-lo ao vivo no Hard Club, Porto, e no dia 6 estará em Lisboa, no Tivoli BBVA, sempre às 21h30. E actuará noutros palcos: França, Bélgica, Alemanha, Holanda, Luxemburgo.
Nascida a 15 de Fevereiro de 1993 em Cabo Verde, na cidade de Pedra Badejo, Santa Cruz, ilha de Santiago, Elida Almeida aposta agora numa maior divulgação da tabanka, género musical cabo-verdiano menos conhecido internacionalmente do que a morna ou a coladeira. “Sou de Pedra Badejo, a cidade onde nasceu a tabanka, e sempre vivi as festas locais desde muito nova. É um estilo muito dançante, muito festivo, que ainda não é conhecido por muita gente.” Daí que, no tema de abertura do EP, Bersu d’oru, ela cite nomes de músicos ligados não só à tabanka como ao funaná, como Sema Lopi (1914-2013), Nácia Gomi (1925-2011) e Katchás (1952-1988). “Temos músicos que já gravaram tabanka (como o batuco, o funaná e o finaçon) e neste disco eu estou a dar continuidade a isso, para que o meu público conheça melhor este nosso estilo.”
Rádio a pilhas e batuco
A morte prematura do pai obrigou-a a mudar-se, com a mãe, para a ilha do Maio. Mas o seu gosto pela música é anterior a essa mudança: “Eu cresci no interior da ilha de Santiago, num lugar onde até hoje não há electricidade, então a nossa única diversão era a rádio a pilhas. Foi daí que começou o meu contacto com a música. Da ilha de Santiago, mas também internacional, de África, do Brasil. No final do dia, como não tínhamos lazeres, improvisávamos: eu, os meus primos, os vizinhos, cantávamos batuco, que não precisa de instrumentos, basta a nossa perna.”
Na ilha do Maio colaborou num programa radiofónico e num coro de igreja. “Isso estreitou ainda mais o meu contacto com a música.” Mas foi no regresso à sua ilha que se tornou compositora: “Passei por muita coisa na minha vida. Engravidei precocemente, já tinha perdido o meu pai e a minha vida ficou de cabeça para baixo. Tinha regressado à ilha de Santiago para concluir o terceiro ciclo escolar, conheci uns amigos que tocavam guitarra, comecei a cantar com eles.” Na escola, a sua voz também se tornou notada. “Nas visitas de estudo era eu que cantava.” Mas ser mãe e ter de tomar conta dos irmãos enquanto estudava dia e noite foi pesado, e compor era o seu escape. “Escrever era uma forma de desempatar tudo o que eu tinha na cabeça. Isso tudo veio dali.”
Um disco autobiográfico
O seu primeiro disco, Ora Doci Ora Margos (ora doce ora amargo), retrata essas experiências. “É um disco autobiográfico, é a minha vida que está ali dentro. Tenho músicas que falam da minha mãe, do meu irmão, do meu sonho de casamento, do que foi a minha vida até agora, amarga e doce. O disco resume a minha vida e as pessoas podem conhecê-la através daquelas músicas.”
As suas novas canções mantêm uma componente social forte, agora mais virada para o que existe em seu redor. Por exemplo: “O Forti dor fala de uma mãe que perdeu o seu filho nas guerras de grupos rivais. E isso vai acontecendo muito em Cabo Verde, mesmo ultimamente. Há vidas de 19, 20, 25 anos que se perdem por nada. É um dos flagelos que atingem o país neste momento e para o qual eu quis chamar a atenção: das pessoas, das autoridades, dos próprios jovens.”
Este olhar crítico está também presente nos outros temas do disco, reconhece Elida Almeida: “Continuo a apostar fortemente nas minhas composições, a ter o meu povo como referência, como inspiração. Tudo o que acontece ao meu redor, aos meus vizinhos, aos meus amigos, aos meus familiares, eu transcrevo em forma de música. Por exemplo, o Discriminason, que não é de minha autoria [é de Jorge Tavares Silva, música e letra], também fala do dia-a-dia, de quando uma pessoa assume determinada cor partidária, outra cor ganha as eleições, e essa pessoa passa a ser discriminada. Ora uma pessoa deve ser livre de poder assumir isso sem discriminação.”
Nestes espectáculos, Elida Almeida (voz) terá consigo um quarteto: Hernani Almeida (guitarra e direcção musical), Diego Gomes (teclados), Nelly Cruz (baixo) e Magik Santiago (bateria).